quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Ideias firmes


Minuto 31: Soares lesiona-se, olha-se para o banco e sobra uma única solução para o ataque - Marega. O que fazer? O mais natural - leia-se, o que a maioria dos treinadores possivelmente faria - talvez teria sido lançar Otávio, recuperar o plano B da pré-época e colocá-lo nas costas de Aboubakar. Que fez Sérgio Conceição? Deu a maior prova da existência de um coletivo e de uma ideia de jogos fortes.

Sérgio Conceição não rasgou os planos da equipa por causa de um jogador. Lesionou-se um avançado, lançou o único que restava. Desde o minuto em que Marega entrou em campo, não se cansou de berrar e de dar indicações sobre a função que tinha que fazer - jogar sobre a meia direita do ataque, o que Soares estava a fazer. O que estava em causa não era o jogador em campo: era a função do atleta naquela posição. 

A equipa manteve a identidade e os valores em que passou a acreditar durante a pré-época - e Sérgio Conceição fê-lo mesmo recorrendo a um jogador que, sejamos francos, só foi integrado nos trabalhos de pré-época perante a inexistência de reforços. Assim se demonstra que a equipa está criada: agora só falta saber quem são os jogadores. Não houve Soares, houve Marega. Houve FC Porto.





Serviço de bandeja (+) - Aboubakar rematou nove vezes. A história da eficácia não foi a melhor para contar, mas destaca-se isto: oito desses remates aconteceram na grande área. Que diz isto? Que as bolas chegam à grande área, onde até um ponta-de-lança como Aboubakar, que não é particularmente forte no jogo aéreo, encontra oportunidades para atirar à baliza. Aboubakar esteve mais tempo longe da grande área, mas perante o caudal ofensivo da equipa, Brahimi, Óliver e companhia tiveram sempre gente na grande área, pronta para rematar. O 3x0 é também um bom exemplo disso, em que até Marega conseguiu encontrar o seu espaço para fazer um bom golo. E mesmo com Sérgio Conceição a apostar em Soares/Marega para jogarem no lado direito, mais longe da grande área, nunca faltou presença na grande área. Jogando assim, há-de sempre haver uma bola que acaba lá dentro, seja como for. 

Brahimi (+) - Isto de ter Brahimi logo à primeira jornada parece mesmo ser boa ideia. Nem sempre bem sucedido no drible e nas incursões pelo meio, mas foi sempre o principal agitador do FC Porto, não deixando nunca de ser solicitado na construção da equipa - prova disso é que fez mais passes do que o próprio Danilo Pereira, que em 2016-17 era quase sempre o elemento com mais passes da equipa. Fez um golo, criou várias jogadas de perigo e mostrou que o seu talento não ter que ser refém de disciplina tática num esquema com dois avançados. Ele e Conceição.

Óliver Torres (+) - Depois de uma época em que Óliver esteve sempre longe de zonas de decisão, arranca com duas assistências e não se intimidou nesta nova função, que o deixa mais «exposto» no meio-campo. O jogo passa sempre por ele e com ele há sempre uma solução, como uma bússola que mete tudo a funcionar à sua volta. Está lançado para uma boa época.


Iván Marcano (+) - Não houve muito para fazer na defesa (ainda que Iker não deixasse de ter oportunidade para brilhar), mas o que houve Marcano resolveu sem problemas. Só perdeu um lance em toda a partida, sem consequências, e distinguiu-se naquele clássico que inquieta sempre os adeptos do FC Porto: a quantidade de vezes em que vemos o central bater diretamente para a frente. Neste caso, também foi bem sucedido neste capítulo, e ainda foi ao ataque marcar um golo que poderia ter tido o mesmo desfecho de tantos outros no passado - anulado injustamente. Ah. E não é nada pessoal, Iván, mas a braçadeira de capitão do FC Porto combina sempre bem com alguém que partiu ou rachou alguma coisa. À Porto.





A primeira meia hora (-) - O primeiro jogo da épooca é sempre sinónimo de ansiedade e decisões percepitadas. A equipa entrou a querer fazer tudo rápido e tudo bem, e isso traduziu-se em 30 minutos sem lances de perigo, para além de uma ou duas tentativas de Aboubakar (o golo de calcanhar seria de antologia...). Muitos passes errados, cruzamentos mal tirados e alguma confusão na movimentação dos colegas. Erros normais para uma 1.ª jornada, diga-se, mas que têm que ser trabalhados e corrigidos no curto prazo, pois nem todas as equipas serão tão amorfas como este Estoril e nem sempre poderemos contar com um Mano para ajudar. 

Um pequeno pormenor (-) - Por certo já viram muitas vezes um treinador mudar de ideias quanto a uma substituição após haver um golo. Neste caso, vimos Hugo Miguel expor-se ao ridículo de validar uma substituição no FC Porto e só depois recorrer ao VAR para validar o golo de Marcano. Imaginem que estava 0x0, Sérgio Conceição tirava um central para lançar um avançado, e logo a seguir concluía-se que afinal o FC Porto tinha acabado de fazer o 1x0? Absurdo.

Estreia a vencer, goleada, primeiro lugar e uma ideia clara de que temos equipa. Mas se ninguém quiser voltar a cometer os erros de 2013-14, cujo início de época quase justificava um apedrejamento a AVB por ter dispensado Licá da Académica, não custa nada lembrar: faltam reforços. E importa reafirmá-lo agora, pois a partir da 5ª jornada será inútil dizê-lo.

11 comentários:

  1. Duas notas. A primeira é que o Licá foi contratado em 2013/14 pelo Paulo Fonseca e apenas foi emprestado no ano seguinte quando já cá estava o Lopetegui.
    A segunda é que se foi fácil críticar o Marega no post anterior sobre o plantel do Porto, também deveria ser igualmente fácil elogia-lo com um mais neste. Foi ele que desbloqueou o jogo ao aproveitar o erro do adversário. E não foi só neste lance que ele esteve bem. Valeu dois golos e mais umas dores de cabeça ao lateral esquerdo do Estoril.

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    1. Refere á dispensa de Licá quando AVB estava em coimbra.

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    2. Concordo, não acho que seja de bom gosto descriminar o Marega. Independentemente das suas debilidades, no jogo com o Estoril, ele este muito bem.

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  2. "nem sempre poderemos contar com um Mano para ajudar." --- ri-me muito!

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  3. Aboubakar não é um grande finalizador, mas é um enormíssimo avançado, as suas movimentações são de grande nível (apanhou um bom treinador no Lorient) e tabela sempre bem com os colegas, ao contrário de Marega que fez dois golos fáceis, mas também se destacou pela parte física e no amasso que dá ás defesas, com a bola nos pés e quando tem de decidir é péssimo. Oliver a ser Oliver, a sério que o renegamos para o banco a época passada ?! Brahimi a ser a par de Jonas o melhor jogador do campeonato e só com ele e Oliver podemos ambicionar ao título.
    Queria fazer uma nota aos nossos laterais, são de facto muito forte fisicamente, fartam-se de carrilar pelos corredores, mas primeiro que acertem um cruzamento é uma eternidade, Alex foi só no fim da partida e Ricardo não me lembro de um jeito, nisto Maxi e Layun são melhores, mas compreendo a opção pelos primeiros por parte do treinador.
    Danilo, Corona e Filipe menos bem, ainda que com alguns bons lances, mas necessitam de retomar a forma.
    Hernani foi o pior de todos, alguém que arranje um extremo por favor

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    1. Ricardo acertou pelo menos em foi cruzamentos nos primeiros 30 minutos. Um diga-se teria sido já, à jornada 1, o melhor golo do campeonato após golo do Abo (anulado)

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  4. concordo.Apareceram os ,mesmos erros das epocas passadas, lentidao, passes para aqui e ali, falta de intensidade, o porto precisa claramente de 2 jogadores mesmo bons para o meio campo que sejam fortes fisicamente, rapidos e bons tecncamente, a sorte do jogo apareceu na altura certa e depois as coisas começaram a rolar, FOI A FORÇA FISICA DOS AVANÇADOS QUE DESTRUIU O ESTORIL, mais uma prova que jogadores baixinhos ou sao de uma tecnica acima da media ou e preferivel jogadores menos tecnicos mas fortes e rapidos. Oliver enquanto as marcaçoes e a pressao estiveram em alta no estoril nada fez como e costume, corona nao e jogador a serio, e hernani falta lhe muita coisa, despachar corona, layun, hernani, teixeira, se possivel andre2, e mais um ou dois porque nao tem intensidade, nao marcam, so atrapalham. Em relaçao ao video arbitro funcionou, atrasado no golo de marcano mas funcionou se nao houvesse video arbitro era mais um goolo anulado por um bandeirinha que agora terao de ter muito mais cuidado ou estao tramados, tambem e natural que se comessem a defender instintivamente porque sabem que existe para alem deles mais alguem a decidir e se nao forem penalizados pelas mas decisoes acabarao por relaxar.

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  5. Boas...

    Parece-me que este primeiro jogo no Dragão trouxe coisas boas à vista. A equipa parece estar mais perto de marcar, ao contrário do que acontecia o ano passado. Claro que, por outro lado, teremos de estar necessariamente também um pouco mais expostos na defesa, mas isso é um facto e eu prefiro ver a equipa desta maneira, do que a maneira mais à NES. São opções.

    Penso que o ponto mais grave é que a equipa precisaria de reforços. Um médio e um avançado, pelo menos. Tenho imensas dificuldades em entender como é que os avançados e o Oliver vão conseguir aguentar a época toda. E claro, temos de perceber como é que a equipa se comportará com adversários mais fortes e em terrenos mais apertados.

    Até agora gostei do que vi. Oliver em grande plano, Brahimi irreverente e gostei em especial a qualidade de passes longos do Filipe.

    Azul e branco é o coração..

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.