O FC Porto não tem grande tradição em repescar jogadores no mercado de inverno. Quem está emprestado, por norma, termina a época longe do Dragão. Kelvin, por exemplo, voltou ao FC Porto em 2017 para jogar 21 minutos na I Liga e Hélder Barbosa interrompeu a sua evolução na Académica, em 2008, para jogar pouco mais no regresso ao Dragão.
Mas quando não há disponibilidade para investir e há o fair-play financeiro da UEFA à perna, algo que limita o FC Porto a empréstimos ou oportunidades muito específicas de negócio, há que olhar para dentro. E subitamente, com a Taça da Liga, o nome de Gonçalo Paciência regressou ao debate portista, agora que está finalmente a fazer a primeira época consistente na carreira sénior.
Em 2014-15, Lopetegui quis que Gonçalo ficasse no plantel para a segunda metade da época, mas revelou-se um erro, pois acabou por não haver espaço para que fosse aposta. Seguiu-se o empréstimo a uma Académica medíocre, com um plantel fraco e mau futebol. Difícil esperar que Gonçalo fosse o milagreiro no meio daquele caos.
A cedência ao Olympiacos revelou-se uma solução ainda pior. Ainda que tenha sido uma solução encontrada por quem o representa - a ProEleven -, o clube grego iria, logicamente, tentar rentabilizar os seus próprios ativos em vez de dar minutos a um jogador emprestado, que chegava ao clube por intermédio do seu representante. Felizmente, a cedência foi interrompida em dezembro. Entre o fantasma das lesões e da falta de minutos, Gonçalo chegou ao Rio Ave, mas na altura o plantel vila-condense já estava formado e só encontrou protagonismo como suplente utilizado.
No Vitória de Setúbal, enfim, Gonçalo Paciência tem finalmente o espaço desejado. E tem também números para acompanhar o seu rendimento: 11 golos e 6 assistências. A questão é: faria sentido o FC Porto promover o seu regresso se não fosse para jogar? Agora que Gonçalo está finalmente a jogar com continuidade, deveria o clube correr o risco de o fazer regressar para, depois, talvez ser a última opção da linha para o ataque?
Tudo passa, naturalmente, pela vontade de Sérgio Conceição. Mas olhando aos jogadores já recrutados no mercado de inverno - Paulinho e Waris -, ambos servem os propósitos já ensaiados no 4x4x2: avançados a jogar em profundidade. Ora, Gonçalo Paciência não pode ocupar essa função. Não é jogador para ganhar metros nas costas da defesa. É muito forte fisicamente, não deve muito nesse âmbito a Aboubakar ou Marega, mas não tem a velocidade e a capacidade de comer metros no último terço que os avançados africanos do FC Porto têm.
Então, o que poderia acrescentar Gonçalo Paciência ao FC Porto?
Desde logo, a capacidade individual que, muitas vezes, se resume a Brahimi no ataque do FC Porto. Gonçalo Paciência é o 3º principal driblador do Campeonato, neste momento só atrás de Brahimi e Gelson Martins. Gonçalo tem 36 dribles eficazes na Liga - Marega e Aboubakar, juntos, têm 38.
Há que ter em conta que o Vit. Setúbal é uma das 5 equipas que menos tempo tem a bola em seu poder no Campeonato. Logo, cada ação de Gonçalo com bola tem valor acrescido nesse aspecto. Por exemplo, na quantidade de faltas que consegue arrancar: já leva 57 no Campeonato, mais do que o jogador mais castigado do plantel do FC Porto, Brahimi, com 51. O mesmo é dizer que Gonçalo Paciência sofre mais faltas do que Marega e Aboubakar juntos (53). Numa equipa como o FC Porto, que sobretudo nos grandes jogos depende bastante das bolas paradas para chegar ao golo, é sempre bom ter um jogador a arrancar faltas nos últimos 30 metros.
No 4x4x2 do FC Porto, muitas vezes, Aboubakar baixa para junto da linha média, para ir buscar jogo, enquanto Marega se prepara para atacar as costas da defesa. Gonçalo Paciência só poderia desempenhar a primeira função, a de jogar mais recuado, pois é nisso que é mais forte: receber, aguentar a pressão, explorar situação de 1x1 ou apostar desde logo no remate de meia distância. É pouco habitual ver o FC Porto rematar de fora da grande área com os seus avançados: Brahimi, Aboubakar e Marega têm 24 tentativas em conjunto... tantas quanto Gonçalo. Mas a verdade é que também são poucas as vezes em que esses remates se traduzem em golo.
Gonçalo Paciência é o 6º mais rematador do Campeonato, com 47 disparos, menos do que Aboubakar (57) ou Marega (63), mas comparando com os avançados do FC Porto recebe muito menos vezes a bola na grande área. Daí que, embora remate mais de longe, tenha muitas poucas oportunidades para disparar nos últimos 15 metros.
Mas nem tudo é um mar de rosas no rendimento de Paciência no Bonfim, havendo claramente alguns dados que o limitam enquanto opção para o que resta da época. Desde logo, o facto de ser o jogador com mais perdas/receções de bola falhadas no Campeonato, com 71, à frente do reforço de inverno Paulinho. O facto de jogar muitas vezes desapoiado no ataque do Vit. Setúbal não ajuda, claro.
Além disso, tirando os guarda-redes, Gonçalo Paciência é o jogador da I Liga com maior percentagem de passes falhados: falhou 46% dos seus passes. Mas tendo em conta que Marega (continua a ser o pior passador do plantel, mas subiu para uma eficácia de 68,6%) liderou durante várias jornadas esta estatística, também não haveria de ser isso a riscar Gonçalo do mapa de possibilidades.
Porém, há algo que ajuda a explicar isso mesmo. No Vitória de Setúbal de Couceiro, Gonçalo Paciência é exposto muitas vezes à seguinte situação: receber mais atrás, rodar e tentar o passe em profundidade. Ou seja, Gonçalo não recua para fazer tabelas, jogar para trás ou ser um mero apoio: recua para segurar a bola e ser ele próprio o lançador do ataque.
Isso explica porque é que 65,3% dos passes de Gonçalo Paciência são feitos para a frente, enquanto no FC Porto a maior parte dos passes de Marega e Aboubakar são feitos para trás - 55,1% para o maliano e 51,9% para o camaronês. Além disso, os africanos do FC Porto jogam num raio de ação mais curto, com passes médios de 14 a 15 metros, enquanto Gonçalo tem uma média de passe de 18 metros. Ou seja, é muito mais exposto ao risco e não tem tantas soluções para jogar curto.
Por fim, as ocasiões de golo criadas na Liga. Aboubakar leva 15, Marega 14 e Gonçalo Paciência... 14. Ou seja, numa equipa que tem menos posse de bola, que ataca menos e que tem menos qualidade, o avançado português consegue, ainda assim, criar tantas ocasiões de golo como os ponta-de-lança do FC Porto. Diferente, muito diferente, mas não menos produtivo.
Agora tem a palavra Sérgio Conceição.
Acho que o Sérgio leu o post!!
ResponderEliminarhttps://www.noticiasaominuto.com/desporto/946587/goncalo-paciencia-esta-de-regresso-ao-fc-porto
Já está confirmado, já de regresso ao Porto e deve treinar nos próximos dias. Acho uma boa decisão, mas terá que ter oportunidades para mostrar o bom que tem feito. Se é para ficar no banco, mais valia deixá-lo no Setúbal até ao fim da época.
ResponderEliminarAnálise interessante. Que corra bem o regresso.
ResponderEliminarSei que foge ao essencial do post, mas acrescento que quando escreve
"O mesmo é dizer que Gonçalo Paciência sofre mais faltas do que Marega e Aboubakar juntos (53). Numa equipa como o FC Porto, que sobretudo nos grandes jogos depende bastante das bolas paradas para chegar ao golo, é sempre bom ter um jogador a arrancar faltas nos últimos 30 metros."
Convém referur que o número de faltas efetivamente sofridas pelo Aboubakar e pelo Marega é bem superior ao das que são assinaladas. Sucede que são 2 jogadores sempre em pé, que com a ratisse do Jonas e do Bas Dost teriam muito mais faltas assinaladas.
foi mesmo isso que eu pensei. ele no Porto vai ter cerca de metade das faltas sofridas marcadas. porque é que acham que os nosso avançados têm que ser "cavalos"? Eles têm que aguentar o choque porque muitas das faltas os árbitros não marcam. Se o Soares sair como anunciou o pasquim de carnide acredito que o Gonçalo jogue muitas vezes, alternando com o Abubakar ou Marega, agora se o Soares ficar não terá muitos minutos para rodar.
EliminarFoi a razão pela qual votei no Marega como MVP do último jogo. Foi o que melhor jogou? Não, mas ainda corria e queria muito em mais um jogo em que os adversários estavam pouco preocupados em acertar na bola.
Eliminartem mais um problema, a indiscipliuna de soares que provavelmente sera ou emprestado ou encostado, prai sim inclino me mais
ResponderEliminarPena que Boly e Mikel Agu não possam vir também pois neste momento davam muito jeito.
ResponderEliminarDesde que a sua vinda não queira significar a saída de Tiquinho Soares, o que seria um grande tiro no pé, será sempre uma alegria tê-lo cá. Novas opções no tipo de jogo de ataque, de grande qualidade. Bem vindo.
ResponderEliminarCentral? Nada. Extremos? Nada. Lateral? Agora despacharam o layun. Quero ver quando o telles tiver um azar quem vai jogar do lado esquerdo. Mais avançados é que o porto precisa. Quando precisamos fomos buscar o Soares agora que acham que não é preciso vai para a China. É o reconhecimento à Porto.
ResponderEliminarDalot.
EliminarO Soares insultou o treinador.
Não acredito na saída do Soares, muito menos para a China.
ResponderEliminarMas acredito que vai ter a vida difícil, o SC as vezes toma de ponta os jogadores.
Temos Marega, Corona, Paulinho e Brahimi nas alas.
Já o Aboubakar, Gonçalo P. Waris e Soares podem alternar no ataque.
Despachou-se o Layun, mas temos o Dalot.
O Reyes pode fazer de trinco, mas o grande problema é arranjar um central.
Dos poucos jogos que vi do Setúbal vi uma equipa com muitas dificuldades no processo ofensivo. O Gonçalo estava sempre muito sozinho e sem boas linhas de passe o que lhe dificultava sobremaneira o seu trabalho. A equipa não o acompanhava.
ResponderEliminarEle é um jogador muito bom, com muita técnica. Só tem de melhorar na finalização para ser um grande avançado.
Ferreira
A nível de laterais estou descansado. Além do Telles e do Ricardo, há o Dalot que não deve nada a estes dois. Com mais experiência de jogo vai superar ambos. E até anda a jogar a extremo esquerdo na B, para verem a diferença de qualidade do miúdo.
ResponderEliminarBestas
Embora o Soares tenha sido indisciplinado e mereça um "castigo", deixa-lo sair é um erro e um tiro nos pés,quanto ao Gonçalo sou fá dele mas duvido que vá ser muito utilizado e lamento que este regresso vá interromper a evolução dele. E se layun sair espero que o Rafa seja re-integrado e Agu também aliás Agu nunca deveria ter saido.
ResponderEliminarContinuam achar que é treinador para o porto? Gestão do plantel medíocre. Planeamento da época e dos objectivos muito maus para quem tem um plantel tão curto. Continuação de substituições que não fazem sentido nenhum. 3 anos sem ganhar em Moreira de cónegos. 4 anos seguidos a não aproveitar os delizes dos outros dando lhes com isso mais motivação. Uma vergonha.
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