Estamos no defeso de 2014, marcado pela saída de Paulo Fonseca e pelo período de transição de Luís Castro. Os adeptos estavam fartos de um treinador que, no entender de muitos, não percebia «a mística». Queriam um «discurso à Porto». Queriam «garra». Queriam um treinador que parasse de confundir os nomes dos clubes e que batesse menos palmas no banco de suplentes.
Chegou Lopetegui. Época e meia depois, Lopetegui saía. E saía com os adeptos a suspirarem por alguém que representasse todos os lugares comuns: a mística, a garra, o ser Porto, o não jogar resguardado contra o Benfica.
Depois José Peseiro chegou, viu e partiu. E adivinhem que conclusão deixou nos adeptos: que era necessário um treinador com mais garra, que não fosse mosquinha morta, que jogasse sempre para ganhar, que entendesse o ser Porto.
Chega então depois Nuno Espírito Santo, que muito apreciavam por ser um treinador «da casa», que entendia «a mística», que representava o ser Porto. NES revela-se então um treinador manso, de pouca determinação, pouca ambição e mais preocupado em ser politicamente correto do que em contra-atacar pelo FC Porto. A que conclusão chegaram muitos adeptos? Que falta garra, que falta mística, que falta o ser Porto. Que estão cansados de ver um treinador mansinho.
Uma, duas, três vezes... E nasce o padrão. Os adeptos acabam sempre a pedir a mesma coisa. Nem todos: há quem entenda que a competência é mais importante do que a paixão, sendo certo que competência sem paixão dificilmente rima com sucesso. Mas podem ter a garantia de uma coisa: dentro de um ano, já ninguém andará a suspirar pela falta de mística ou pela falta de garra. Porque com Sérgio Conceição encontramos o expoente máximo disso mesmo: a garantia de garra, de ambição, de entendimento e conhecimento da mística. No final da época que se avizinha, só se poderá pedir uma de duas coisas: ou a sua continuidade, ou o fim da história da mística e da garra, passando a suspirar por competência. Não necessariamente apenas do treinador.
Sérgio Conceição é então o escolhido para comandar o FC Porto, faltando todavia acertar a rescisão com o Nantes, processo naturalmente demorado e que tem muito que se lhe diga. Isto confirma, desde logo, que a SAD não tem planos de mudar e que se revela incapaz - ou desinteressada - em contratar um treinador habituado a ganhar. Podemos começar por recordar este excerto escrito a 1 de junho de 2016, dia da confirmação de NES como treinador do FC Porto.
«No processo de escolha do treinador, é mais ou menos consensual que a escolha não seria... consensual. Nunca é, diga-se. Mas há perfis que correspondem mais às necessidades do presente do que outros.
Neste caso, a escolha de Pinto da Costa, Nuno Espírito Santo, mostra que o FC Porto não vai mudar. Vai continuar a apostar num treinador que vem para o FC Porto para tentar vencer pela primeira vez, em vez de procurar apostar num treinador já experimentado, com títulos, com experiência internacional (algo que é difícil conjugar com um bom conhecimento do campeonato nacional, diga-se), capaz de apostar em jovens enquanto faz evoluir jogadores e capaz de se ajustar a um plantel sob constantes alterações.
Não é que o FC Porto não seja capaz de os ir buscar. Claro que é, pois quem teria dinheiro para cobrir o contrato de Jorge Jesus com o Sporting, ou teve dinheiro para comprar Marega em janeiro, então tem dinheiro para um bom treinador. Não vai porque não quer, não é por não haver capacidade financeira.
Mas Pinto da Costa insiste na sua fórmula de sempre. Como Mourinho, como Villas-Boas, como Paulo Fonseca, como Lopetegui: treinadores sem títulos a nível de clubes, com pouca experiência, que vêm para o FC Porto para tentar ganhar pela primeira vez. A questão é: o FC Porto é um clube que proporcione essas condições?»
Basta substituírem o nome de Nuno Espírito Santo pelo de Sérgio Conceição. Ou a SAD não quer, ou não consegue contratar um treinador de um perfil superior.
O FC Porto não é, neste momento, um clube ganhador, que esteja a conquistar títulos e troféus. Não é um clube onde os treinadores chegam, veem e vencem. Vamos cumprir um período de pelo menos cinco anos sem títulos. Temos então o nome de Sérgio Conceição: é um treinador ganhador? Também não, ainda não conseguiu troféus na sua carreira de treinador.
Dirão que foi esse padrão que fez do FC Porto um clube vitorioso: treinadores jovens, sem títulos, que chegaram às Antas ou ao Dragão para ganhar pela primeira vez. Falta é reconhecerem que os tempos mudaram: nenhum treinador chegou ao FC Porto de Pinto da Costa após um período de seca de quatro anos sem títulos, com um Benfica tetracampeão e numa crise financeira grave na SAD. Sérgio Conceição não encontra o mesmo que José Mourinho ou André Villas-Boas encontraram: encontra um desafio muito, muito maior pela frente.
Então. Clube que não está a ganhar + treinador que nunca ganhou... O que faz os adeptos acreditarem? Nada mais do que a mística e a vontade intrínseca de vencer. Pois se o clube não está, atualmente, numa fase vitoriosa, que exigências podem ser apresentadas a Sérgio Conceição para que ganhe no FC Porto pela primeira vez? E que condições terá ele para isso?
Não é o início de uma análise depreciativa. Pelo contrário. Para quem aprecia resultados, Sérgio Conceição deu goleada a Marco Silva, por muito boa imprensa que este último tenha tido. Quando Marco Silva chegou ao Hull, a equipa estava a três pontos da linha de água. Acabou a seis. Quando Sérgio Conceição chegou ao Nantes, a equipa estava na zona de despromoção. Deixou-a no 7º lugar, às portas da zona de qualificação europeia. Para quem privilegia os resultados como base de avaliação de um treinador, nem há discussão, pelo menos face à época 2016-17 (lógico que Marco Silva fez mais no Estoril do que Sérgio Conceição nos clubes portugueses que treinou).
Mas a maior questão é: porquê Sérgio Conceição? É bom recordar o que disse Pinto da Costa nesta entrevista: «Quando tenho na equipa Hulk, James e Falcao, o treinador é indiferente. Com eles é difícil não ganhar. Mas entrámos num período em que não tínhamos esses jogadores nem capacidade económica para substituí-los».
Este comentário, além de desvalorizar imenso o bom trabalho que Villas-Boas e Vítor Pereira (sem coincidência, os últimos treinadores campeões pelo FC Porto) fizeram, antecipa a questão: Sérgio Conceição vai ter um Hulk, um James ou um Falcao? Se não, então será Sérgio Conceição aquele treinador que vai elevar a qualidade de um plantel razoável, ao invés de ter um plantel que eleva a qualidade do próprio treinador?
Se o contexto económico da SAD não é favorável, não havendo perspetivas de Hulks ou Falcoes, a SAD pedirá a Sérgio Conceição aquilo que ainda não conseguiu na sua carreira: vencer como treinador. E o que faz Sérgio Conceição? Corre em direção às balas.
Ao contrário de Nuno Espírito Santo, que não fez nada na sua carreira (quer como guarda-redes, quer como treinador) sem Jorge Mendes, Sérgio Conceição subiu a pulso e trata as dificuldades por tu. Até há bem pouco tempo, Sérgio Conceição era um treinador aclamado e adorado em Nantes. E não foi fácil encontrar isso na sua carreira.
Estamos a falar de um técnico que teve problemas por todos os clubes por onde passou, não só no balneário como com os dirigentes. No Nantes, pelos bons resultados que apresentou, tornou-se um nome indiscutível e aclamado. E que faz ele agora? Tenciona abdicar de tudo isso em prol de se juntar à luta pelo FC Porto, onde sabe que qualquer treinador corre o risco de se queimar.
A vitória de Sérgio Conceição começa aqui: larga zonas de confronto para enfrentar o risco. Quer ser ele o treinador a pôr fim ao maior jejum de troféus nos últimos 30 anos. Ninguém lhe vai prometer um Hulk, um Falcao ou um James. Ou então, num contexto mais atual, ninguém lhe vai prometer um Casillas, um Maxi, um Brahimi ou um André Silva. Que faz ele? Quer abraçar o desafio. Sem pensar duas vezes, quiçá sem saber muito bem o que vai encontrar no FC Porto.
Nenhum adepto sabe ainda se Sérgio Conceição vai jogar em 4x4x2 ou 4x2x3x1. Se vai jogar em posse, em transição rápida, se vai ser híbrido. Não é, até à data, um treinador que tenha diferenciado os clubes por onde passou com um estilo de jogo particularmente brilhante ou positivo. O Paços de Paulo Fonseca jogou melhor futebol que o Braga ou o Guimarães (apenas 8 vitórias em 2015-16) de Conceição, por exemplo. O que não é garantia de nada, mas que sugere uma coisa: o FC Porto não está, com Sérgio Conceição, a contratar um modelo ou uma ideia de jogo.
Está, isso sim, a contratar sede de vencer e um homem que vai ao encontro das dificuldades, trocando o conforto pelo risco. Sérgio Conceição não é, provavelmente, a melhor escolha para treinador. Mas como homem, já começou a vencer pelo FC Porto: está disposto a queimar-se a ele próprio para tentar a reerguer o clube que aprendeu a respeitar e a amar.
Sérgio Conceição, o homem e o treinador, terá todo o apoio ao longo da sua estadia no FC Porto, sempre que esteja envolvido no compromisso de crescer e vencer. Se Sérgio Conceição falhar, não é o falhanço nem do homem, nem do treinador, mas sim do modelo e da estrutura que gere o FC Porto. Não há, por isso, pressão para Sérgio Conceição. Mas não duvidem: não será homem para fugir dela.
Força, Sérgio!
No natal já terá 4 castigos e visto os lenços brancos. Corremos a passos largos para o quinto ano sem ganhar nada.
ResponderEliminarLuís Claro,
EliminarUso o seu comentário (espero que não me leve a mal), que resume o que se vai dizendo "a miude" nos dias que correm, para chamar a atenção que a estrutura (por exemplo no "Dragões Diário - de bancada") deve desde já iniciar a defesa do treinador.
É que com o sistema do colinho que está montado, e se não for feito nada, vai ser ainda (muito mais) fácil expulsar o treinador por tudo e por nada.
Relembro o que se passou com o Maxi Pereira, que assim que chegou ao Porto, foi um fartote de levar cartões.
Cumpts,
João Silva
O que mais me preocupa é o circo que está montado em relação ao novo treinador. Não havia necessidade nenhuma, até porque este treinador dá tudo para voltar ao FCP.
ResponderEliminarO que me deixa contente pela escolha: ter alguém no banco que dá murros na mesa e é dos bravos.
O que me preocupa: que a estrutura queime Sérgio Conceição com "negócios à Porto - era moderna" e o circo da imprensa montado para atacar Sérgio Conceição (que não caiu nas boas graças como Marco Silva...que fez uma época incrível, mas no final o clube estava pior do que quando tinha entrada)
Tudo isto seria muito bom se não tivesse acompanhado a carreira de treinador dele. Para garra e mística, podíamos ir buscar o Jorge Costa porque mais do que ele o Conceição não tem.
ResponderEliminarRealmente o que faria falta seria um treinador e uma direcção sedenta de fazer bom trabalho (e não enriquecer), ambiciosa.
Para descrever o treinador é conflituoso (não só com os adversários, mas para com a equipa e direcção), sem fio de jogo, sem ideia definida, incapaz de valorizar qualquer jogador...
Se esta época foi um sofrimento ver o Porto, a próxima não será melhor! Ai quem me dera estar errado!!!
Mas em vez de dar o benefício da dúvida prefere ficar do lado dos que eventualmente terão razão.
EliminarComo assim tanto parlatório sobre o Sérgio e nem uma referência à Doyen!?
ResponderEliminarAgora já pode? Já são bons?
o futebol tambem e um jogo e por isso pode se perder, ganhar ou empatar, temos o exemplo do nosso basquete que nna final ja perdeu dois jogos pela margem minima e podia os ter ganho, se o basquete perder a final eu vou aplaudir na mesma, fico triste mas om porto saiu dignificado, competiu. Ja no andebol nao posso aplaudir porque perdemos por ma planificacao da epoca, quisemos ganhar tudo entretanto e depois faltou o fogo final. No hoquei competimos, perdemos alguns jogos que deveriamos ter ganho mas competimos e estamos na luta embora provavelmente perdamos mais um titulo, ficarei triste mas o desporto a e assim. COM SERGIO SO TENHO MEDO DE UMA COISA QUE FOI A SUA DERROTA NUMA FINAL COM O ESPORTIN G QUANDO TINHA TUDO PARA GANHAR E AI FALHOU MAIS DO QUE A EQUIPA, DISSO TENHO MEDO porque mostrou precipitacao, o resto as equipas dele lutarao sempre, os jogadores ou a maioria darao o litro e com arbitragens isentas ganharemos. Agora coronas, herreras, layuns, brahimis, andre2, e por ai nao tem cabidela.
ResponderEliminarNES era manso e politicamente correto, ao menos nisso o Sérgio Conceição é exactamente o oposto. Espero que tenha estaleca para conduzir um clube grande como o Porto de volta aos títulos.
ResponderEliminarE de certeza que vai ser muito atacado pela comunicação social, que ele se saiba controlar.
Jorge Fernandes
Com estou há 4 anos sem treinador, nem me importava de esperar mais para ter algo diferente. A confirmar-se isto (longe vão os tempos em que o FCP tratava destas coisas no recato do clube), a verdade é que é mais do mesmo. Para o Sérgio Conceição, troca a realidade para treinar um clube da dimensão e historial do FCP dele. Correndo bem ou "normalmente" (os últimos 4 anos...) já ninguém lhe vai poder tirar do CV que já orientou um clube como o FC Porto. Vai conseguir transformar estes jogadores numa equipa que jogue à Porto e vença? Era uma grande vitória. Espero que não se caia no erro de o transformar também numa das peças da comunicação ultrapassada do clube, porque Jesualdo só há um.
ResponderEliminarMuito bom - disseste tudo. A ver como corre e se, no próximo ano, não vais repetir o post :p
ResponderEliminarFico com a impressão que anda meio mundo alucinado com Sérgio Conceição. Afinal o que já mostrou ele enquanto treinador? Vão buscá-lo por ser bom treinador ou por ser arruaceiro? Não me venham com mística porque nisso então tinhamos o NES, e pelo menos o NES nunca disse que "é dificil marcar um penalty no dragão no ultimo minuto"... Dois reparos que não posso deixar de passar nesta crónica: "Para quem aprecia resultados, Sérgio Conceição deu goleada a Marco Silva". O que ganhou Conceição na sua carreira? Marco Silva já foi campeão grego, foi campeão da segunda liga pelo Estoril e com 10 jogadores ganhou uma taça de Portugal a ... Conceição. "Se Sérgio Conceição falhar, não é o falhanço nem do homem, nem do treinador, mas sim do modelo e da estrutura que gere o FC Porto". Ah assim nem precisamos de treinador. Se falhar a culpa nunca será dele. Está certo... e ainda falam da boa imprensa do Marco Silva... Sérgio Conceição é chover no molhado, o único critério de escolha é ele ser capaz de dar um murro na mesa. Poupem-me
ResponderEliminarnao percebi patavina, podia exp,licar melhor ou sera aquele gordo que trabalha na benfica tv a recibos verdes»»
EliminarSubscrevo, palavra por palavra. Incrível como ainda há quem ache, neste futebol actual, que com raça, discurso duro e amor ao clube se é campeão sendo notoriamente inferior aos rivais a nível táctico e de futebol jogado. A minha escolha era o Paulo Sousa, de longe, mas tiro o chapéu ao Sérgio por abdicar de muito para cumprir o seu sonho.
ResponderEliminarAntes demais muitos parabéns por mais um excelente post, com a lucidez e assertividade habitual.
ResponderEliminarCostumo dizer que para mim os treinadores para o Porto são como os melões, só depois de cá estarem é que conseguimos fazer uma avaliação. Sérgio Conceição tem raça e muita vontade em levar o Porto às vitórias, mas realmente isso só não chega.
Posto isto, espero que tenho um bom adjunto, pois o seu feitio explosivo e a perseguição de que temos sido alvo por árbitros e comissão de arbitragem, vão fazer com que passe muitos jogos na bancada.
Nota final para o timing da contratação. Conceição renovou há cerca de um mês com o Nantes por 3 anos. O Porto de sucesso num passado recente jamais deixaria que isso acontecesse e ao rescindir com um treinador, era porque outro já estaria contratado.
Caso Sérgio fosse a alternativa a ter em conta para substituir NES, estaria já notificado disso mesmo e colocaria a renovação em banho maria. Agora vamos ter de pagar não sei quantos milhões e ceder jogadores aos franceses quando se fossemos céleres e pro-ativos, tínhamos o Sérgio a custo zero.
Sinceramente não acho que raça seja o suficiente. Aliar essa capacidade de revolta / luta / ambição, com rigor tático e visão de jogo, que eu saiba só existe um treinador à data assim: Mourinho. E o Porto não pode andar a tentar criar Mourinhos todos anos! Era altura de pegar num treinador mais experiente e com provas dadas. Esqueçam a mística, contratem é competência! Que o SC me prove errado, que ficarei muito feliz!
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