Gosto de dizer que os treinadores de bancada estão em vias de extinção. Agora há uma nova classe: os dirigentes de bancada. Hoje em dia, o comum adepto já não se satisfaz apenas em comentar as questões técnico-tácticas. Os adeptos gostam de discutir as finanças das SAD, os preços dos jogadores, os investimentos, a gestão da administração, etc. Nada fica ao acaso.
A cara feia que todos queremos ver no Dragão |
E por isso, aos olhos de muitos adeptos o problema de Ádrian López não está na apatia com que tem jogado. Está no investimento. O problema em Ádrian não é a falta de agressividade, o facto de não conseguir mandar um bico para a baliza ou de olhar para a bola com a mesma estranheza com que eu olhava para o quadro durante as aulas de física («que é esta merda?»). O problema de Ádrian é que custou 11 milhões de euros.
Danilo, Alex Sandro e Herrera já passaram por isso. Ser refém do preço que custou é complicado para qualquer jogador. Chega-se a ignorar o princípio mais básico: os jogadores não têm culpa dos preços que lhes colocaram. Mas claro que têm o dever de tentar corresponder ao máximo a esse investimento. Ádrian ainda não o fez, mas a facilidade com que já se considera Ádrian o maior flop da história do FC Porto é assustadora.
Pergunta: quem é o pior jogador da história do FC Porto na relação investimento/rendimento? Como Ádrian é o nome mais recente e a segunda contratação mais cara da história do clube (não confundam contratação com investimento num jogador já contratado; a maior parte do investimento feito em Hulk foi feito quando ele já estava contratado, logo não é a contratação mais cara da história do FC Porto, mas sim o investimento mais caro), é normal que já o associem a isso. E sem grande razão de ser, diga-se.
Um nome: Quintana. Chegou na era em que o FC Porto se fartou de contratar em quantidade e raramente em qualidade. Diziam que era o novo Paredes. Na verdade uma parede, no sentido literal da palavra, era capaz de ser dado mais jeito. Um jogador tão mau que foi dispensado na pré-época do Moreirense. Na altura, esse jogador custou mais de 500 mil contos, cerca de 3M€ na moeda actual.
Quintana, um investimento não menos grave |
Em 2001, o FC Porto apresentava receitas de 32M€. Foi a partir daqui, quando o FC Porto começou a fazer vendas milionárias, que a SAD começou a subir a fasquia dos investimentos. A venda de Jorge Andrade (por 11,6M€), por exemplo, na altura significou 24% das receitas totais do clube, incluindo as transações de passes.
Então que se façam agora as contas. O que é mais caro? Comprar Quintana por 3M€ quando há receitas de 32M€ ou comprar Ádrian por 11M€ numa época em que se enquadra um orçamento de 114M€ e em que os proveitos com transferências incluídas vão chegar aos 140M€?
Ádrian nunca poderá ser considerado o pior jogador do FC Porto na relação custo/rendimento. Porque antes dele houve Quintana e outros exemplos. Pena foi contratado com uma avaliação superior a 7M€, embora a SAD só tenha comprado 25% do passe. Ibarra custou na altura 8,85M€, valor bruto que incluía o contrato do jogador. Mas pagar este valor por um lateral-direito quando as receitas eram menos de metade das actuais, torna Danilo numa pechincha. O início do século XXI tem diversos casos de investimento extremamente mal calculados e francamente maus na SAD, curiosamente logo nos primeiros anos em que foi constituída. Ádrian não é nenhum mal isolado.
A bem da verdade, que têm Quintana, Pena, Ibarra ou Ádrian em comum? Não é a questão de ser ou não flop. É serem jogadores cujo investimento é feito acima daquela que é a realidade financeira do FC Porto. Um décimo das receitas investido num único profissional, sobretudo quanto este não rende, é um risco em Portugal. Mas o risco é o modelo de gestão de Pinto da Costa há 30 anos. Não queiram é fazer parecer que Ádrian é um pecado no meio de tudo isto. Não é. O investimento de Ádrian equipara-se ao que foi feito há mais de 10 anos em Ibarra ou Quintana. Ádrian não é nenhum caso isolado. A política da SAD é exactamente a mesma desde há vários anos, desde Ádrian a Quintana. Ádrian, na relação custo/rendimento/receitas da SAD, precisa de flopar muito para chegar a Quintana.
Tudo isto para tentar aliviar o fardo do jogador. Eu próprio já assumi o desencanto com as suas exibições até aqui. Mas o jogador é vítima do seu próprio contexto no plantel. Não é bem 9. Não é bem extremo. E no 4-3-3 de Lopetegui, que estava a dar resultados, tem pelo menos 2 jogadores melhores do que ele para cada uma dessas posições. O próprio jogador estava iludido que saíndo do Atlético, campeão espanhol e vice europeu, para jogar na Liga ZON Sagres faria com que fosse ele e mais 10. As coisas não correram como ele pretendia. Mas será o primeiro a ter este problema?
Mariano, um bom exemplo |
Ádrian tem 437 minutos de jogo, um golo e uma assistência. Lisandro López, nos 434 primeiros minutos no FC Porto, também só fez 1 golo. Outro exemplo, Mariano González. Quem não se lembra do trapalhão que nem correr conseguia? Tropeçava sozinho, quanto mais quando tinha a bola nos pés. A verdade é que Mariano demorou 847 minutos até ter um bom momento no FC Porto. A assistência que Lucho lhe deu no minuto 90 contra o Paços de Ferreira foi melhor que ir ao psicólogo.
Não se pode dizer que Mariano fosse um predestinado. Mas acabou por ser dos jogadores mais acarinhados pelos adeptos. Fez o primeiro golo do tetra. Marcou no último minuto em Old Trafford. Resolveu uma meia-final. Deu um torcicolo ao Rui Patrício. Foi capitão de equipa. E a verdade é que até aquele golo ao Paços de Ferreira era um dos maiores barretes da história do FC Porto (não se pode ignorar o que ganha hoje um jogador comparado com há 12 anos).
Para quem não se recorda, o FC Porto tem 4 avançados que custaram mais de 16M€ emprestados a outros clubes, Walter, Kléber, Caballero e Ghilas. E isto é apenas o custo, porque a avaliação nestes 4 jogadores foi superior a 23M€. O FC Porto tem 18 jogadores com contrato profissional emprestados, a suportar a maioria dos seus salários, e desses talvez só 2 ou 3 tenham hipóteses de voltar a representar o FC Porto. Ádrian tem que carregar sozinho o fardo dos 11M€ quando há casos tão ou mais pesados?
Ádrian López tem que render mais. E vai render mais. Mas o jogador tem que ser avaliado pelo ponto de vista estritamente desportivo. Porque se o foco da crítica for os 11M€, então não deve ser Ádrian a ser criticado. Pelo menos não sozinho. Deve ser Quintana, Ibarra, Pena. Ou os 4 avançados de 16M€ que estão emprestados. Por outras palavras, deixa de haver críticas a um jogador e passa a haver críticas à gestão da SAD. E como assobiar a SAD durante os jogos não deixa a equipa mais perto de ganhar, é tempo de tentar puxar por Ádrian, como também o fizemos por Mariano e Lisandro. E valeu bem a pena, não valeu?
Clap , Clap , Clap !!
ResponderEliminarAnalise perfeita , cada vez mais este blog torna se uma consulta diaria.
Dá para colar os teus textos á entrada do Dragao ? iria mudar muito a mentalidade de certos adeptos , esta mais do que na hora de muitos abrirem os olhos
Adrian ainda está a mais do que a tempo de mudar o rotulo que lhe querem colocar, é verdade que neste momento tem desiludido, por exemplo eu tinha melhores referencias de Luis Fabiano do que tenho de Adrian, e o Luis Fabiano salvo erro apenas marcou 3 golos na liga portuguesa na época que cá esteve, nem sei se marcou em mais competições, mas se marcou não foram muitos, foi considerado um flop, mas eu fiquei com pena que só lhe tivessem dado uma época de oportunidades, e pelos vistos tinha razão, já que no Sevilha ainda hoje é lembrado pelos adeptos, espero que o Porto não cometa esse erro com Adrian.
ResponderEliminarBravo.
ResponderEliminarMais um post escrito de forma ponderado e fundamentado. Há por aî muitos outros blogs que podem aprender com o TdD; aliás, não é a primeira vez que leio sobre um tema aqui e 24h depois aparece o mesmo tópico em outros blogs de referência.
Continuação de um excelente trabalho!
Para mim o grande problema do Adrian é não perceber o objectivo da vinda dele, e não propriemente o investimento ou perfomance dele.
ResponderEliminarQue é que ele pode oferecer à equipa? Não faz qualquer concorrência ao Jackson e para jogar nas alas é preferível usar extremos.Talvez encaixa-se num 442 (não o 424 do jogo do Estoril) mas contratar um jogador com elevados custos (não só o investimento mas o salário também) para jogar apenas numa táctica alternativa é esbanjar recuros.
Recursos esses que podiam ter ido para um médio defensivo ou defesa central, posições que estão a ser o nosso ponto fraco de momento.
Treinadores de bancada e dirigentes de bancada? Gosto mais de me considerar um Manager de bancada, assim é mais transversal a essas 2 posições! LOL! Acho um pouco irónico e até hipocrita falares nisso, porque não é exatamente isso que fazes neste blog? Uma pessoa por não ser treinador ou dirigente tem que perceber menos que eles sobre os assuntos? Mesmo que perceba menos não está livre de dar a sua opinião, mais ou menos formada?
ResponderEliminarQuanto ao Adrian, concordo, o problema não é o jogador em si, nem tão pouco o seu valor inflacionadissimo, mas sim o facto de ter sido contratado para uma equipa aonde não tem lugar, nem em termos qualitativos nem em termos taticos. É um bom jogador, até poderá ser muito bom, para uma equipa que jogue em contrataque, que foi como ele sempre se destacou aonde jogou. É para mim mais um Licá. Jogadores que até podem ter qualidade, mas que não são talhados para o jogo da maioria das equipas grandes, ainda para mais do FCP que costuma privilegiar a posse de bola. A procissão ainda vai no adro, ainda pode melhorar e dar muito ao FCP, mas tenho sérias dúvidas disso. Com Aboubakar e Jackson não vai jogar a PL, com Quaresma, Brahimi e Tello não vai jogar a extremo, salvo exceçoes. Com Quintero e Oliver não deveria jogar a 10. Mais responsavel por isto são os dirigentes e não o jogador. Mau planeamento da equipa, embora se compreenda que haja necessidade de por vezes tomar decisões em que certas mãos esfreguem outras, de modo a também virem esfregar as nossas quando necessitamos.
Para terminar..
Pena foi melhor marcador em Portugal ao serviço do Porto, salvo erro, logo no pós Jardel.
Joel
Nem mais.
EliminarPara mim isto é muito simples... o erro não foram os 11M€ mas sim contratar um jogador sem caracteristicas para jogar no modelo que nós usamos.
ResponderEliminarAdrian tem culpa? Tem e muita, pois tal e qual dizes, a bola parece uma objecto estranho nos seus pés... não faz uma finta, nãó passa um adversário, nem consegue fazer um remate em condições... parece que desaprendeu de jogar futebol até um nível que nem para suplente do Licá dava.
Mas mais que isso, parece sem chama, sem motivação, sem vontade... a continuar assim é um problema para tentar resolver em Janeiro se o acordo com o JM assim o permitir, pois com esta postura, o jogador não irá ser resgatado de maneira nenhuma.
Em relação a valores, 11M€ por 60% do passe é brutal, mas se o jogador rendesse o esperado, seria barato.
O problema do Adrian está na sua cabeça e só ele o poderá resolver... se nem no 4-4-2 ele se adapta então tem muitos "demonios" individuais para resolver.
"Gosto de dizer que os treinadores de bancada estão em vias de extinção. Agora há uma nova classe: os dirigentes de bancada. Hoje em dia, o comum adepto já não se satisfaz apenas em comentar as questões técnico-tácticas. Os adeptos gostam de discutir as finanças das SAD, os preços dos jogadores, os investimentos, a gestão da administração, etc. Nada fica ao acaso."
ResponderEliminarDizer isto é um bocado irónico quando o blog apela a isso....
Quanto ao Adrian é claro que ele não tem culpa de não saber mais, a critica não é para ele é para quem contratou um jogador por este preço e que não vem para ser titular indiscutível.
Sobre as contas do Quintana etc é um exercício de desinformação, começa logo pelo erro de 20% na conversão de escudos para euros 500 mil contos corresponde a 2,5M e não 3M...
ResponderEliminarDe resto 11M estão a ser comparados com um orçamento catastrófico que inclui uma receita da champions anormal devido ao apuramento ter conseguido nesta época o que faz com que sejam inscritos 6,5M, e com venda do Mangala que por ser inscrito nesta época deixou um buraco imenso no exercício anterior.
Quintana foi ruinoso claro mas poucos anos depois o FCP fez crescer os proveitos para o triplo o que retirou peso a esse valor, o que vai ter que acontecer no futuro é que o FCP vai ter que descer o orçamento o que vai aumentar o peso deste valor sobre as contas futuras é a grande diferença.
De resto há coisas em que os números nos ajudam a perceber outras são tão óbvias que não é preciso, e este caso é dos óbvios, quando o FCP contrata um jogador por mais de 5-6M tirando raras excepções de alguns jovens ele tem que vir para ser titular e não para o banco ou para a equipa B.
Boa noite caros Portistas: eu em relação a mal amados o maior exemplo que dou, era um senhor de nome Guarin, a bola para ele era quadrada e vejam aquilo que se transformou o Adrian não desaprendeu de jogar, tenham um pouco de paciência. Saudações Portistas.
ResponderEliminarO Guarin era um jogador medíocre e hoje continua a sê-lo, com a diferença de que antes estava numa boa equipa (FC Porto) e hoje está numa equipa tão medíocre quanto ele (Inter).
EliminarOpinião pessoal, como é lógico.
O custo é apenas um adereço.
ResponderEliminarQuando o jogador falha em todas as ocasiões, por mais simples que sejam, dá lugar a questões sobre a sua competência.
Eu vi Adrián jogar ainda no Deportivo e depois no Atlético. Não é um poço de técnica, não é uma força sobrenatural da natureza. É um jogador que primava pela competência no que fazia, com um bom drible, intensidade, capacidade de desmarcação, procura do golo e que gostava particularmente de jogar futebol curto. O Adrián que chega a Portugal e que não consegue ultrapassar um único jogador, não entende o momento de remate, um Adrián que nem um passe de 2 metros acerta num jogo inteiro não é o mesmo jogador certamente.
Para Adrián estar no plantel, Licá, Ghilas, Josué ou C. Eduardo saíram. Para Adrián entrar no 11, Tello, Óliver, Quintero ou Aboubakar têm de ficar sentados. Construíram um plantel num patamar tão elevado relativamente à época passada, que um Adrián que possivelmente seria importante naquele plantel, já não o é neste. Há que entender isso e não insistir na titularidade. Um jogador desmotivado, pouco confiante ou com um outro qualquer problema mental, precisa dos minutos certos quando já não for hipótese de ser um fardo para a equipa. Sempre foi assim que se lançaram jogadores.
A questão Tozé: Se Adrián está desmotivado porque achou que vindo para Portugal era ele + 10, isso demonstra mau profissionalismo. Se é esse o problema dele, então ainda mais grave é. Se Adrián não quer cá estar, muito menos os portistas quererão que ele cá esteja.
AA