quinta-feira, 27 de novembro de 2014

As expectativas já cumpridas e o que virá a seguir

Desportivamente, o FC Porto está no caminho certo da Champions. Primeiro passou o play-off, agora garantiu a vitória na fase de grupos, uma das melhores de sempre. Como é norma, se as coisas correm bem desportivamente, financeiramente a máquina funciona. Neste caso, está muito bem encaminhada para isso.

O FC Porto está a cumprir e ultrapassar as expectativas orçamentais para 2014-15. Para esta época a SAD orçamentou 28,229M€ em receitas da UEFA. Isso previa o apuramento para os oitavos-de-final, mas a possibilidade de chegar aos 16 pontos não estava prevista.

Em 2014-15 o FC Porto já ganhou 18,7M€ e pode ganhar mais um milhão contra o Shakhtar. De recordar que em 2013-14 não entrou o dinheiro pelo acesso à fase de grupos da Champions, por causa do play-off, e a SAD apontou para um buraco de 10M€. Acabou por haver uma mais-valia: o FC Porto recebeu um extra de 2,1M€ que não é habitual, por causa do play-off.

Mas isso já estava previsto nas contas, tal como está previsto que o FC Porto se apure directamente para a fase de grupos da Champions de 2015-16, ou seja que fique entre o 2 primeiros lugares do campeonato (mais concretamente o 1º, tendo em conta que os custos com pessoal já devem prever o pagamento das variáveis aos jogadores por títulos, de outra forma não se justificaria um aumento de mais de 40% nesta rúbrica).

Por isso, somando os 18,7M€ aos 8,6M€ já esperados para a próxima época, Lopetegui e os jogadores conseguem o que estava orçamentado pela SAD. Podem até superar, se vencer o Shakhtar. Mas há outra receita que deve ser tida em conta: o market pool.

Sabem aquela história de que é bom para Portugal ter os 3 grandes na Liga dos Campeões? Do ponto de vista de market pool, não é verdade. O ideal é que o FC Porto esteja lá sozinho. Isto porque o market pool, receitas televisivas e publicidade estática, é dividido por todas as equipas do mesmo país que disputem a Champions.

Em 2013-14 o FC Porto ganhou nesta rubrica 3,618M€, cerca de 350m mais do que o Benfica, tendo em conta que o campeão nacional tem direito a uma percentagem ligeiramente superior. Este ano como o Sporting está na Champions, o market pool é dividido por 3. Mas há uma boa notícia: a partir dos oitavos o valor de market pool sobe bastante, Para o FC Porto, nesta rubrica o ideal era que o Sporting não fosse aos oitavos da Champions, pois assim consegue uma maior fatia de market pool.

Independentemente disso, está a desenhar-se tudo para o FC Porto atingir os 30M€ de receitas da UEFA para ser contabilizadas em 2014-15, não esquecendo que para isso é preciso a qualificação directa para 2015-16. Se será possível chegar aos quartos, em Fevereiro veremos. Para já é preciso apostar tudo e o máximo no Campeonato, sobretudo porque o rival Benfica já não está na Europa, por isso vai poder dedicar quase toda a atenção no Campeonato, independentemente dos efeitos que a sua eliminação na Europa possa ter no mercado de Inverno. A eliminação do Benfica na Europa só ajuda o FC Porto no ponto de vista financeiro, não no desportivo. E no FC Porto o sucesso desportivo e financeiro estão ligados por cordão umbilical.

De recordar abaixo o que foi a proposta de orçamento para 2014-15. Com o apuramento para os oitavos-de-final garantido, está tudo a seguir conforme o alinhavado (tirando o 3º lugar no Campeonato, mas dependemos de nós para terminar Dezembro na liderança), por isso fica a faltar... o mais importante, que são as mais-valias com transferências: é preciso 66,5M€.


Para 2014-15 vão entrar Defour e Mangala, que vão gerar cerca de 25M€ de mais-valias. Não confundam valor de transferência com mais-valias. A mais-valia só é contabilizada depois de a) excluir o valor contabilístico do passe (o valor do jogador é calculado através do preço total da transferência, repartido pelo número de anos de contrato) b) prémios de fidelidade c) terceiras partes detentoras de direitos económicos d) comissões e intermediações, sem esquecer que paga-se IVA pelas transferências.

Por isso o FC Porto vai ter que fazer pelo menos 40M€ de mais-valias em 2014-15, segundo o orçamento. Mas é possível que até não o faça, com a transição de resultados para 2015-16, até porque para tal seria preciso vender pelo menos 2 titulares até 30 de Junho, e normalmente os tubarões não atacam o mercado tão cedo (veja-se como o FC Porto teve que vender Quaresma, Hulk e outros à pressão). São contas para fazer mais tarde, precisamente porque quanto mais lucrativos formos através da vertente desportiva em 2014-15, mais condições reunimos para reduzir a necessidade de venda de jogadores.

Isto para realçar que na UEFA as expectativas orçamentais podem ser superadas mesmo sem contar com o apuramento para os 1/4. Se o FC Porto passar os oitavos, pode ser a diferença entre vender 2 titulares, ou vender apenas 1 titular e alguns jogadores de segunda linha que saiam valorizados. Ou até pode não alterar os planos de venda, pois é normalmente isso que acontece - no início de cada época a SAD planeia quem vai transferir -, mas pode reforçar as condições de investimento.

Ir ou não ir aos quartos da Champions pode ser a diferença entre conseguir ou não conseguir manter ou contratar um titular para o 11, sabendo-se que o risco é o modelo de gestão de Pinto da Costa há 30 anos. Ou seja, o que cair numa mão, vai ser batido com a outra. O sucesso desportivo gera condições para ser bem sucedido desportivamente, um ciclo que se repete e que não pode falhar.

10 comentários:

  1. Não concordo com quem argumenta que a saída de uma equipa das competições europeias a beneficie a nível interno. As competições europeias são uma competição exigente e um excelente barómetro do nível das equipas, uma equipa que falhe redondamente nas competições europeias é porque tem défices ( seja de tactica, de técnica ou de plantel ) o que mais tarde ou mais cedo se vai reflectir no campeonato. E nós Portistas temos o exemplo do ano transato em que chegamos á CL em primeiro lugar do campeonato mas depois foi uma questão de tempo...

    ResponderEliminar
  2. Para nós o facto do benfica ter saído das competições europeias é bom, porque é sempre um prazer ver o que na realidade eles valem, para o ranking da UEFA é mau, vamos ficar somente com duas equipas (FC Porto e sporting) na europa, o que é péssimo, mais ainda quando se prevê pela última época e esta que eles controlam tudo a nível interno e que a única maneira das restantes equipas irem à prova rainha da UEFA é através do acesso directo (2º lugar) ou do play-off (3º lugar), enquanto o ranking da UEFA assim o permitir. Liga, APAF, etc..., estas instituíções, depois de tamanho falhanço europeu, vão querer de alguma forma compensá-los e se até aqui as arbitragens em seu favor já têm sido absolutamente escandalosas, daqui para a frente só piorará. Não tenho duvidas que tudo vão fazer para os levar para o bi-campeonato e taça, já para não falar da taça da liga, mas isso nem conta como título.
    A nossa época europeia está a ser estrondosa, no campeonato estamos menos bem devido aos factos que aqui mencionei, cabe-nos jogar sempre para ganhar e não nos deixarmos cair no erro de criticar equipa técnica e jogadores por um factor que não está nas nossas mãos.

    ResponderEliminar
  3. Não vai ser fácil manter esse plano pois TdD estás-te a esquecer que 3 dos nossos atuais titulares (incluindo Tello), são jogadores emprestados e que teremos que accionar clausulas de compra, caso os queiramos manter (apesar de Tello podermos lançar o investimento para 2016).

    Assim sendo e acreditando que poderiamos adquirir o Óliver por um valor razoável, para mantermos a equipa que temos esta época, teriamos de inestir pelo menos 30M€ nesses 3 elementos ( e ainda temos o passe do Brahimi para recomprar e o passe do Aboubakar para fazer o mesmo).

    É claro que Jackon e Danilo, devem estar alinhavados para sairem e que Brahimi, Indi, Quintero e mesmo Alex Sandro, podem também ser vendidos, mas, a maior parte destas saidas obriga a ir ao mercado (tirando Jackson e Alex Sandro, que já tem substitutos no plantel e mesmo Quintero se o treinador quiser aproveitar Evandro/Josué/Carlos Eduardo para o papel do nosso camisola 10).

    Portanto temos bastantes indefenição a nível do plantel actual e temos de pensar em cimentar com maiores % de passes antes de investir no mercado... e claro... fazer um plantel muito mais curto e desenhado para aproveitar a nossa equipa B.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ninguém falou em manter equipa ou emprestados. Falou-se que um aumento na rúbrica da UEFA pode ou reduzir a necessidade de mais-valias, ou reforçar as condições de investimento. Há condições prévias.

      O FC Porto só estima gastar com passes 29,3M€ em 2014-15. Para efeitos contabilísticos isto inclui Ádrian, Brahimi, Aboubakar, Marcano, Andrés e Indi.

      Ou seja, o FC Porto não prevê no orçamento para 2014-15 contratar nem Casemiro, nem Tello, nem Óliver, nem mais ninguém.

      Para aumentar as despesas de 2014-15, tem que entrar receita extraordinária, a não ser que transitem novamente o prejuízo. Decisões para mais tarde, mas para efeitos orçamentais não está previsto contratar mais ninguém e os emprestados têm V de Volta.

      Eliminar
    2. Correcto, contudo as clausulas de opção tem um valor temporal que acaba dentro deste orçamento ( e pelo que veio na imprensa, até a clausula do Tello teria de ser accionada até final desta época mas não sei se será verdade).

      Portanto a não ser por capacidade negocial e por boa vontade de um Real Madrid ou Barcelona, podemos transitar o centro de custos desses passes para o próximo orçamento (já que o Torres, sendo um negócio de raiz sem a opção de compra, poderá perfeitamente pender para o próximo orçamento).

      Mas também podemos estar perante uma venda de um Brahimi que na prática gera de imediato uma mais valia avultada apesar da necessidade contabilistica da compra do resto do passe para se proceder à venda imediata.

      Vamos ver como é que tudo se passa, pois como muito bem referiste no caso Adrian, se o jogador continuar a não render, pode ser recambiado e teres os 11M€ a entrar novamente na nossa contabilidade o que isso mais uns quartos da champions, trariam muito mais folga.

      Contudo está mais que na altura de começar-se a pensar a Gestão Financeira do Porto na perpectiva macro e cortar-se nas gorduras evidentes e de resolução fácil, para começarmos a aproximar os proveitos dos custos.

      Eliminar
  4. Acho extraordinário que no orçamento não tenham colocado as amortizações que no ano passado foram de 27M. São custos, não se esqueçam. Terá sido esquecimento?

    ResponderEliminar
  5. Gostava de saber a sua opinião sobre a notícia publicada pelo jornal SOL, nesta sexta-feira, sobre o empréstimo do BES ao Benfica em Dezembro de 2013.

    Ficam aqui os links relacionados com a notícia:
    http://www.sol.pt/noticia/119376
    http://www.noticiasaominuto.com/desporto/313210/milhoes-investidos-no-benfica-sob-suspeita

    Obrigado e parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido neste óptimo blog.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Para ter opinião é preciso saber em que condições isso foi feito.

      Também renegociámos um empréstimo de 30M€ antes da crise no BES rebentar, e nesse caso tivemos que dar o passe da contratação mais cara do clube como garantia e manter o Jackson na colateral.

      Por isso, se numa renegociação de 30M€ foi preciso dar um passe como garantia, imagine-se num empréstimo de 50M€ a uma SAD em falência técnica.

      Eliminar
    2. Terão dado metade da equipa ou até mesmo o estádio como garantia?!

      Eliminar
  6. http://www.publico.pt/economia/noticia/directores-do-novo-banco-foram-constituidos-arguidos-apos-buscas-policiais-1677758

    ResponderEliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.