À 26ª jornada, a primeira derrota. Só por cinco vezes na sua história o FC Porto tinha chegado a esta ronda ainda sem perder no Campeonato, pelo que sofrer uma derrota num ciclo de 26 jogos é mais do que normal, embora custe sempre a digerir. Bastava um deslize para deixar o Benfica a depender de si próprio na luta pelo título, e aí está ele, novamente contra uma equipa que lutava para sair da zona de despromoção.
Dos 11 pontos que o FC Porto desperdiçou neste Campeonato, sete foram consentidos frente a equipas que jogavam para fugir à zona de descida (e os restantes quatro em clássicos). E isso era algo que se prognosticava para esta fase da época: as equipas aflitas a tirarem pontos à parte superior da tabela. Lembremos que nas visitas a Moreirense e Aves ficaram lances de grande penalidade por assinalar, mas esta deslocação à Mata Real mostrou que ter um penálti não é uma garantia de golo, muito menos neste plantel.
Condições de jogo adversas, ausências de peso (estamos há semanas a jogar sem vários titulares - os milagres não duram sempre), apostas que não resultaram e, globalmente, uma exibição de muito pouca clarividência e qualidade. É apenas mais um exemplo de que bastam 90 minutos para inverter a disposição e a forma como se olha para esta luta pelo título: os mesmos que agora atribuem total descrédito a esta equipa talvez sejam os mesmos que já esfregavam as mãos com vista aos Aliados depois das últimas vitórias. Não, e diga-se mais: FC Porto, Benfica e Sporting vão muito provavelmente voltar a perder pontos nas próximas jornadas, mesmo à margem dos clássicos que faltam disputar.
E embora o plantel seja imune ao que se vai passando fora dos relvados, é sempre bom recordar que o FC Porto terá que ganhar e lutar por cada jogo dentro das quatro linhas. Numa semana em que tanto se rejubilou com toupeiras, muitos pareceram esquecer-se de que o maior problema iriam ser os castores. Nenhuma das práticas ilícitas do Benfica vai dar pontos ao FC Porto neste Campeonato. Teremos que ir atrás de cada um dos 24 pontos que faltam disputar. A começar pelo Boavista.
Fórmula Waris (-) - Bola na direita, corre Waris. Abertura para a direita, corre Waris. Bola em profundidade para a direita, corre Waris. O FC Porto insistiu sempre na mesma fórmula na primeira parte, Sérgio Conceição esperou mais uns minutos na segunda e por fim chegou à conclusão: não ganhámos um único lance assim.
Este é um movimento que o FC Porto faz muito, mas normalmente com Marega no papel de Waris. E ainda que também sejam raras as vezes em que Marega ganha a linha ou consegue um cruzamento, Waris foi ainda pior, não tendo conseguido acertar um único lance enquanto esteve em campo. Já se sabia do risco que era trazer, para o papel de reforço de inverno, um jogador que não trazia ritmo, mas Waris revelou-se totalmente inadaptado às dinâmicas da equipa e aos colegas. Assim será difícil ser solução.
Estratégia e resposta (-) - É muito difícil jogar nestas condições. Há que compreender isso. Como não deu para alagar o relvado no Olival antes de viajar para Paços de Ferreira, a equipa viu-se forçada a jogar num contexto para o qual não treinou, e logo privada de quatro jogadores que poderiam ter sido muitíssimo importantes hoje: Danilo, Herrera, Soares e Marega. Embora todos gostemos de recordar o dilúvio de Coimbra e a habilidade de Belluschi, neste tipo de piso os jogos ganham-se sobretudo com presença física e acerto no passe longo. E o FC Porto não a teve.
Aboubakar foi o único a conseguir ganhar alguns lances de corpo a corpo, mas nunca com efeitos práticos na grande área. Entre 15 pontapés de canto, 36 cruzamentos e 61 bolas colocadas na grande área, contaram-se pelos dedos as vezes em que vimos os jogadores do FC Porto criar perigo na sequência deste tipo de lances. Uma boa ocasião de Aboubakar logo após o 1x0, outra de Gonçalo Paciência na segunda parte e pouco mais.
A ineficácia esteve presente, claro. Mas quando olhamos para o banco, naturalmente, viu-se que não havia muito mais a espremer. A aposta em Waris correu mal e ver André André ser titular nesta fase da época é penoso (sobretudo tendo Óliver disponível), pelo que talvez teria sido mais útil entrar logo com Gonçalo de início. Totobola à segunda-feira é fácil, mas entrar neste campo com André André a segurar (?) o meio-campo, a depender da velocidade de Waris pela direita e com a presença na grande área limitada a Aboubakar... E quando a última cartada possível se chama Hernâni... Tinha tudo para correr mal. E correu.
A ineficácia esteve presente, claro. Mas quando olhamos para o banco, naturalmente, viu-se que não havia muito mais a espremer. A aposta em Waris correu mal e ver André André ser titular nesta fase da época é penoso (sobretudo tendo Óliver disponível), pelo que talvez teria sido mais útil entrar logo com Gonçalo de início. Totobola à segunda-feira é fácil, mas entrar neste campo com André André a segurar (?) o meio-campo, a depender da velocidade de Waris pela direita e com a presença na grande área limitada a Aboubakar... E quando a última cartada possível se chama Hernâni... Tinha tudo para correr mal. E correu.
Já a grande penalidade... É sempre um tema difícil de debater. Por que é que bateu Brahimi? Talvez porque durante a semana, nos treinos, foi o que bateu melhor. Se o argelino falhasse as grandes penalidades nos treinos, certamente que não as marcaria nos jogos. De qualquer forma, este foi o sexto penálti batido por Brahimi no FC Porto - marcou três e falhou três. E curiosamente, dos três que marcou, dois foram batidos para o meio da baliza e um passou por debaixo do corpo de... Mário Felgueiras. O mesmo guarda-redes, mas na época passada. Brahimi voltou a atirar para o mesmo lado, Mário Felgueiras voltou a lançar-se para o mesmo lado. Desta vez o FC Porto já não teve a mesma sorte.
E agora? Agora o FC Porto continua na liderança, a depender de si próprio e a obrigar o Benfica a vencer os seus jogos para se manter na luta. Mas a margem de erro, essa, acabou. Por culpa própria, diga-se. Mas liderar este Campeonato à 26ª jornada continua a ser uma prova de superação e, se nos oferecessem esta condição no início da época, não haveria ninguém que não assinaria por baixo. Nos últimos 20 anos, mais pontos só com Mourinho e Villas-Boas, e no pós-Viena mais golos só com Bobby Robson. Se este é um ponto baixo na época, não deixa de ser melhor do que os pontos altos das últimas temporadas.