domingo, 19 de fevereiro de 2017

O Tondela não merecia isto

As críticas foram bem audíveis nos últimos dias. E trata-se, de facto, de uma grande injustiça. O Tondela, na visita ao estádio de um grande do futebol português, perdeu por 4-0. Mas o problema não esteve apenas no resultado final, mas em dois lances nos quais o Tondela foi claramente prejudicado.

Falamos de um penalty e de uma expulsão, imerecidas e injustificadas, que acabaram por prejudicar o Tondela no jogo em causa. Jogar no estádio de um grande do futebol português já é, por si só, complicado. Mas quando a equipa da casa beneficia de um penalty mal assinalado, e vê um jogador do Tondela ser mal expulso, só se pode lamentar o tratamento de que o Tondela foi alvo.

Passando às imagens, o lance em causa é este:


Neste lance, André Almeida não sofre qualquer falta de Pica na grande área. Não havia grande penalidade a favorecer o Benfica, nem o Tondela ficaria sem um dos seus defesas. O Benfica acabou por vencer por 4-0. Venceria de qualquer maneira? Certamente. Mas custa sempre ver um clube modesto, como o Tondela, ser assim prejudicado pela arbitragem em casa de um grande. Felizmente, Gilberto Coimbra, presidente do Tondela, reagiu de pronto a esta injustiça...

Hmm, afinal não. Criticou o Sporting e o Jorge Jesus depois de ir a Alvalade e queixou-se imenso da arbitragem agora que o Tondela perdeu com o FC Porto, também por 4-0. Contra o Benfica, por incrível que possa parecer, Gilberto Coimbra não se lembrou de condenar a arbitragem.

De certeza que não terá nada a ver com isto.


No que diz respeito ao FC Porto, uma vitória sem sobressaltos, ainda que não há-de ser sempre que, no espaço de 3 minutos, a equipa beneficie de um penalty e uma expulsão, momentos que certamente ajudaram a que, na segunda parte, o 4x0 até tenha sido pouco para todas as ocasiões que a equipa construiu. 

53 pontos em 22 jornadas, um saldo bastante positivo e acima das expetativas, sobretudo tendo em conta que, nas últimas 12 épocas, só por 3 vezes o FC Porto tinha mais pontos nesta fase: no segundo ano com Jesualdo Ferreira, na época com Villas-Boas e na segunda época com Vítor Pereira. Três épocas que acabaram em festa nos Aliados. Se há momento para acreditar é este, independentemente do que se passar na eliminatória com a Juventus.




Rúben Neves (+) - Tem que haver algo de extraordinário para Rúben Neves não ser titular no FC Porto. E há: chama-se Danilo Pereira, imprescindível pelo que acrescenta à equipa. Mas Rúben Neves tem a capacidade de dar ao meio-campo do FC Porto uma qualidade de circulação de bola, de amplitude de jogo e de cabecinha a construir (sem Óliver em campo, a sua importância neste aspeto foi ainda maior) incomuns.

Um exemplo. Nos últimos 4 jogos, Danilo Pereira fez 36 passes no meio-campo adversário. Rúben Neves, que joga na mesma posição, fez mais contra o Tondela. 

Rúben Neves vs. Tondela
São jogadores de caraterísticas muito diferentes, o que ajuda a explicar a diferença. Mas Rúben Neves tem essa capacidade: de empurrar a equipa para os últimos 45 metros. O facto do Tondela ter jogado com 10, e ter deixado de pressionar tanto, ajudou a essa subida, claramente, mas é uma capacidade intrínseca no futebol de Rúben Neves: obriga todas as linhas a subir, pela forma como circula a bola. Defensivamente, também não esteve longe do rendimento habitual de Danilo, com 19 ações defensivas, entre recuperações, desarmes e intercepções. O único problema de Rúben é este: só podem jogar 11 de cada vez. Mas pode ter o que nem todos tiveram: muitos anos de FC Porto pela frente.


André André (+) - O seu melhor jogo esta época. Esteve literalmente por todo o lado, impecável no passe (93%), recuperou várias vezes a posse no meio-campo adversário e manteve, em sintonia com Rúben Neves, a equipa equilibrada no meio-campo na transição defensiva. Uma exibição a fazer lembrar o seu grande momento de forma em outubro/novembro de 2015, tamanho que foi o pulmão que foi capaz de mostrar em campo.

André André vs. Tondela
A capacidade de criar (+) - Sim, jogar em superioridade numérica, contra uma das equipas com maiores fragilidades do campeonato, ajuda. Mas foi um dos jogos em que o FC Porto mais capacidade teve de levar a bola a zonas de finalização. Foram efetuados 18 passes que deixaram um colega em situação privilegiada para atirar à baliza e fazer jogo. Foi o recorde desta época, também com grande destaque para o número de entradas na grande área do Tondela (51). Dos 24 remates, 15 foram feitos dentro da grande área do Tondela, o que mostra a facilidade para criar situações de finalização. Além disso, foram efetuados 33 cruzamentos, ainda que desses só 8 tenham tido seguimento direto na grande área. Quando se cria oportunidades desta forma, ninguém terminará o jogo a lamentar a ineficácia: no meio de tantos lances, pelo menos um há-de entrar.

Outros destaques (+) - Mais dois golos para a dupla André Silva/Soares, a revelar um bom entendimento - Soares mais fixo no eixo central, André Silva sempre mais recuado e a cair muitas vezes nas faixas. O golo de Soares foi uma delícia de finalização, a colocar a bola onde quis. Já leva 4 jogos em 3 jogos, uma excelente média - os «dois pares de golos» que se pediam para ajudar o FC Porto na luta pelo título podem já estar feitos -, embora haja ainda muita coisa para melhorar quando é forçado a ir para o 1x1 (foi o único, a par de Rúben Neves, que não fez nenhum drible - não que tenha precisado para marcar) e na forma como tem que perceber as movimentações dos colegas (algo que o levou a ser o jogador com mais perdas de bola em campo). 

Há ainda a destacar que, dos 10 remates que André Silva e Soares fizeram, nove foram efetuados dentro da grande área. Ou seja, a bola está a chegar à grande área e aos pontas-de-lança. Quando assim é, tudo é mais fácil. Palavra ainda para um bom jogo de Corona.




A rever (-) - Os golos e a superioridade numérica na segunda parte ajudam a que isso se «esqueça», mas no primeiro tempo foi nítido, uma vez mais, o fosso que é criado entre o meio-campo e a linha avançada. Faltava muitas vezes alguém para ir receber a bola entre linhas e uma referência no eixo central. André André tinha limites para subir, pois só sobraria Rúben Neves no meio-campo, e Otávio aparecia poucas vezes em zonas interiores. Jogar com apenas dois médios obriga a uma disciplina e versatilidade na dinâmica da equipa que o FC Porto, com estas unidades, ainda não revelou da forma desejada. Isto provocou, algumas vezes, um desequilíbrio na zona central, algo que poderia ter sido muito perigoso - aos 30 minutos já tínhamos os centrais e o médio defensivo amarelados.

Quando se criam muitas oportunidades, a bola acaba por entrar. Mas a forma como foram desperdiçadas várias ocasiões, com André Silva, Soares e Otávio à cabeça, não é coisa para se repetir. Foram ocasiões que, falhadas noutro jogo qualquer, poderiam ter custado caro. Como por exemplo contra a Juventus.

8 comentários:

  1. Boas...

    Realmente a dualidade de critérios e comentários/queixas dos adversários do FCP, quando defrontam os lampiões , é assustador. Também assustadora é a dualidade de critérios da "imprensa" desportiva que mesmo depois das novas imagens que apareceram (tão tarde) em que é nítido o puxão ao Soares, ainda não tiveram o decoro de vir dizer que SIM, é penalti. Mas também de que nos podemos queixar? Já estamos habituados a esta porcaria de imprensa.

    Quanto ao jogo... Penso que o grande problema do FCP foi estar à espera de um Tondela mais fechado. O facto de o Tondela ter subido um pouco as linhas, pôs a nu o meio campo a 2 do FCP. Era incrível, na primeira parte, o R Neves com a bola nos pés e depois olharmos para 4/5 jogadores portistas colados à área do Tondela. Depois bastava um erro ou uma escorregadela e lá vinha o Tondela com o jogador rápido ( que sacou 2 amarelos) a por a defesa do FCP em sobressalto. Tem de haver mais dinâmica na descida de jogadores para tabelar ou receber a bola no meio.

    Continuo a achar que um meio campo a 3 é o ideal para os jogadores que o FCP tem no plantel, sendo que os jogadores actuais permitem bastantes variantes. André andré, R Neves, Herrera, Oliver são jogadores com características bem definidas e que dão ao jogo diferentes opções. So tenho pena que o miúdo Teixeira não jogue mais.

    Mais uma final, mais um jogo e mais uma vitória. Venha a próxima.

    Cmpts

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  2. Parabéns pelo texto, em especial pela introdução ao tema "Tondela".
    Apenas uma nota, no 1 ano de Lopetegui (14-15) tínhamos 52 pontos à 22ª jornada e portanto menos do que actualmente.

    Cumprimentos.

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  3. "53 pontos em 22 jornadas, um saldo bastante positivo e acima das expetativas, sobretudo tendo em conta que, nas últimas 12 épocas, só por 4 vezes o FC Porto tinha mais pontos nesta fase: no segundo ano com Jesualdo Ferreira, na época com Villas-Boas, na segunda época com Vítor Pereira e no primeiro ano com Lopetegui."

    Incorrecto:

    O FC Porto de Lopetegui em 2014/15 (1ª temporada de JL) acumulava na Jornada 22, 52 pontos (actualmente o Porto de NES soma 53 pontos)!

    Correcto :

    FC Porto de Jesualdo 2007/08 (2ª temporada) 22ª Jornada somava 54 pontos!

    FC Porto de AVB 2010/11, 22ª Jornada 62 pontos, é o record de pontos do FC Porto á 22ª Jornada, desde que as vitórias valem 3 pontos (desde a temporada 1995/96)!

    FC Porto de V Pereira em 2012/13 (2ª temporada de VP), 22ª Jornada 58 pontos (era nessa Jornada 2º classificado, e distava 2 pontos do Benfica).

    Já agora, o Porto de V Pereira em 2011&12 (1ª temporada de VP), juntava os mesmos 53 pontos do Porto de NES nesta Jornada 22. Aliás, o actual Campeonato parece ter um padrão muito semelhante ao de 2012, mesmo em termos de calendário!

    Curiosidade, nas ultimas 22 temporadas (desde que a vitória vale 3 pontos), o pior registo pontual do FC Porto à 22ª Jornada, regista-se em 2004/05 (Fernandez/Couceiro), apenas 41 pontos, e nessa mesma Jornada 22 o FC Porto liderava o Campeonato a par do Benfica de Trapattoni! (em contraste, e como foi referido em cima, o melhor registo à 22ª Jornada é de 62 Pontos com AVB)!

    PT

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  4. Boas,

    Parabens pelo blog! Bom trabalho.

    Infelizmente, nao concordo com algumas das opinioes. Apesar de Ruben Neves ter feito mais passes e do AA ter estado em todo o lado, julgo que fizeram e mostraram que tem alguma dificuldade nesse desafio de 2 medios. Quer seja porque a equipa nao ajudou (avancados ou defesas) quer seja por surpresa na tatica do tondela. Acho que falta ao ruben capacidade de entrar e cortar a bola ou matar a jogada (nao tem fisico); e o AA andou a correr feito "tolinho" mas na pratica nao estacava o ataque adversario. Sintoma disso foi o facto do tondela ter dominado completamente o jogo no meio campo.

    um abraco de Estugarda.

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  5. Curiosidades:

    - Sofrer lances duvidosos no Dragão é surreal. Ser roubado na Luz nem merece grandes comentários, desde treinador a direção daquele clube. Nada de novo portanto.

    - Derrota por 0-1 em casa, somando o 5º jogo sem ganhar, é visto como algo extraordinário! Treinador e jogadores estão contentes com este desfecho, tendo entrevistas a referir isso mesmo e não se mostrando muito tristes pela vergonha que estão a ser no campeonato nos últimos tempos. Mas já se esperava este desfecho no domingo.

    O grande problema não é o FCP estar a 1 ponto. O mesmo se passaria se o FCP estivesse a 2 ou 3 pontos. O problema é o FCP depender de si próprio para chegar ao 1º lugar. Esse é o problema, somando ao facto de já se marcarem penaltis a favor do FCP. Mas acredito que nos próximos tempos o polvo vai atacar forte e feio...tipo aquela notícia sobre o Corona ter levado nas trombas de um adepto do FCP. Mas cá estamos, fortes e unidos para os varrer a todos!

    Força FCP!!

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  6. Pena o Ruben precisar sempre de ver um cartão amarelo para começar a jogar bem, tem de aprender a jogar bem mesmo quando não está amarelado.

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  7. Ao contrário de todos os outros posts neste não estou 100% de acordo. Não consigo achar a exibição do Ruben Neves uma grande exibição e não acho que ele seja um grande número 6. Os números dizem uma coisa, mas durante o jogo pudemos ver várias vezes a falta de capacidade do Ruben para pressionar bem como de acompanhar os avançados do Tondela. As dificulades que o Porto sentiu até ao penalty deveram-se em grande parte à falta de eficácia do Ruben Neves que deixou a equipa sempre exposta obrigando muitas vezes os centrais a cometerem faltas para parar ataques perigosos. Secalhar estamos mal habituados por ter um Danilo que sozinho consegue varrer o meio campo todo.

    Saudações portistas e continuação do bom trabalho.

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.