Como esperado, chegou mais um avançado e vários jogadores foram cedidos a outros clubes no último dia do mercado. A principal novidade do dia foi a contratação de Hernâni, que levou Sami, Ivo Rodrigues e Otávio para o Guimarães. Começamos a análise ao mercado por aqui.
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Hernâni assinou até 2019 |
Não teria contratado Hernâni nesta altura. Mas há sempre o benefício da dúvida, e como é claro Hernâni vai receber apoio incondicional enquanto defender as cores do FC Porto, mas o dia de hoje é dedicado a analisar a pertinência e expectativas de cada negócio.
Para mim, mercado de Inverno é sinónimo de identificar carências na equipa e preenchê-las com jogadores capazes de entrar de imediato no 11. Foi assim com McCarthy (tirando a parte chata da CAN), Adriano, Lucho, Janko, Quaresma... Mas nem sempre é possível encontrar jogadores que se enquadrem na relação qualidade/experiência/preço, e depois como Jorge Mendes tem choramingado, a FIFA estragou a festa a algumas pessoas em Dezembro. Adiante. Foi a lesão de Ádrian a levar Lopetegui a pedir mais um avançado, mas teria feito mais sentido ir buscar o tal reforço no início do mês, quando Brahimi e Aboubakar estavam na CAN, e não agora.
Olho para Hernâni e vejo-o a fazer o que Licá fazia no Estoril. Ambos jogavam em equipas de contra-ataque e futebol directo, dependem muito da velocidade e da bola no espaço, não estão habituados a jogar contra equipas que jogam com bloco recuado e que metem o extremo/ala a fechar o corredor com o lateral... E alguns problemas técnicos, como a dificuldade em jogar e decidir no espaço curto. Tendo espaço para partir no 1 para 1, em velocidade, e flectir para a zona central a partir da direita (na esquerda não renderá tanto), pode tornar-se um elemento útil. Passa pelo treinador ajudar Hernâni a evoluir, mas oxalá não tenha o destino de Licá, Djalma ou outros tantos. Sobretudo porque se o Vitória de Guimarães pedia 5 milhões de euros e precisava de dinheiro fresquinho, de certeza que não foi com 3 empréstimos que resolveu os problemas de tesouraria.
Em contas de merceeiro, será necessário o apuramento para os 1/4 da Champions para pagar a contratação de Hernâni, um jogador que à data de hoje não é melhor que Brahimi, Tello e Quaresma, nem dá ares de maior potencial do que Ivo Rodrigues (Ricardo Pereira passa a lateral-direito). Soa a um excelente negócio, mas não para o FC Porto. Mas se isto dá a possibilidade de André André ser reforço no fim da época equilibra mais a balança. Um jogador muito apreciado por cá, por ter a tal raça e mística e de que tanto gostamos, mas que faz em Guimarães aquilo que Evandro também faria perfeitamente (até a bater penaltys atrás de penaltys). Bom com vista à profundidade do plantel, não muito mais que isso, mas que não vale a pena aprofundar já. No fim da época veremos.
Vamos às três saídas para o Guimarães. Sami, como se sabe desde o início, foi uma contratação sem obedecer a lógica desportiva. Vai andar de empréstimo em empréstimo, com o FC Porto a pagar salários a um jogador do qual nunca tirará proveitos. Oxalá se valorize no Guimarães (se fizeres um ou dois golinhos ao Benfica, maravilha) e que seja feliz por lá.
De Otávio já se sabia que era uma aposta da SAD, não de Lopetegui. Por isso é natural que não contasse para o treinador. Tem potencial e talento, e é essencial jogar nesta fase da carreira. Resta saber se o Guimarães, que ultimamente tem dependido imenso da valorização e venda dos próprios jogadores para subsistir, vai ter disponibilidade para dar rodagem a emprestados (com Tiago Rodrigues, por exemplo, correu mal). Com sorte vai poder mostrar-se e talvez ganhar lugar para a próxima pré-época. Entretanto, face à saída de Otávio, nova contratação by BMG para a equipa B, Anderson de Oliveira. Nunca ouvi falar.
E agora o que mais comichão dá na contratação de Hernâni, Ivo Rodrigues. Claro que Ivo Rodrigues não ia ter oportunidades de jogar na equipa principal, e se jogar na primeira liga pode ser bem mais positivo. Mas quase que arrisco a dizer que o Guimarães vendeu gasolina e em troca recebeu uma mota. Irá Hernâni ter assim tantas oportunidades a curto prazo? Se não as vai ter a curto prazo, é porque o FC Porto idealizou a sua contratação num projecto a médio-prazo. Mas para médio-prazo já temos um tal de Ivo Rodrigues, precisamente, e é bom que comecemos a falar um pouco mais de Frédéric. Resta saber se Rui Vitória será um bom treinador para Ivo e Otávio, algo de que tenho dúvidas e que será aprofundado quando ou se for oportuno no futuro. A boa imprensa e os resultados iludem muito e dizem pouco.
Esperamos ver já algo esta época, caso contrário não há justificação possível para esta contratação. Dito isto, bem vindo, Hernâni. Agarra a oportunidade de uma vida.
Kayembe - Quando se soube do verdadeiro negócio Kayembe,
foi defendido que devia imediatamente ser emprestado a um clube de primeira liga. Dito e feito. O Arouca não é o clube ideal para tal, mas pelo menos vai ter a possibilidade de jogar mais regularmente, na sua verdadeira posição (extremo), É um jogador que há que espremer ao máximo, tendo em conta que foi uma contratação cara, muito cara para a época de maior prejuízo da SAD. Parte a loiça, Joris.
Opare - Os melhores momentos de Opare no FC Porto foram aquele «Merry Christmas» no vídeo de Natal. Infelizmente lesionou-se cedo, Ricardo Pereira declarou-lhe guerra (no melhor sentido) pela sombra de Danilo e Ángel chegou numa oportunidade de negócio. Parecia a primeira alternativa para as laterais, passou a ser a última. Até Víctor García lhe passou à frente. O empréstimo ao Besiktas peca por ter que ser o FC Porto a pagar os salários. mas nisto é quase sempre assim. Que jogue com regularidade e que atinga um nível que permita rentabilizar o activo, desportiva ou financeiramente.
Kelvin - Emprestá-lo era essencial. Emprestá-lo ao Palmeiras foi uma má decisão.
A opinião aqui.
Tiago Rodrigues - Uma dúzia de jogos no Guimarães e já estava a caminho do FC Porto. Muito pouco. Terá que evoluir muito e a todos os níveis para ser sequer alternativa ao plantel. Que jogue com regularidade e qualidade no Nacional para que se abram outras portas.
Célestin Djim - Nem tudo o que vem pela auto-estrada de Liège funciona. Mangala é mesmo a excepção. O crédito esgotou-se, mas faz-se um desviozinho para Bruxelas. Boa sorte ao miúdo.
Braima Candé - Contratar jogadores aos rivais tem destas coisas. Coisas que são idealizadas como grandes golpes, mas não saem dos ideais. Boa sorte ao miúdo, com Djim no Freamunde.
Ricardo e Andrés - Ricardo foi dado como certo na Académica e acaba por ficar para ser o... 4º guarda-redes do plantel! Com Gudiño a defender na B e Kadu (já devia ter saído) como alternativa, não há a mínima oportunidade para algum guarda-redes da A ir dar uma mãozinha à B. Andrés Fernández tinha mercado em Espanha, mas também não saiu para rodar. Há mercados periféricos ainda abertos, mas com poucas possibilidades de algo interessante e oportuno surgir.
Reyes - O tal dilema. Para evoluir precisa de jogar com regularidade. Mas só faria sentido ao FC Porto ir buscar um central ao mercado se fosse melhor que Maicon e Marcano. E para ser melhor, seria caro. E para entrar, teríamos que emprestar o central de 7 milhões. Taça da Liga e pouco mais, infelizmente para o jogador.
Rolando - Um caso que se não envergonha, devia envergonhar muita gente. «Quem tiver vergonha que a tenha. Quem não tiver, não tenha.» Boa sorte, Rolando.
Gonçalo Paciência - Repetindo: «(...) E Lopetegui dá o aviso de que quer que Gonçalo fique no FC Porto
«muitos anos». Isto é uma afirmação de um treinador que já está a pensar
em 2015-16 e do que pode fazer com Gonçalo no futuro. Se rejeitou que
ele fosse emprestado à Académica, é porque acha que será melhor ele
ficar a evoluir sob a sua supervisão, em vez de ir agora para a
Académica, aprender fazer a anti-jogo e a jogar para o pontinho e daqui a
duas semanas estar a trocar de treinador, sabe-se lá para quem.»
Até ao verão. Ou Março, que isto do mercado é como o Natal: de ano para ano vai começando mais cedo.