terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Perdão às senhoras: a puta da vergonha ultrapassou os limites

Estamos em vésperas de um importantíssimo jogo da Liga dos Campeões. Neste momento nada mais deve interessar a Lopetegui e aos jogadores do que ganhar ao Basel. Mas não é aos jogadores e ao treinador que cabe reagir com a veemência que se impõe ao recente escândalo da Liga Aliança. Sobretudo quando a imprensa desportiva e o jornal mais vendido do País, a saber o Correio da Manhã, alinham numa estratégia sem escrúpulos, que renuncia a todo o tipo de valores éticos e de procura pela verdade com o único objectivo de não deixar que o escândalo seja tratado nas instâncias devidas.
CM, 17-02-2015

A Liga Aliança visava implementar uma rede de manipulação de verdade desportiva para que só Benfica e Sporting fossem campeões nacionais. Então qual é o melhor remédio para afastar este fantasma que paira sobre Lisboa? Atacar o futebol do Norte. Como é que o CM faz isso? Trazendo à manchete do seu jornal uma notícia de... 2013!!!

E agora vamos mergulhar num mar de maravilhosas coincidências. Esta notícia é de Setembro de 2013 (ler aqui). Quatro gestores do BPN, nomeadamente Oscar Silva e três ex-administradores da linha de crédito automóvel, foram acusados de burla e abuso de confiança pelo Ministério Público. A saber, além de Oscar Silva, foram acusados Mário Martins, Jorge Humberto Costa e Alfredo Miguel Viera Machado.

Basicamente, as linhas de crédito eram atribuídas para comprar automóveis, mas os automóveis não chegavam a ser adquiridos. Foram identificados 10 beneficiários, que tiveram os empréstimos com baixíssimas taxas de juro e sem garantias adequadas. Acabaram, segundo o JN, por pagar tudo o que deviam e celebraram novos acordos com o BPN. Isto em Setembro de 2013.

Quando é que o CM achou pertinente publicar esta notícia? A 12 de Janeiro de 2014. Adivinhem lá em que dia: num dia de um BenficaxFC Porto, onde se o Benfica ganhasse isolava-se na liderança. Mas que belo dia para associar actividades ilícitas ao futebol do norte.

E agora, meus senhores, por obra do Espírito Santo (ou será do anjo Gabriel?), o CM decide publicar hoje exactamente a mesma notícia que já tinha saído em 2013 e que foi repetida em Janeiro de 2014. Então porquê? Porque podem meter na capa que houve dirigentes do Leça, do Salgueiros e do FC Porto entre os beneficiários da linha de crédito de 23M€. Que têm estes 3 clubes em comum? São do Norte. E porquê tentar que voltem a associar-se actividades ilícitas ao futebol do norte? Para que não se fale da Liga Aliança a Sul e que se esqueça o perdãozinho da CM de Lisboa às taxas urbanísticas do Benfica. Bravo, arcanjo, bravo!

CM, 12-01-2014
Este é um assunto mais do que sabido e que remonta a 2013. Mas todos vão querer recordar que Reinaldo Teles, juntamente com o irmão, foi um dos 10 beneficiários do esquema, no valor de 780 mil euros. Que tem o FC Porto a ver com isto? Absolutamente nada. Se Reinaldo Teles arranjou quem lhe concedesse uma linha de crédito com juros baixos e sem garantias, maravilha para ele. Em relação ao FC Porto, não há nada a apontar. Se houvesse, bastava seguir a linha de raciocínio praticada para os lados de Alvalade: «Um vice-presidente depositou dinheiro na conta de um árbitro, mas o clube não tem nada a ver com isso».

Claro que o CM vai falar dos ex-presidentes do Leça, do Tirsense, do Famalicão e de Reinaldo Teles. Dá jeito associar isto aos clubes do norte. Mas sabem quem foi o maior beneficiário deste esquema? Nélson Almeida, em 6,43M€. Para quem não sabe, é um empresário com jogadores nos 3 grandes. Mas vamos lá em mais uma viagenzinha ao passado.

Para que usou Nélson Almeida a sua linha de crédito? Recordando o que diz o JN em 2013, usou para negócios particulares, entre eles comprar um clube chamado Corinthians Alagoano. Que clube especial é este? Um clube que celebrou, por exemplo, um protocolo com o Benfica para despejar um camião de jogadores entre o clube e o satélite Alverca, na altura de Luís Filipe Vieira. Com quantos jogadores desse protocolo ficou o Benfica? Zero. Mas tem que haver aqui um agradecimento, porque um desses jogadores chamava-se Anderson Luiz de Souza.

E este clube especial, o Corinthians Alagoano, que fez no último verão? Transferiu Djavan para o Benfica, jogador que passado 2 meses já estava em Braga. Quem tratou do negócio? O caríssimo Nélson Almeida, beneficiário da linha de crédito do BPN. Mas dá mais jeito falar no Leça, no Tirsense e no Reinaldo, não é CM?

E porque recuperar uma notícia de 2013 não chega, agora Somos Todos Patrício. Podem brincar com o catolicismo, com o islamismo e mais o resto, mas não brinquem com a maior religião de todas: o clubismo. Não, não sai um discurso charlieziano, porque a piada da Sagres foi de facto mau gosto, na medida em que se trata do guarda-redes da Selecção Nacional, que a própria Sagres patrocina.

Só seria bom que dessem um terço do tempo de antena que estão a dar a um anúncio publicitário à Liga Aliança. O frango do Patrício enche manchetes, vai a telejornais, chega a debates televisivos. E a denúncia de uma rede de manipulação de verdade desportiva no futebol português? Zero. Ninguém fala, excepção feita ao Porto Canal. Mas quando fazemos comunicados para desmentir o preço do Hernâni e optamos por não reagir a isto, que fazer?

E agora mais uma coisa giríssima. O mínimo que se pode exigir nas declarações de Bruno de Carvalho é investigar. Se for verdade, que o Benfica seja devidamente punido. Se for mentira, então que Bruno de Carvalho seja julgado pela difamação e descredibilização do futebol português. Por isso, o mínimo que se espera é que a Liga abra o inquérito.

Então adivinhem lá qual é a notícia saída ontem: a Liga quer fechar a Comissão de Instrução de Inquéritos!! Numa altura em que a mais grave afirmação que envolve o futebol português nos últimos anos merece uma investigação profunda, a Liga entende que é hora de fechar a CII. E de forma a tentar evitar somar 2+2=4, o CM avança com a informação altamente pertinente: «O FC Porto esteve sempre contra a CII». Claro, o problema é o FC Porto não querer a CII aberta, não é que ela sirva para abrir a investigação às afirmações de Bruno de Carvalho e desmascarar a Liga Aliança. Brilhante, CM, brilhante.

Pinto da Costa bem dizia que a vergonha não se vende nas farmácias. Mas se se vendesse, o stock estaria esgotado para muita gente.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Que contas, Danilo? (E uma nota sobre a Liga Aliança)

Dentro de duas semanas vamos conhecer as contas semestrais da SAD. Logo quaisquer dúvidas, ou parte delas que possa haver, serão esclarecidas. Mas a propósito do interesse de Barcelona e Real Madrid em Danilo, O Jogo publicou uma notícia que merece a atenção: diz que o FC Porto tem 90% do passe de Danilo.


Isto é uma grande novidade. Porquê? Porque não se ouviu falar em lado nenhum de uma alienação ou venda de 10% do passe. Depois porque no último R&C é dito que a SAD tem 100% de Danilo, a mesma percentagem que é declarada desde o primeiro dia em que a sua contratação foi incluída nos relatórios. Tendo em conta que a informação oficial está à distância de meia dúzia de cliques, ou O Jogo está a dar uma novidade que levanta questões (para onde foram os 10%?), ou cometeu uma imprecisão.

O FC Porto, para efeitos oficiais, tinha/tem 100% do passe de Danilo. Uma SAD pode ter que dar 10% a um clube, mas isso não implica que deixe de ter os 100%. Porque uma coisa é ter uma percentagem do passe, outra é ter direito a uma percentagem de uma venda. Na prática, pode ser o mesmo. É o que vai acontecer quando a FIFA proibir a partilha de passes, algo que já foi explicado aqui. Os fundos/empresários vão deixar de ter percentagens de passes, mas vão passar a ter direito a percentagens de futuras vendas.

Continuando, neste caso de Danilo há um dado que embora nunca tenha sido oficializado pode ajudar a perceber onde foram buscar estes 90%.

As contas do passe de Danilo
«O Porto ainda se comprometeu com o Peixe a lhe repassar 10% do lucro numa futura transação por Danilo», Globoesporte, em Julho de 2011. Sendo Danilo o mais caro activo contratado pela SAD, para desaparecerem 10% teria certamente que ser declarado à CMVM. Por isso o que está aqui em causa são mesmo, ou devem ser, os tais 10% a que o Santos tem direito. 

Danilo já disse que há conversações para renovar o contrato. Na altura ainda não era público que Barcelona e Real Madrid estavam interessados (pelo menos é o que dizem os jornais espanhóis com afiliação aos 2 clubes). Este interesse muda muita coisa. O Barça está impedido de registar contratos até 2016, o que já complica a possibilidade de um leilão com o Real Madrid. Mas seja como for, este interesse só reforça a pressão e necessidade de renovar rapidamente com Danilo. Se o FC Porto não tiver o jogador protegido com maior longevidade no contrato, os interessados no Verão vão querer sempre negociar por baixo (a não ser que haja mesmo leilão e que um puxe pelo outro). Depois, se Danilo por acaso não renovasse, o FC Porto acabaria sempre por ter que vendê-lo no Verão.

Como só se admite que as partes renovem, vamos acreditar que o FC Porto consegue mais um grande negócio e que no Verão Danilo sai por 30M€. A cláusula é de 50M€, mas não vale a pena pensar em mais. Talvez só Dani Alves tenha sido vendido por mais, isto no que toca aos laterais-direitos. Por isso, tomemos os 30M€ como referência.

Pode-se desde já deduzir 3,5M€ para a amortização contabilística do primeiro contrato. Se Danilo renovar, como se espera, é expectável que a amortização suba para um valor que não fugirá aos 5,5M€ (por padrão, o FC Porto nunca renova com titulares por menos de 3 anos - no caso de Jackson, o vínculo foi estendido por um ano, mas as novas condições contratuais entraram logo em vigor, ou seja de 2014 a 2017).

É urgente renovar
Depois, a intermediação. Quando Danilo foi contratado, os encargos foram de 27,12% do valor da transferência (negócio explicado aqui). Que percentagem de intermediação esperar? 10% é o valor referência do mercado de empresários, mas se a contratação de Danilo já foi inflaccionada, poderá acontecer o mesmo na saída? Não se sabe, mas aponte-se para os 10%. Saltam 3M€.

Por fim, os 10% que é suposto dar ao Santos/DIS. São 10% da futura venda ou 10% da mais-valia gerada pela transferência? Se forem 10% da futura venda, saltam mais 3M€. Se forem 10% da mais-valia, à partida saltam 1,7M€. Mas O Jogo diz que o FC Porto só tem 90% do passe de Danilo, algo que se possa crer tratar-se dos tais 10% do passe, não da mais-valia.

Assim, dos 30M€ que à partida seriam o valor da transferência, sobra uma mais-valia de 18,5M€. Considerando que Jackson Martínez pode gerar uma mais-valia entre 20M€/21M€ e que Defour e Mangala já geraram cerca de 25M€, ficam a faltar 2M€/3M€, valor que pode subir pela contratação de Hernâni (ou simplesmente não existir, por via da receita-extra na UEFA). Tendo em conta os jogadores que o FC Porto tem emprestados, este défice, a existir, tem que ser coberto com a venda de excedentários. Assim se mantém a regra de Pinto da Costa de não vender mais de 2 titulares por época, sem que isso implique transitar novamente resultados negativos para 2015-16.

PS: O jornal O Jogo traz à capa, numa frase, o escândalo da manipulação de resultados proposta por parte do Benfica (se não existiu a proposta, que o Benfica não desmentiu, então existe mentira e difamação de Bruno de Carvalho, que coloca em causa a integridade do futebol nacional). Nos restantes jornais, nem uma palavra. Pelos vistos A Bola e o Record acharam que o mais interessante no comunicado de Bruno de Carvalho foi ter chamado Papa a Vieira, a típica frase para entreter o povo. É este o nosso futebol. Mas se o próprio FC Porto não quer/quis reagir, que fazer? Esperar pela Liga? Pela CII? Pelo MP? Pela FPF? Dormientibus non sucurrit jus.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O campeonato da aliança

Ele foi à UEFA, à FIFA, ao Parlamento, esteve em congressos internacionais e sabe lá Deus mais o quê. Sempre com uma missão, dizia ele: a verdade desportiva. Bruno de Carvalho prometeu combater todo o tipo de poderes instituídos, comprou guerras com tudo e todos, e chegou a um ponto onde já ninguém liga ao que diz. Daí que talvez esta sua última declaração seja recebida com a indiferença que vai fazendo por merecer.

Mas Bruno de Carvalho escreveu hoje no Facebook uma das afirmações mais graves dos últimos anos do futebol português, reproduzida abaixo:


Que aliança é esta? Que aliança é esta que ia alternar os campeonatos entre Sporting e Benfica? (Já agora, para não ser sempre o João Perna, quem é este motorista que deixa a porta destrancada para o presidente do clube rival entrar!?). Esta afirmação de Bruno de Carvalho é de uma gravidade tremenda, pois o que bem se pode depreender daqui é uma aliança com vista a manipulação de resultados. Não é? Então com que outra maneira Vieira podia garantir ao presidente do Sporting que agora tudo o que fosse campeonato ia parar a Lisboa?

I'm gonna make you an offer you can't refuse
Nuno Lobo bem disse não necessariamente ipsis verbis que ia fazer tudo para centralizar o poder do futebol português em Lisboa. E Bruno de Carvalho até banalizou a palavra aliança quando decidiu inventar a história dos 12 anos de aliança entre FC Porto e Benfica (como parece claro, estava a referir-se ao negócio Deco, na versão que decide contar), e sobretudo aquando das eleições para a presidência da liga (curiosamente os 3 grandes apoiaram o mesmo candidato em 2012, mas ninguém falou em aliança. Como o Sporting ficou de fora, já havia complô. Lógica!).

Na boca de Bruno de Carvalho, estas afirmações até podem não merecer importância. Mas na boca do presidente do Sporting, a 3ª maior força do futebol português, um clube histórico e centenário, estas afirmações são graves de mais para passarem despercebidas.

Então Bruno de Carvalho, o presidente que luta contra tudo e contra todos pela verdade desportiva, ouviu da boca do presidente do Benfica uma proposta de manipulação da verdade desportiva e não disse nada? Nem uma denúncia? Nem uma participação à Comissão de Instrução e Inquéritos? Andavam estilhaços dos telhados de vidro pelo chão ou quê?

Bruno de Carvalho ouviu da boca do presidente do clube com mais adeptos em Portugal, que mais vezes ganhou o campeonato nacional, que podia entrar numa aliança para o Sporting passar a ser campeão mais vezes. Como é possível garantir isso num campeonato com mais 16 equipas? Que rede de manipulação era esta a proposta por Vieira? E porque é que o Benfica não desmentiu estas acusações (não é uma frase no Twitter, sem destinatório, que pode descredibilizar o assunto)?

Estas questões têm que ter resposta. São afirmações gravíssimas e que colocam em causa toda a integridade do futebol português. São graves para os 3 maiores clubes do futebol nacional. São graves para o Sporting, porque afinal tem um presidente que prometeu lutar pela verdade desportiva, mas escondeu durante 2 anos informações de que o rival ofereceu a possibilidade de entrar numa aliança (se não houvesse a história da tarja, Bruno de Carvalho ia continuar calado?). São graves para o Benfica, que tem um presidente que afinal anda a oferecer alianças, que tanto se escandalizou com o Apito Dourado do qual fez parte (sobre isto, só clicar aqui, poupem-se ao trabalho), mas pelos vistos este campeonato, com ou sem colinho, já está ferido de credibilidade. Por fim é grave para o FC Porto, que após a caça-às-bruxas de que foi alvo afinal podia estar já hoje condenado a não ser campeão. Bastava Bruno de Carvalho ir tomar o café com leite pela manhã a casa de Luís Filipe Vieira.

Por fim fica a questão: Porque havia o Benfica de propor ao Sporting, um clube que nos últimos 33 anos ganhou mais 1 campeonato que o Boavista, a possibilidade de ser mais vezes campeão? Desde quando é que o Sporting é ameaça para o Benfica no futebol actual? Qual seria o interesse do Benfica em tentar ter um Sporting mais forte... se não fosse puxar por uma força para combater a outra?

Bruno de Carvalho acusou Benfica e FC Porto de terem uma aliança. Mas pelo que se pode depreender agora, afinal foi é oferecida uma aliança a Bruno de Carvalho para Benfica e Sporting tentarem entalar o FC Porto e afastá-lo da luta pelo título.

Este já não é o campeonato do colinho. É o campeonato da aliança.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

O jogo das diferenças

Porque falar da luta pelo título é falar de FC Porto e Benfica, a análise à vitória de hoje começa com uma citação do treinador do rival. «Foi o melhor jogo no estádio da Luz», Jorge Jesus, depois do Benfica vencer o Guimarães por 3x0. A estatística diz sempre muito pouco. Ou, por vezes, o suficiente. No quadro abaixo, vemos os números do Benfica na sua vitória contra o Guimarães. No segundo quadro, os números do FC Porto.

Benfica - Guimarães (3x0)
FC Porto - Guimarães (1x0)
Os chatos dos números muitas vezes não passam disso: números. E o futebol é sempre mais do que 2+2=4, é sempre mais do que um quadrado com três vértices. Mas neste caso particular, o que dizem os números é que o FC Porto de «serviços mínimos» consegue ter mais posse de bola, mais remates e apenas menos uma ocasião de golo do que o melhor Benfica da época no estádio da Luz. O dado mais importante: o melhor Benfica da época deixou que o Guimarães rematasse 12 vezes na Luz e que criasse 4 oportunidades de golo. Já o FC Porto que venceu pela margem mínima não deixou o Guimarães criar uma única oportunidade de golo no Dragão.

Tudo isto para dizer para que não há resignação possível. O Benfica versão 2014-15 não é melhor do que o FC Porto. Não joga melhor futebol. Está numa situação confortável na luta pelo título, e sabemos que teremos que sofrer até ao fim, mas não digam que não é possível. Ninguém. O FC Porto também está na situação em que está por alguns erros cometidos no passado. Mas esses erros estão a ser corrigidos, por Lopetegui e pelos jogadores. A nossa luta não se esgota num campeonato, mas a luta por este campeonato está longe de estar esgotada. Podemos não ter tudo para ser campeões, mas temos que dar tudo para o ser. Se fizermos a segunda parte, a primeira torna-se mais fácil.





Iván Marcano (+) - Lopetegui explicou que 6 jogadores estiveram a antibióticos a meio da semana, um deles Indi. Em Basel é normal que Indi regresse, mas temos cada vez mais razões para estar satisfeitos com Marcano. É provavelmente o melhor central no início de construção (rápido, de cabeça levantada e forte no passe longo (mete a bola 4  vezes nos extremos com passes de 40 metros)), raramente faz faltas, é forte na marcação e tem tudo o que um central de equipa grande deve ter. Uma grande valia desportiva para o FC Porto.

Casemiro (+) - O caceteiro foi o jogador que mais faltas sofreu hoje. Sim, comete muitos excessos, mas pela 2ª jornada consecutiva é dos melhores. Com Herrera e Óliver em constante movimento, foi ele a segurar o meio-campo, a dar linha de apoio mais atrás, foi muito agressivo na reacção à perda de bola e após a entrada de Rúben Neves vimo-lo em zonas ainda mais adiantas a pressionar. Já se nota evolução e já tem algo com que justificar a titularidade. 

Óliver Torres (+) - Nada de novo: divinal. Mete a bola onde quer, quando Lopetegui quer, como a equipa precisa. Se o Barcelona tiver um olheiro em condições, em vez que entregar o relatório sobre o Danilo entrega um sobre o Óliver, com pena nossa. É um predestinado e é difícil acreditar que tenha feito 20 anos há pouco tempo e que ainda haja quem ache que não serve para determinados modelos de jogo. Óliver é bom em qualquer modelo de jogo. Se não é, o problema é do modelo, pois este pirralho faz sempre parte da solução.

Evolução (+) - Aquilo que faz do tiki-taka um sistema quase infalível não é apenas a capacidade imensa de fazer 50 passes seguidos, mas sim a forma como a equipa se posiciona de modo a reagir logo à perda da bola. O FC Porto de Lopetegui está fortíssimo neste segundo ponto, na reacção à perda da bola. É a nota de maior evolução até aqui. O FC Porto ganha várias bolas no meio-campo do adversário, muitas vezes logo na primeira linha de pressão, feita pelos avançados. Havia um problema no início da época, que era a forma como isso deixava as costas da defesa expostas. Problema corrigido.

Palavra de mister (+) - O treinador pode pensar no jogo seguinte. Os jogadores não. E muitas vezes para obrigar os jogadores a não pensarem no jogo seguinte, o próprio treinador vê-se forçado a não o fazer. Foi isso que Lopetegui fez. Lopetegui não pensou uma única vez nem em Basel, nem no Sporting. Lopetegui esteve quase 10 minutos a tentar corrigir o posicionamento de Herrera. Fartou-se e tirou-o. No mesmo minuto tira Brahimi, depois de este ter perdido uma bola que deu origem a um contra-ataque do Guimarães. Não poupou ninguém. Depois, há os 3 cartões a Danilo, Alex Sandro e Casemiro. Nenhum deles provocou o cartão e pensar o contrário só ao alcance de iluminados na carequinha. Depois, Lopetegui novamente forte no discurso na conferência de imprensa. Lopetegui está a adaptar-se cada vez melhor à realidade do FC Porto e, muito importante, à realidade do futebol português.

Outros destaques (+) - O Herrera da primeira parte é essencial e rasgou o meio-campo do Guimarães. Danilo e Alex Sandro estiveram bem no apoio ao ataque, embora muitas vezes faltasse a combinação com o extremo. Brahimi, por ironia, fez o golo que lhe foi anulado na primeira volta. Quaresma não consegue ultrapassar um único lateral em velocidade no 1 para 1 junto ao flanco, mas quando vem para zona interior ou procura logo o cruzamento mostra a sua utilidade neste contexto. Jackson hoje não marcou, mas fez o que sempre faz: trabalho incansável e um farol para o resto da equipa. A entrada de Ruben Neves voltou a ser essencial para dar tranquilidade à equipa.





Quem não mata ... (-) - A intenção de Lopetegui depois do intervalo era compreensível: descansar com bola, construir de forma mais lenta, obrigar o Guimarães a abrir e a subir para depois meter o 2-0. O FC Porto deixou de fazer a pressão que fez na 1ª parte. E isso podia ter custado caro. Fazer isso com apenas 1-0 no marcador é arriscado. Basta uma bola perdida na grande área para custar um golo. O FC Porto teve oportunidades para fazer o 2-0 na primeira parte, mas não o fez. Antes de descansar, é preciso matar o adversário. Fará parte da evolução da equipa controlar o jogo de forma mais pautada, mas hoje houve um risco, apesar de nunca ter perdido o controlo.

Bolas paradas (-) - Houve ali uma tentativa de formar uma barreira atrás de uma barreira, um lance estudado, num livre do Casemiro. Mas de resto mantêm-se as críticas de sempre. O FC Porto aproveita mal os pontapés de canto e os livres cruzados para a grande área. Na Champions, as bolas paradas podem fazer a diferença. Nota-se pouco trabalho de casa da equipa neste aspecto.

Readaptar (+/-) - É verdade que temos um Quaresma mais maduro, mais forte tacticamente e que, diz-se, é dos jogadores mais empenhados nos treinos e cresceu muito psicologicamente com Lopetegui. Hoje foi dos jogadores que mais vezes procurou desequilibrar e cruzar, mas há algo que urge rever: a tentativa de ultrapassar o lateral no 1 para 1 junto ao flanco. Quaresma não ganha um lance em velocidade aos laterais do campeonato português. Já tem 31 anos e são pouquíssimos os extremos do futebol mundial que ainda têm o pico que se pede no 1 para 1 com esta idade. Quaresma não é excepção. Quando vem para zona interior e aposta no drible mais curto, torna-se um jogador importante. Evoluiu muito no futebol de primeiro toque e no apoio ao meio-campo, mas tem que deixar de tentar rasgar no 1 para 1 pelo flanco, pois não tem velocidade para ultrapassar os laterais. Readaptar é necessário.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Não temos de pagar as contas do Benfica

O caríssimo benfiquista Henrique Raposo sofre, tal como muitos simpatizantes do seu clube, de uma grande revolta interior contra a Fundação PortoGaia, criada em 1999 para construir e gerir o centro de treinos do FC Porto. Num texto de opinião, mostra-se escandalizado por esta obra construída com recurso a dinheiros públicos estar à disposição do FC Porto por «500 euros por mês». E esse número está a ser hoje, vá-se lá imaginar porquê, muito repetido por adeptos do Benfica. Vamos então fazer essa coisa extremamente complexa que é abrir os Relatórios e Contas da SAD.

Relatório e Contas da SAD 2012-13

Relatório e Contas da SAD 2013-14
Primeiro foram os pães, depois os peixes, agora o milagre da multiplicação chega à renda pela utilização do centro de treinos. Parece que os 500€ engordaram um bocadinho, oh Henrique e caros demais.

Agora que os chatos dos números desmentem a história dos 500€, vamos lá antecipar a crítica: pagar mais de 36 mil euros de renda é muito pouco por um centro de estágios construído com recurso a dinheiros públicos, não é? Agora cá vai uma perguntinha: para que é que serve um centro de treinos? A resposta não é difícil: para treinar e para desenvolver jogadores. Que é que o FC Porto faz quando desenvolve jogadores até um certo patamar? Vendas milionárias. E sabem quem é que beneficia com essas vendas milionárias? O Estado. Quanto beneficia? Cá vai uma pista.


Isto da matemática nem sempre é simples. Mas vamos tentar acompanhar o raciocínio: o FC Porto consegue meter no Estado 20 milhões de euros de impostos num ano (15M€ da SAD e 5M€ do clube). Sabem de onde é que vem esta tamanha capacidade de receita? Através das transferências de jogadores. E sabem onde é que o FC Porto evolui esses mesmos jogadores? Através do centro de treinos PortoGaia, que custou 16M€. Concluindo, parece que o FC Porto, ao utilizar uma instalação pela qual o Estado pagou 16M€, consegue meter num só ano nesse mesmo Estado 20M€, além da renda prevista para os próximos 50 anos e da manutenção do recinto. Querem fazer as continhas para os anos todos na última década? Uma antecipação: o dinheiro que o FC Porto já meteu no Estado em impostos pagava o centro de treinos PortoGaia, o Centro de Estágios do Seixal e dava uma ajudinha para pagar o Estádio da Luz. É que a CM de Lisboa, coitada, parece estar a carregar o fardo todo.


O FC Porto, esse clube que lesa os contribuintes, é o único que vai acabar de pagar o seu estádio sem necessidade de reestruturação, já em 2018, cumprindo sempre minuciosamente todos os prazos de pagamento e sem um empurrãozinho urbano. Dragão e Centro de Estágios PortoGaia, duas infraestruturas através das quais o FC Porto, além do rendimento e prestígio desportivo que oferece ao País a nível internacional, já ofereceu imensa rentabilidade em termos fiscais. 

E enquanto o FC Porto coloca anualmente milhões de euros em impostos no Estado pelo seu sucesso desportivo, mais do que qualquer outro clube português, acontecem coisas como estas:


Curioso, poucos se insurgiram quando o Estado perdoou uma Fundação PortoGaia, com mais um milhãozito de despesas, a Luís Filipe Vieira. E o presidente do Benfica insurgiu-se, e bem, perante o perdão de dívida - reestruturação, é mais fino - ao Sporting, como podemos recordar:


Para encerrar, uma única questão: será que Luís Filipe Vieira e os demais benfiquistas também se vão insurgir contra este novo perdão de dívida?

Arrumar a casa antes de comprar mobília nova

Em 2011-12, o FC Porto teve custos com pessoal de 49,59M€, que incluíam os prémios pela conquista do título de campeão nacional (que têm um impacto considerável, sobretudo porque a receita pela conquista do campeonato não chega para pagar os prémios por ser campeão). Três épocas depois, esses custos serão de pelo menos 70,9M€.

Este aumento de quase 43%, sem um crescimento de receitas que o suporte, não se deve apenas à contratação de jogadores mais caros nos últimos anos, mas também pela criação da equipa B, que agravou a massa salarial do clube. Isto porque não nos limitamos à lógica de deixar que a B seja uma extensão para os Sub-19. Jogadores bem pagos, com contratos de longa duração, intermediações e compras de passes inflaccionados, um pouco de tudo vai aumentando os custos.

Quem merece a 2ª vida?
Como se sabe, a equipa B dá prejuízo, pois por si só não gera receitas. A única maneira de tornar a equipa B rentável financeiramente é promovendo jogadores à equipa A e, mais tarde, transferi-los após se valorizarem. E há mais uma listinha de compras a caminho.

Mas a equipa B, acima de tudo, devia implicar uma coisa: o fim do camião de jogadores emprestados a outros clubes. Algo que urge rever, pois o FC Porto já não está apenas a suportar a massa salarial dos excedentários (raramente os outros clubes cobrem a totalidade ou sequer parte do salário) mas também a sustentar uma equipa B, que só dará frutos no médio prazo. O FC Porto continua a ter diversos jogadores emprestados que nunca vão jogar na equipa A.

Por vezes é difícil arranjar colocação, mas também pode ser melhor assumir o prejuízo em algumas compras do que a andar a arrastá-lo entre empréstimos que não levam a lado nenhum. Se os representantes da mercadoria estão insatisfeitos por o FC Porto não ter valorizado o seu produto, problema deles, pois também é trabalho seu arranjar soluções para a mercadoria.

Independentemente da vontade de apostar na equipa B e de haver segundas-linhas que na próxima época vão saltar para titularidade, é claro que a SAD vai procurar algumas soluções no mercado para 2015-16. E antes de comprar mobília nova, então convém esclarecer, em comunhão com Lopetegui, a situação de cada jogador emprestado pelo FC Porto. Quem tem hipóteses de regressar em 2015-16? Quem pode beneficiar de mais um ano emprestado? Quem tem mercado para sair já? Seja qual for a solução, se houve erros na contratação de alguns jogadores, que se assuma. Porque não há pior erro do que não assumir os erros.

Licá - 1,5 milhões de euros por 60% do passe, mais comissão de 10%. Contrato até 2017. Bom profissional, mas sem características para singrar no FC Porto. Nem hoje, nem amanhã. Há que transferi-lo no final da época.

Abdoulaye - Tem contrato até 2016 e há possibilidades de renovar. Para quê? É a questão. Um ex-júnior vindo do Senegal em quem o FC Porto já investiu mais de 1,5M€. Tem 24 anos, já deu provas de algum potencial, mas a temporada no Rayo não tem sido particularmente boa, tanto dentro como fora dos relvados. É a 4ª vez que é emprestado. O FC Porto tem 3 centrais a 100% (Marcano, Maicon, Indi), um central de 7M€ para rentabilizar (Reyes) e um diamante na B (Lich), isto para não falar nos Sub-19 que vão ser promovidos. Há espaço para Abdoulaye? Não. Mas se o seu empresário diz à imprensa e ao jogador que Dortmund, Liverpool, Benfica e sabe-se lá quantos mais já o quiseram, então não há-de ser problema nenhum encontrar uma boa proposta no verão.

Ghilas - Jogador muito caro (3,8M€ por 50%), com contrato até 2017. Podia ser uma solução alternativa, podia, mas não se conforma com o banco e Lopetegui não terá ficado muito entusiasmado com o que viu. Joga com regularidade no Córdoba, mas muitas vezes encostado a uma ala e aparentou ter ganho peso. Procurar uma solução no mercado deve ser seriamente considerado.

Kléber - Investimento total de 4,2M€ em 70% do passe. Não digam que não tem qualidade, porque tem. Já todos vimos. Mas o desgaste é notório. A maneira como humildemente se expôs a exibições pouco memoráveis na equipa B não ajudou. Está a fazer golos no Estoril e restaurou a sua imagem a nível nacional. Agora o grande problema: o contrato acaba em 2016. Das duas, uma: ou sai já no verão, ou renova para fazer parte do plantel. Renovar para ir rodar noutro lado não é compreensível.

Pedro Moreira - Vai fazer 26 anos, esteve 5 épocas emprestado e passou mais 2 anos na B. Se até aqui nenhum treinador o quis na equipa A do FC Porto, não será depois disto que vai acontecer. Joga com regularidade no Rio Ave, tem contrato por mais um ano. Não faz sentido renovar. Não conta como jogador formado no FC Porto e não seria mais do que uma solução de profundidade no plantel. Os adeptos gostam dos Castros, mas esquecem-se que os Castros não são burros e sabem perfeitamente se têm ou não hipóteses de serem titulares no FC Porto. Se não são, querem sair. O amor à camisola não combina com o banco de suplentes durante muito tempo.

Tozé - Tem mais um ano de empréstimo ao Estoril. Só lhe fará bem, melhor do que estando aqui. Contrato até 2017.

Varela - Contrato até 2016, sem hipóteses de regressar ao FC Porto, depois do presidente praticamente o ter condenado ao rótulo de mercenário numa entrevista ao Porto Canal. Sim, Varela quis sair para ir ganhar dinheiro. Faltou foi mencionar a parte em que tal como Deco, Jackson ou demais, Varela também teve a promessa de ficar mais um ano e depois sair. O problema é que não teve mercado para isso no último verão. Já podia ter saído antes por propostas vantajosas, mas o timing falhou. E agora? Assumir e deixar o jogador sair no verão. Lopetegui de certeza que gostaria de ter um extremo como ele, mas depois desta época de empréstimos irrisórios não sobram muitos argumentos. 

Quiñones - Mais de 2M€ investidos num lateral para depois andar a jogar com o Mangala a lateral-esquerdo. Joga com regularidade no Penafiel, mas sem evoluir no sentido de ser solução na próxima época, embora ainda seja jovem (22 anos) e esteja pela primeira vez a jogar com regularidade na primeira liga. Tem contrato até 2016. Que fazer no verão? Renovar com um lateral de 2M€ sem saber se vai ter hipóteses de jogar na equipa A não seria lá muito recomendável. Se um contrato de 4 anos não chega para um jogador relativamente caro mostrar se serve para o FC Porto, algo de errado haverá.

Bolat - No 1º trimestre de 2013-14, o FC Porto contratou 3 jogadores: Ghilas, Quintero e Bolat. Aparece o custo de Ghilas (3,8M), o de Quintero (5M) e aparecem depois 1,89M de encargos, que não é discriminado. Esse encargo é Bolat? Não é esclarecido. Se Kayembe veio de Liège sem contrato e depois acaba por custar 2,65M€, o custo zero de Bolat também pode levantar muitas questões. Tem contrato até 2018. Passou a primeira época praticamente a treinar, foi rodar para o Kayserispor e agora emprestaram-lo para ser suplente de Muslera no Galatasaray (quem no seu perfeito juízo achava que ia ser titular?). Tem contrato por mais 3 anos e tudo leva a crer que foi contratado para ser mercadoria. Não necessariamente rentável para o FC Porto. Pelo contrário, até ver, só prejuízo. Uma venda no verão ou a inclusão na equipa A, nada mais se admite. 

Opare - Também veio pela via de Liège, com contrato até 2018. Não conta para Lopetegui e foi agora emprestado ao Besiktas. Se não jogar com regularidade, não entra nas contas para a próxima época. E se assim não for, não valerá a pena arrastar mercadoria. Mas se foi a custo zero, não há muito a perder, não é?

Walter - Custou 6M€ por 75%. Claro que hoje em dia é considerado um dos maiores flops da história do FC Porto, mas na altura não nos enganámos na compra: era um jogador de enorme potencial, com enorme faro de golo, talentoso e um touro em campo. O problema é que tem uma coisa maior que o potencial e o faro pelo golo, a barriga, e uma coisa mais pequena que tudo o resto, o cérebro. Um belo problema para resolver. A sua transferência envolveu a participação de um fundo e os fundos não ficam com prejuízo, por isso podem esquecer a partilha de risco. A SAD já teve que renovar com ele até 2017 para o emprestar ao Fluminense, que não quer pagar a participação, o que vai forçar a que se procure nova colocação. Temos 15% de um fardo.

Josué - Contrato até 2017, provas de valor no plantel mas inconformado com o banco. O Bursaspor diz que o quer comprar. Com uma proposta interessante, não devem ser colocados entraves a tal, até porque custou 500 mil quando foi resgatado ao Paços. A entrevista que deu ao Mais Futebol diz muito sobre como encara o futuro (ou a falta dele) no FC Porto de Lopetegui.

Djalma - À espera de quê? Pois é. Tem contrato até 2016 e tem que sair no verão, forçosamente. Até porque já tem sucessor no cerne da questão.

Sami - É preciso dizer alguma coisa?

Carlos Eduardo - Foi notícia em França por marcar 5 golos num jogo. Teve alguns bons momentos a época passada. Vimo-lo fazer grandes jogos, grandes golos, mas também com uma preocupante inconsistência. Tem contrato até 2017 e custou pelo menos 900 mil euros por 80% do passe. Se Lopetegui não encontrar espaço para ele no verão, há que estar atento a possibilidades de mercado que se possam abrir, sobretudo em França.

Izmailov - Processo extremamente bem gerido pela SAD, devido aos problemas particulares que afectaram o jogador e que poderiam ter tido um desfecho trágico. Teve direito a uma segunda vida na Rússia, felizmente. Tem contrato até 2016, mas vai sair no fim da época. Não há muito mais a dizer.

Kelvin - Situação já analisada aqui. Em relação a Ivo Rodrigues, Otávio, Kayembe e Tiago Rodrigues, saíram recentemente e as suas situações também já foram aprofundadas nos últimos posts. A possibilidade de ingressar no plantel principal é indicada pela ordem dos nomes.

Outros casos - Braima e Célestin nem na B mostraram serviço, logo não há muito a dizer. Junior Pius tem sido uma desilusão no Aves, após ter feito alguns bons jogos nos Sub-19. Rúben Alves prometeu muito quando chegou do Boavista, mas nem na III divisão joga. Caballero joga com muita regularidade no Aves, mas em 9 golos 5 são de penalty. Se possível, procurar uma solução de primeira liga para o jogador na próxima época, para tentar ver se ainda há ali qualquer coisa do miúdo que aos 16 anos fazia golos na Libertadores, caso contrário não vale a pena enganar ninguém. Estão 1,5M€ investidos nele.

São estes os jogadores emprestados pelo FC Porto e cujos casos merecem ser revistos (e resolvidos) no fim da época. Quanto mais cedo a casa for arrumada, melhor para o cinto. Até porque conseguir bons negócios com excedentários pode reforçar as condições do FC Porto para atacar o mercado em 2015-16, ou reforçar as condições para manter um jogador do actual plantel.

PS: Um bom mecanismo de defesa para a SAD seria, ao invés de dar contratos de 4 ou 5 épocas, reduzir a duração dos contratos mas salvaguardando a possibilidade de accionar opções de extensão por 1, 2 ou até 3 épocas. O FC Porto raramente fica com cláusulas de prolongamento de contratos. Porque não considerar esta hipótese? Reduz o risco para o curto prazo, com contratos mais curtos, mas salvaguarda a posição da SAD para manter os activos no futuro. Talvez por defender melhor os clubes é que os empresários não achem muita piada a este modelo.

PS2: Hoje se visse o Fidel era capaz de lhe dar um abraço. Já há comunicado por os caraças dos comunistas terem permitido que o Quintana e o Alexis atravessassem o Atlântico?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Jackson Martínez: um ponto de situação

Jackson Martínez podia fazer juras de amor nas redes sociais, podia bater 50 vezes no peito quando marca golos e beijar o símbolo em todos os festejos. Mas não. Jackson prefere, semana após semana, ser um poço inesgotável de força no ataque do FC Porto, luta como ninguém, leva porrada como nenhum outro ponta-de-lança em Portugal (vejam lá quantas faltas vai sofrendo), faz golos como poucos, bate recordes e lidera uma equipa que, sem ele, talvez estivesse numa situação bem mais complicada.

Isto a propósito da entrevista que Jackson Martínez deu, a admitir pela enésima vez a saída do FC Porto, mas desta vez indo mais longe e dando-a como certa. Nunca é bonito ver um jogador com contrato (renovado) com o FC Porto dizer isto, muito menos tratando-se do capitão, mas este é apenas um exemplo de que não se deve ir pelas letras gordas. 

Jackson diz o que já todos sabem: vai deixar o FC Porto no fim da época. E diz aquilo que tem feito: pretende defender o FC Porto com empenho e profissionalismo até ao final da época. Tomara que todos dessem entrevistas como Jackson mas se portassem como ele em campo. Ele já sabe que se dá uma entrevista vão perguntar-lhe sobre o mercado, e seria bom resguardar-se. Mas a partir do momento em que o CEO da SAD diz numa entrevista internacional que os jogadores no FC Porto têm ciclos de 3 anos para sair, então ninguém se pode escandalizar com tal. Os jogadores, assinando pelo FC Porto, já sabem que em 2 ou 3 anos evoluem no sentido de ir para grandes clubes estrangeiros. São raros os jogadores que sendo titulares indiscutíveis durante 3 épocas não tenham mercado para outros voos.

Por isso, já sabemos que Jackson Martínez vai sair no fim da época. O que é uma faca de dois legumes. O FC Porto, sobretudo para esta época, é refém do próprio prejuízo colossal apresentado em 2013-14 e tem forçosamente que vender. Jackson e o seu empresário também já disseram publicamente que vai haver transferência no fim da época. Então como haver um clube que chegue e faça uma proposta acima dos 30M€ sabendo que o FC Porto tem que vender, quer queira quer não?

Sabendo que Jackson Martínez vai sair, seria bom que a SAD desse ordem para jogadores e empresários fecharem a boca na próxima época. Com as regras do Fair-Play Financeiro, vai ser cada vez mais difícil vender jogadores por grandes quantias. O FC Porto tem conseguido vender jogadores sem haver leilão. Um interessado, uma proposta, uma transferência. Foi assim com Hulk (Zenit), James e Moutinho (Mónaco), Mangala (Manchester City)... 

... e agora com Jackson Martínez? Se houver apenas um único interessado em contratar Jackson Martínez, porque haverá esse clube de chegar perto dos 30M€ sabendo que o FC Porto está obrigado a vender? A posição negocial do FC Porto ficou fragilizada e reduzida com este afirmar público de que no fim da época Jackson Martínez vai sair.

A salvação está num leilão. Será necessário que haja pelo menos 2 clubes a competir por Jackson Martínez, um a puxar pelo outro, de modo a que fiquem perto dos 35M€ da cláusula de rescisão. Mas com o Fair-Play Financeiro, vai ser cada vez mais difícil ver clubes a perderem a cabeça, sobretudo por um ponta-de-lança que faz 29 anos este ano, que já é bem pago no FC Porto e que joga num clube que tem que vender.

É possível que o FC Porto já tenha uma venda idealizada, mas uma coisa é ser Jorge Mendes a intermediar o negócio, outra será alguém que caiu por aí de pára-quedas e que nunca ofereceu um único negócio digno de registo ao FC Porto. Se Jackson Martínez por acaso conseguir sair por uma proposta na ordem dos 30M€, terá que haver muito mérito a atribuir a alguém.

Resta saber quão significativa será esta venda quanto ao impacto nas contas. Idealmente, terá que ser feita até 30 de Junho. Luiz Henrique Pompeo já vai levar 5% da transferência, a propósito da renovação, e seria o cúmulo se além destes 5% ainda levasse comissão na ordem dos 10% (a percentagem referência no mercado, nem sempre seguida). Mas não surpreende que assim seja, porque uma renovação e uma transferência no espaço de 1 ano dão muito trabalho. Depois, excluir 2,4M€ para a amortização contabilística pelo último ano de contrato aquando da transferência. Pela renovação, também uma dedução na ordem dos 2M€. Depois resta saber se há prémios de fidelidade no contrato de Jackson.

Considerando uma transferência na ordem dos 30M€, sobrarão 20/21M€ para contabilizar como mais-valias. Num cenário mais optimista como descrito pelo Rogério Almeida nos comentários, com Jackson Martínez saindo pelo preço da cláusula o valor sobe 5M€. Contando com 25M€ de Mangala e Defour, mais pelo menos 20M€ (menos não poderá ser) de Jackson Martínez, ficam a faltar pouco mais de 20M€ em mais-valias para 2014-15 (o valor pode subir pelo investimento em Hernâni). Um objectivo exequível, mas será preciso que alguém abra os cordões à bolsa para a regra do presidente não vender mais do que 2 titulares por época se cumpra.

De recordar que Jackson Martínez, tal como Danilo, serve de garantia no empréstimo com o Novo Banco de 27M€, que foi renegociado e que vence em Setembro. É, a par da renegociação do empréstimo obrigacionista em Maio (para 2019 ou 2020, forçosamente), o grande desafio da SAD para 2015 no que toca ao cumprimento das obrigações financeiras, sabendo-se que a receita a receber da PPTV também está encaminhada para o Novo Banco.

PS: Depois da derrota na Madeira, estávamos a 9 pontos. Duas semanas depois, estamos a 4. Em 2011-12, a 12 jornadas do fim estávamos a 5 pontos do Benfica, tínhamos que ir à Luz, duas vezes à Madeira, a Braga e receber o Sporting. Acabámos por ser campeões com 6 pontos de avanço. Faltam 14 jornadas para o fim de 2014-15. Que ninguém diga que é impossível.