A questão dos guarda-redes já aqui foi abordada em dois pontos, primeiro há um mês, quando O Tribunal do Dragão ouviu que Lopetegui não confiava nas soluções que o plantel já tinha, e mais recentemente quando Navas passou a alvo prioritário. Uma questão que merece voltar a ser aprofundada, numa altura em que a chegada de Navas conheceu vários entraves.
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Fabiano sabe que é segunda opção |
Ao contrário do que escreveu alguma imprensa, Lopetegui não escolheu Navas por causa das exibições no Mundial. Pelo contrário, o Mundial só confirmou aquilo que o treinador já defendia: Navas é melhor do que as soluções que o plantel tem para oferecer. Mas também caro. O guarda-redes rapidamente se mostrou receptível ao convite do FC Porto, pois sabe que aqui seria titular indiscutível - Lopetegui, ao pedir o maior investimento de sempre num guarda-redes da história do FC Porto (nunca um guarda-redes custou mais do que 3 milhões de euros, a proposta que o Levante rejeitou), teria que defender e justificar a sua opção até ao limite. Além disso, 1 milhão de euros líquidos/ano era um salário perfeitamente apetecível - ao contrário do que alguns adeptos pensam, é este o vencimento médio para um jogador internacional contratado no estrangeiro pelo FC Porto, até porque os jogadores são pagos em contratos a 10 meses/época e sem subsídios (que são substituídos pelos prémios colectivos/individuais).
Com ou sem Navas, Lopetegui já criou o seu primeiro desafio: o tal atestado de incompetência aos guarda-redes que já aqui foi tema. Independentemente de Navas chegar ou não ao FC Porto (o Bayern Munique tem o dinheiro, mas não o trunfo da titularidade; o Atlético chegou a poder prometer dinheiro e titularidade, mas virou-se para Oblak; e então será a vez do Benfica agitar o mercado por um guarda-redes...), Lopetegui já deu sinais óbvios a Fabiano, Kadu (que na equipa B até pode tirar espaço a Andorinha e Filipe Ferreira, mais jovens e promissores) e Ricardo de que não conta com eles para número 1 (Helton ainda tem uma longa recuperação pela frente e dificilmente fará mais do que o jogo de «despedida», se fizer).
Fabiano, quando foi interpelado no aeroporto com a possível vinda de Navas, fugiu àquilo que é sempre recomendado pelo departamento de comunicação. Dizer que «estou concentrado no meu trabalho», o «importante é o FC Porto» ou «não sei nada dessas especulações, estou concentrado na equipa». Mas Fabiano disse antes uma frase-chave: «Estou ao corrente dessas notícias». Fabiano já sabe que Lopetegui não conta com ele para número 1, mas depois lá respondeu com elegância, ao prometer que ia lutar para ser titular. No entanto, o mal já está feito: Lopetegui sentenciou antes do primeiro treino que precisa de um guarda-redes melhor. O que está em causa não é a razão para o pedido, até compreensível por algumas lacunas de Fabiano, mas o desafio para lidar com as suas consequências. O tal atestado de falta de qualidade.
De Bolat a Caballero, um mau exemplo
De guarda-redes para guarda-redes, falamos em Bolat. Um exemplo de como a SAD não deve gerir um futebolista nem confundir o mesmo com mercadoria, independentemente de numa possível venda Bolat render algum dinheiro. Vamos seguir os passos. Sem ingenuidade e tabus.
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Bolat, exemplo para não repetir |
Bolat foi contratado, em 2013, através da rede Liège-D'Onofrio, que já trouxe o rentável e excelente Mangala, o pouco produtivo Defour, a razoável surpresa Kayembé e mais recentemente Opare e Célestin Djim. Negócios que envolvem a alienação de passes (que em 2011/12 foi uma absoluta necessidade para fazer face às despesas correntes, pois a SAD gastou demasiado em apenas 4 jogadores - Danilo, Alex Sandro, Defour e Mangala - e nenhum deles um match-winner) e que não são exemplos de transparência. Nenhum. Mas falamos apenas em Bolat.
Bolat foi descrito como uma oportunidade de mercado. Afinal, trava-se de um guarda-redes que já foi uma promessa na Bélgica e 24/25 anos é uma idade jovem para um jogador na sua posição. Mas já havia Helton, Fabiano, Kadu, e ainda Stefanovic e Matos (duas contratações que nem merecem comentários) na B. Esteve meio ano encostado, na segunda metade da época foi emprestado à Turquia. Quanto custou o custo zero de Bolat? Boa pergunta.
Bolat foi descrito como uma oportunidade de mercado. Afinal, trava-se de um guarda-redes que já foi uma promessa na Bélgica e 24/25 anos é uma idade jovem para um jogador na sua posição. Mas já havia Helton, Fabiano, Kadu, e ainda Stefanovic e Matos (duas contratações que nem merecem comentários) na B. Esteve meio ano encostado, na segunda metade da época foi emprestado à Turquia. Quanto custou o custo zero de Bolat? Boa pergunta.
O Tribunal do Dragão ouviu que o FC Porto não tem 100% do guarda-redes, nunca teve, e que desde a sua transferência uma terceira parte ficou com direitos já a pensar numa futura venda. Como já aqui foi dito, a operação pode até dar lucro ao FC Porto. Mas será que Bolat pode ser vendido por uma verba tão grande que justifique tratarmos um jogador como mercadoria? E será que vai cobrir os custos?
No primeiro trimestre de 2013-14, o FC Porto só contratou 3 jogadores. Quintero, Ghilas e Bolat. O primeiro custou 5 milhões de euros por 50% do passe. O segundo, 3,8 milhões de euros por 50%. Já o nome de Bolat... não aparece. Aparece, isso sim, um encargo de 1,89 milhões de euros, que não é discriminado. E depois, as 3 entidades a quem o FC Porto pagou pelas três transferências: Ricardo Calleri, que é sabido ter sido o responsável pela vinda de Quintero, e as entidades C.B.Nafricatalentssport, Lda. e JOD-Gestão de Carreiras Desportivas, Lda. Então, se é também sabido que Jorge Mendes foi responsável pela vinda de Ghilas (embora não seja o seu empresário) e que Luciano esteve envolvido no negócio Bolat, boa sorte em encontrar as pontas soltas e o outro lado do túnel.
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Nem A, nem B |
À margem deste mau exemplo, o que preocupa é, como já foi dito, tratar um jogador como mercadoria. Há duas semanas, Bolat disse isto numa entrevista: «Trabalho a força, a condição física e a velocidade de reação. Vou estar mais pronto do que nunca quando voltar ao Porto». Prometia corresponder ao investimento que fizeram nele e até disse que estava a fazer 2 treinos por dia. Então, começou a pré-época... e Bolat nem sequer está na lista para a pré-temporada. Mas há 2 semanas já se sabia que Lopetegui queria outro guarda-redes. Então, porquê alimentar a ilusão de um profissional? Mas importante: quem a alimentou?
Mais um caso, Mauro Caballero, que em Maio dizia à RR que tinha confiança e esperança em Lopetegui para chegar à equipa A. É sabido que Gonçalo Paciência é o único ponta-de-lança para começar a pré-temporada. Onda está Caballero? Tal como Bolat, nem na lista apresentada pelo FC Porto se encontra, e no Olival nem sinal dele. Só para refrescar a memória. Estamos a falar de um jogador que envolveu um litígio e a FIFA; um jogador que fez capas de jornais a ser apresentado como alternativa imediata a Jackson; e que mal chegou relegou logo André Silva e Gonçalo Paciência, os dois mais promissores avançados portugueses, para segundo plano.
Mais um refresco: em janeiro de 2013, o advogado Gerardo Acosta garantia que o FC Porto ia pagar 365 mil euros, apenas por direitos de formação. Chegou o Relatório e Contas e o que se viu foi 1,53 milhões de euros pagos à MHD, S.A. Um ajuda a tentar localizá-la: está algures entre a C.B.Nafricatalentssport, Lda. e a JOD-Gestão de Carreiras Desportivas, Lda. E não vamos recordar Quiñones, que custou 2 milhões de euros e não aparece no grupo de trabalho nem da equipa A nem da B, porque já terão percebido a ideia, certo?
Mangala, o melhor exemplo na pior altura
O FC Porto já vendeu jogadores à nata do futebol mundial, Juventus, Barcelona, Real Madrid e Manchester United. Mas nos últimos anos tem sido, sobretudo, um vendedor de jogadores aos chamados novos ricos. Transferências onde o dinheiro diz mais aos jogadores do FC Porto do que propriamente a grandeza do destino. Foi assim com Falcao para o Atlético (que na altura ainda não era de Champions), Hulk para o Zenit ou até James e Moutinho para o Mónaco, num caso mais particular.
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City ofereceu 40 milhões de euros |
Por isso, talvez nenhum adepto do FC Porto imaginaria que algum jogador pudesse recusar, nesta altura, o Manchester City, o campeão inglês. Mangala foi o melhor exemplo na pior altura: o exemplo de que o FC Porto ainda consegue ter profissionais que não colocam o dinheiro à frente de tudo, e a pior altura porque o FC Porto necessita do dinheiro da sua venda.
Mangala e o City já tinham sido tema de discussão aqui. Não é que Mangala tenha dito, efectivamente, não ao City, mas esperava valorizar-se no Mundial e abrir outras portas. Algo que não aconteceu, pois a França foi eliminada sem que Mangala tivesse jogado, para desalento do jogador e da própria SAD. E agora? Vai Mangala aceitar o convite do City? Ou será que Mourinho conseguirá que o FC Porto seja forçado a vender o jogador por uma verba mais baixa? Certezas, apenas uma: o FC Porto não pode obrigar Mangala a sair contra a sua vontade, pois o contrato é feito para respeitar as duas partes. E Mangala serviu o FC Porto com lealdade, profissionalismo e qualidade nos últimos 3 anos, tendo como único ponto baixo a declaração infeliz em que disse que ia para o PSG a correr. E se o PSG apresentasse os números do City, talvez até ia, por ser adepto de infância do clube, mas já tem a dupla titular do Brasil...
Tozé: sim... e não
O empréstimo de Tozé ao Estoril, que segundo O Jogo fica com 35% do passe, não é uma decisão popular entre os portistas. Um pouco contra a opinião dominante, defendo que é a melhor solução para o jogador.
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A solução possível |
Vítor Pereira só lhe deu uma oportunidade num momento de desespero. Paulo Fonseca não lhe deu oportunidades. Luís Castro só o lançou num jogo a feijões. E Lopetegui não contava com ele. Quatro treinadores, nenhum a morrer de amores por Tozé. Se perguntam, podia e devia ter tido mais oportunidades no último ano? Claramente, até porque poucos estavam a fazer melhor na A do que o Tozé ia fazendo na B. Mas tem a qualidade para ser já opção no 11 de Lopetegui? Não. E pelos vistos o treinador acha o mesmo, pois não contou sequer com ele para a pré-época.
A alienação de 35% do passe, essa, já é discutível e merece ser questionada. Evandro, que segundo O Tribunal do Dragão ouviu não virá a 100% do passe, é uma operação à margem de Tozé para os efeitos contratuais e negociais, porque já quando Evandro treinava no Olival Tozé ainda não estava garantido no Estoril. Mas já com Tiago Rodrigues (que está onde?), emprestado ao Guimarães, tivemos o exemplo de que cada vez mais os clubes médios preferem valorizar os próprios jogadores do que depender dos emprestados dos grandes. Por isso, é compreensível que o Estoril tenha salvaguardado os seus interesses futuros, com parte do passe de Tozé. O FC Porto terá que dobrar o investimento na recompra, mas certamente que se Tozé evoluir a ponto de ser um jogador de equipa A poucos se incomodarão. É um negócio que não agrada aos adeptos, mas que agrada ao Estoril, ao FC Porto e ao próprio Tozé.
Tello, fumo branco e caro
A não ser que clubes como Atlético e o Everton se antecipem nas próximas horas e apresentem propostas superiores para a transferência, Tello vai ser jogador do FC Porto. É o extremo favorito de Lopetegui, a prioridade, e como tal será sempre de aplaudir que a SAD corresponda ao desejo do treinador. Isto é, dependendo dos custos...
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O caro pode tornar-se barato |
O Tribunal do Dragão ouviu que, ao contrário do que inicialmente era noticiado, o empréstimo com opção de compra já não é hipótese única, após a entrada na jogada de dois investidores dispostos a comprar o jogador com o FC Porto. Numa primeira fase pode custar 9 milhões de euros, mas não pela totalidade do passe. Posteriormente, o FC Porto pode comprar mais Tello, a ponto de quase dobrar o investimento inicial. O tempo dirá se Tello é caro ou barato. Afinal de contas, os 19 milhões de Hulk, o jogador mais caro e mais bem pago da história do FC Porto, não foram assim tão caros, pois não? É a vantagem de ser um match-winner: podem corresponder mais facilmente ao investimento do que um... lateral.
De referir que Antero Henrique está a liderar as negociações para a aquisição de Tello e que outra opção na liga espanhola, Brahimi, está a cargo de Alexandre Pinto da Costa, também com a participação de um fundo, o mesmo empresário que teve Casemiro pronto para o FC Porto mas que «subitamente» ficou mais perto do futebol italiano. Não vamos aprofundar a discussão da terceira parte aqui pois isso faz parte de um extenso trabalho d'O Tribunal do Dragão que vai sendo publicado aos poucos, tendo para já apresentado apenas a primeira parte.
PS: Não agarrar o costa-riquenho Yeltsin Tejeda, um regista perdido nas Caraíbas, que custa um terço de Prediger e que se revelou no Mundial, é coisa para deixar qualquer adepto de bom futebol chateado.