sábado, 5 de julho de 2014

O mal que já está feito, os péssimos exemplos de Bolat e Caballero e outras reflexões. E Tello

A questão dos guarda-redes já aqui foi abordada em dois pontos, primeiro há um mês, quando O Tribunal do Dragão ouviu que Lopetegui não confiava nas soluções que o plantel já tinha, e mais recentemente quando Navas passou a alvo prioritário. Uma questão que merece voltar a ser aprofundada, numa altura em que a chegada de Navas conheceu vários entraves.

Fabiano sabe que é
segunda opção
Ao contrário do que escreveu alguma imprensa, Lopetegui não escolheu Navas por causa das exibições no Mundial. Pelo contrário, o Mundial só confirmou aquilo que o treinador já defendia: Navas é melhor do que as soluções que o plantel tem para oferecer. Mas também caro. O guarda-redes rapidamente se mostrou receptível ao convite do FC Porto, pois sabe que aqui seria titular indiscutível - Lopetegui, ao pedir o maior investimento de sempre num guarda-redes da história do FC Porto (nunca um guarda-redes custou mais do que 3 milhões de euros, a proposta que o Levante rejeitou), teria que defender e justificar a sua opção até ao limite. Além disso, 1 milhão de euros líquidos/ano era um salário perfeitamente apetecível - ao contrário do que alguns adeptos pensam, é este o vencimento médio para um jogador internacional contratado no estrangeiro pelo FC Porto, até porque os jogadores são pagos em contratos a 10 meses/época e sem subsídios (que são substituídos pelos prémios colectivos/individuais).

Com ou sem Navas, Lopetegui já criou o seu primeiro desafio: o tal atestado de incompetência aos guarda-redes que já aqui foi tema. Independentemente de Navas chegar ou não ao FC Porto (o Bayern Munique tem o dinheiro, mas não o trunfo da titularidade; o Atlético chegou a poder prometer dinheiro e titularidade, mas virou-se para Oblak; e então será a vez do Benfica agitar o mercado por um guarda-redes...), Lopetegui já deu sinais óbvios a Fabiano, Kadu (que na equipa B até pode tirar espaço a Andorinha e Filipe Ferreira, mais jovens e promissores) e Ricardo de que não conta com eles para número 1 (Helton ainda tem uma longa recuperação pela frente e dificilmente fará mais do que o jogo de «despedida», se fizer).

Fabiano, quando foi interpelado no aeroporto com a possível vinda de Navas, fugiu àquilo que é sempre recomendado pelo departamento de comunicação. Dizer que «estou concentrado no meu trabalho», o «importante é o FC Porto» ou «não sei nada dessas especulações, estou concentrado na equipa». Mas Fabiano disse antes uma frase-chave: «Estou ao corrente dessas notícias». Fabiano já sabe que Lopetegui não conta com ele para número 1, mas depois lá respondeu com elegância, ao prometer que ia lutar para ser titular. No entanto, o mal já está feito: Lopetegui sentenciou antes do primeiro treino que precisa de um guarda-redes melhor. O que está em causa não é a razão para o pedido, até compreensível por algumas lacunas de Fabiano, mas o desafio para lidar com as suas consequências. O tal atestado de falta de qualidade.

De Bolat a Caballero, um mau exemplo

De guarda-redes para guarda-redes, falamos em Bolat. Um exemplo de como a SAD não deve gerir um futebolista nem confundir o mesmo com mercadoria, independentemente de numa possível venda Bolat render algum dinheiro. Vamos seguir os passos. Sem ingenuidade e tabus.

Bolat, exemplo para
não repetir
Bolat foi contratado, em 2013, através da rede Liège-D'Onofrio, que já trouxe o rentável e excelente Mangala, o pouco produtivo Defour, a razoável surpresa Kayembé e mais recentemente Opare e Célestin Djim. Negócios que envolvem a alienação de passes (que em 2011/12 foi uma absoluta necessidade para fazer face às despesas correntes, pois a SAD gastou demasiado em apenas 4 jogadores - Danilo, Alex Sandro, Defour e Mangala - e nenhum deles um match-winner) e que não são exemplos de transparência. Nenhum. Mas falamos apenas em Bolat.

Bolat foi descrito como uma oportunidade de mercado. Afinal, trava-se de um guarda-redes que já foi uma promessa na Bélgica e 24/25 anos é uma idade jovem para um jogador na sua posição. Mas já havia Helton, Fabiano, Kadu, e ainda Stefanovic e Matos (duas contratações que nem merecem comentários) na B. Esteve meio ano encostado, na segunda metade da época foi emprestado à Turquia. Quanto custou o custo zero de Bolat? Boa pergunta.

O Tribunal do Dragão ouviu que o FC Porto não tem 100% do guarda-redes, nunca teve, e que desde a sua transferência uma terceira parte ficou com direitos já a pensar numa futura venda. Como já aqui foi dito, a operação pode até dar lucro ao FC Porto. Mas será que Bolat pode ser vendido por uma verba tão grande que justifique tratarmos um jogador como mercadoria? E será que vai cobrir os custos?

No primeiro trimestre de 2013-14, o FC Porto só contratou 3 jogadores. Quintero, Ghilas e Bolat. O primeiro custou 5 milhões de euros por 50% do passe. O segundo, 3,8 milhões de euros por 50%. Já o nome de Bolat... não aparece. Aparece, isso sim, um encargo de 1,89 milhões de euros, que não é discriminado. E depois, as 3 entidades a quem o FC Porto pagou pelas três transferências: Ricardo Calleri, que é sabido ter sido o responsável pela vinda de Quintero, e as entidades C.B.Nafricatalentssport, Lda. e JOD-Gestão de Carreiras Desportivas, Lda. Então, se é também sabido que Jorge Mendes foi responsável pela vinda de Ghilas (embora não seja o seu empresário) e que Luciano esteve envolvido no negócio Bolat, boa sorte em encontrar as pontas soltas e o outro lado do túnel.

Nem A, nem B
À margem deste mau exemplo, o que preocupa é, como já foi dito, tratar um jogador como mercadoria. Há duas semanas, Bolat disse isto numa entrevista: «Trabalho a força, a condição física e a velocidade de reação. Vou estar mais pronto do que nunca quando voltar ao Porto». Prometia corresponder ao investimento que fizeram nele e até disse que estava a fazer 2 treinos por dia. Então, começou a pré-época... e Bolat nem sequer está na lista para a pré-temporada. Mas há 2 semanas já se sabia que Lopetegui queria outro guarda-redes. Então, porquê alimentar a ilusão de um profissional?  Mas importante: quem a alimentou?

Mais um caso, Mauro Caballero, que em Maio dizia à RR que tinha confiança e esperança em Lopetegui para chegar à equipa A. É sabido que Gonçalo Paciência é o único ponta-de-lança para começar a pré-temporada. Onda está Caballero? Tal como Bolat, nem na lista apresentada pelo FC Porto se encontra, e no Olival nem sinal dele. Só para refrescar a memória. Estamos a falar de um jogador que envolveu um litígio e a FIFA; um jogador que fez capas de jornais a ser apresentado como alternativa imediata a Jackson; e que mal chegou relegou logo André Silva e Gonçalo Paciência, os dois mais promissores avançados portugueses, para segundo plano. 

Mais um refresco: em janeiro de 2013, o advogado Gerardo Acosta garantia que o FC Porto ia pagar 365 mil euros, apenas por direitos de formação. Chegou o Relatório e Contas e o que se viu foi 1,53 milhões de euros pagos à MHD, S.A. Um ajuda a tentar localizá-la: está algures entre a C.B.Nafricatalentssport, Lda. e a JOD-Gestão de Carreiras Desportivas, Lda. E não vamos recordar Quiñones, que custou 2 milhões de euros e não aparece no grupo de trabalho nem da equipa A nem da B, porque já terão percebido a ideia, certo?

Mangala, o melhor exemplo na pior altura

O FC Porto já vendeu jogadores à nata do futebol mundial, Juventus, Barcelona, Real Madrid e Manchester United. Mas nos últimos anos tem sido, sobretudo, um vendedor de jogadores aos chamados novos ricos. Transferências onde o dinheiro diz mais aos jogadores do FC Porto do que propriamente a grandeza do destino. Foi assim com Falcao para o Atlético (que na altura ainda não era de Champions), Hulk para o Zenit ou até James e Moutinho para o Mónaco, num caso mais particular.

City ofereceu 40
milhões de euros
Por isso, talvez nenhum adepto do FC Porto imaginaria que algum jogador pudesse recusar, nesta altura, o Manchester City, o campeão inglês. Mangala foi o melhor exemplo na pior altura: o exemplo de que o FC Porto ainda consegue ter profissionais que não colocam o dinheiro à frente de tudo, e a pior altura porque o FC Porto necessita do dinheiro da sua venda.

Mangala e o City já tinham sido tema de discussão aqui. Não é que Mangala tenha dito, efectivamente, não ao City, mas esperava valorizar-se no Mundial e abrir outras portas. Algo que não aconteceu, pois a França foi eliminada sem que Mangala tivesse jogado, para desalento do jogador e da própria SAD. E agora? Vai Mangala aceitar o convite do City? Ou será que Mourinho conseguirá que o FC Porto seja forçado a vender o jogador por uma verba mais baixa? Certezas, apenas uma: o FC Porto não pode obrigar Mangala a sair contra a sua vontade, pois o contrato é feito para respeitar as duas partes. E Mangala serviu o FC Porto com lealdade, profissionalismo e qualidade nos últimos 3 anos, tendo como único ponto baixo a declaração infeliz em que disse que ia para o PSG a correr. E se o PSG apresentasse os números do City, talvez até ia, por ser adepto de infância do clube, mas já tem a dupla titular do Brasil...

Tozé: sim... e não

O empréstimo de Tozé ao Estoril, que segundo O Jogo fica com 35% do passe, não é uma decisão popular entre os portistas. Um pouco contra a opinião dominante, defendo que é a melhor solução para o jogador.

A solução
possível
Vítor Pereira só lhe deu uma oportunidade num momento de desespero. Paulo Fonseca não lhe deu oportunidades. Luís Castro só o lançou num jogo a feijões. E Lopetegui não contava com ele. Quatro treinadores, nenhum a morrer de amores por Tozé. Se perguntam, podia e devia ter tido mais oportunidades no último ano? Claramente, até porque poucos estavam a fazer melhor na A do que o Tozé ia fazendo na B. Mas tem a qualidade para ser já opção no 11 de Lopetegui? Não. E pelos vistos o treinador acha o mesmo, pois não contou sequer com ele para a pré-época.

A alienação de 35% do passe, essa, já é discutível e merece ser questionada. Evandro, que segundo O Tribunal do Dragão ouviu não virá a 100% do passe, é uma operação à margem de Tozé para os efeitos contratuais e negociais, porque já quando Evandro treinava no Olival Tozé ainda não estava garantido no Estoril. Mas já com Tiago Rodrigues (que está onde?), emprestado ao Guimarães, tivemos o exemplo de que cada vez mais os clubes médios preferem valorizar os próprios jogadores do que depender dos emprestados dos grandes. Por isso, é compreensível que o Estoril tenha salvaguardado os seus interesses futuros, com parte do passe de Tozé. O FC Porto terá que dobrar o investimento na recompra, mas certamente que se Tozé evoluir a ponto de ser um jogador de equipa A poucos se incomodarão. É um negócio que não agrada aos adeptos, mas que agrada ao Estoril, ao FC Porto e ao próprio Tozé.

Tello, fumo branco e caro

A não ser que clubes como Atlético e o Everton se antecipem nas próximas horas e apresentem propostas superiores para a transferência, Tello vai ser jogador do FC Porto. É o extremo favorito de Lopetegui, a prioridade, e como tal será sempre de aplaudir que a SAD corresponda ao desejo do treinador. Isto é, dependendo dos custos...

O caro pode tornar-se
barato
O Tribunal do Dragão ouviu que, ao contrário do que inicialmente era noticiado, o empréstimo com opção de compra já não é hipótese única, após a entrada na jogada de dois investidores dispostos a comprar o jogador com o FC Porto. Numa primeira fase pode custar 9 milhões de euros, mas não pela totalidade do passe. Posteriormente, o FC Porto pode comprar mais Tello, a ponto de quase dobrar o investimento inicial. O tempo dirá se Tello é caro ou barato. Afinal de contas, os 19 milhões de Hulk, o jogador mais caro e mais bem pago da história do FC Porto, não foram assim tão caros, pois não? É a vantagem de ser um match-winner: podem corresponder mais facilmente ao investimento do que um... lateral. 

De referir que Antero Henrique está a liderar as negociações para a aquisição de Tello e que outra opção na liga espanhola, Brahimi, está a cargo de Alexandre Pinto da Costa, também com a participação de um fundo, o mesmo empresário que teve Casemiro pronto para o FC Porto mas que «subitamente» ficou mais perto do futebol italiano. Não vamos aprofundar a discussão da terceira parte aqui pois isso faz parte de um extenso trabalho d'O Tribunal do Dragão que vai sendo publicado aos poucos, tendo para já apresentado apenas a primeira parte.

PS: Não agarrar o costa-riquenho Yeltsin Tejeda, um regista perdido nas Caraíbas, que custa um terço de Prediger e que se revelou no Mundial, é coisa para deixar qualquer adepto de bom futebol chateado.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Pinto da Costa promete a Lopetegui o melhor reforço

Pinto da Costa: «Vamos trabalhar com o máximo de seriedade e o máximo rigor e formar um grupo de atletas que esteja aqui a cem por cento. Um jogador não pode estar aqui a pensar que vai para ali ou acolá. Quem não estiver a cem por cento, não estará».

Lopetegui: «Faltam jogadores e ainda não temos o plantel consolidado, mas esperamos ter o grupo completo com que queremos trabalhar dentro de duas semanas».

Reforços dentro de
duas semanas
Pinto da Costa assumiu a intenção de dar a Lopetegui o melhor reforço para 2014-15: um balneário sem jogadores contrariados, coisa que nos últimos três anos não existiu. E já agora, uma coisa extremamente difícil de compor. Segundo o DN, Lopetegui pediu a Pinto da Costa para tentar segurar Jackson Martínez, que é precisamente um dos jogadores que veria com bons olhos a saída. Mas pelos vistos treinador e presidente estão em sintonia, pois Pinto da Costa tem-se mostrado intransigente face à venda de Jackson. Se calhar, muito por causa do apelo de Lopetegui.

A saída de Mangala é um dado praticamente adquirido e Bruno Martins Indi, o iminente sucessor, deu mais uma pista do que é Lopetegui: disse que o treinador tem fé nele. Como poderia Indi saber isto sem antes dar por garantido que vai para o FC Porto? Lopetegui não é um homem de gabinete, mas de terreno e que aborda pessoalmente os jogadores com quem quer contar, como o fez com Suso, Illarramendi e Tello, só para citar nomes falados na imprensa. Mas por muita capacidade de persuasão que Lopetegui possa ter, há limites ditados pelas dificuldades financeiras do clube. E isto também vale para a esperança em manter Jackson Martínez, sobretudo porque a hipotética renovação será bem dispendiosa e nenhum jogador pode valer tanto numa transferência como o Cha Cha Cha.

Lopetegui é exigente consigo próprio e com o meio que o rodeia. Não seria (ou não deveria ser) treinador do FC Porto se não fosse de outra forma, mas as suas declarações, de que espera ter o plantel pronto no final do estágio na Holanda, mostra que a sua exigência vai do balneário até à SAD. Há uma hierarquia e Lopetegui não pode estar acima dela, mas só pode fazer bem a sua parte se outros acima também a fizerem. Por isso, aguarda-se com celeridade que Lopetegui tenha o plantel pronto dentro de duas semanas, senão alguém já estará a falhar na sua parte. E isso pode afectar o trabalho do treinador, que até lá tem obrigação de espremer ao máximo a qualidade dos atletas que tem à disposição.

Mikel, a primeira baixa
Ao primeiro treino, a primeira baixa. Mikel partiu a tíbia da perna esquerda e, ao que tudo indica, tem pela frente uma paragem nunca inferior a 4 meses. Quer isto dizer que vai acabar por ficar no plantel, pois com a lesão não pode ser admitido nos exames médicos para um possível empréstimo, mas já perdeu basicamente metade da época e a oportunidade de se mostrar a Lopetegui. Quando recuperar, já o FC Porto deverá ter a máquina montada no que ao 11 titular diz respeito e o próprio Mikel não se poderá ambientar ao conceito da equipa.

Mikel lesiona-se
com gravidade
Mikel é um jogador privilegiado no seio do FC Porto (são poucos os jogadores jovens que tiveram tantas oportunidades como ele num contexto de sub-19 e equipa B, sem muitas vezes corresponder, mas nunca deixou de ter boa imprensa), mas também trabalha como poucos. O que lhe falta em técnica compensa em entrega, e é por isso que foi chamado aos treinos por Jesualdo, Vítor Pereira e Paulo Fonseca. Um miúdo empenhado, que quer muito vingar no FC Porto, mas que sofre lamentavelmente este grande revés.

Oportunidade para se mostrar uma das maiores promessas não só do FC Porto como do futebol europeu: Rúben Neves. Com apenas 17 anos, foi chamado por Lopetegui, ele que tem uma carreira pautada por treinar/jogar sempre em escalões acima da sua idade. Neste caso, faz a pré-época com a equipa principal, passará a treinar com a equipa B e jogará pelos sub-19. É irrealista pensar em Rúben Neves como uma solução para o plantel principal, mas assinala-se que o FC Porto tem neste jogador um diamante em bruto, que tem tudo para ser dos melhores do mundo da sua posição. A falta de aposta na formação tem limites e esse limite surge quando estamos perante um jogador com tão grande potencial, a que se somam outros nomes.

Independentemente da lesão de Mikel, Lopetegui vai receber um jogador para aquela posição, mas esquivando-se à tradicional figura do carregador de piano. Se preferirem, um regista à italiana, para ser formatado segundo o conceito de Lopetegui. A confirmar, segundo o prazo dado pelo treinador, dentro de duas semanas.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Rolando regressa a uma casa que continua por arrumar

«Alguns adeptos poderão questionar: será possível a integração de Rolando depois de toda a polémica com Antero Henrique? Respondo com outra questão: que melhor prova de uma estrutura unida e a remar para o mesmo lado do que deixar para trás as questões pessoais em prol do FC Porto?»

De volta a casa, para já
Foi assim que O Tribunal do Dragão abordou, a 18 de junho, o regresso de Rolando ao FC Porto, que é agora confirmado pelo jornal O Jogo, no dia em que começa a pré-época 2014-15. Importa esclarecer que a sua permanência no plantel ainda não é um dado garantido - se o Inter Milão chegar aos 5 milhões de euros, a saída ainda pode acontecer -, mas o primeiro passo foi dado. Não é apenas uma obrigação contratual (os jogadores com contrato têm que se apresentar no Olival), mas o cumprimento de algo que deve ser regra em relação a passado, presente e futuro: nada nem ninguém está acima do FC Porto.

Rolando é um elemento que conhece o balneário, já foi capitão, experiente, com qualidade e foi um dos melhores centrais da Serie A do último ano. Caso fique no plantel, terá que renovar, pois só tem mais um ano de contrato - tal como Izmaylov, que vai renovar até 2016 antes de ser emprestado, para prevenir uma saída a custo zero. Uma curta nota: o FC Porto errou na contratação do jogador, mas não na gestão dos problemas de ordem emocional, familiar e psiquiátrica de Izmaylov. Salvou-se o homem e, ao que tudo indica, recuperou-se o futebolista. Bravo, FC Porto.

De volta ao tema inicial. Rolando, dos jogadores que estiveram emprestados, é o único que sabe que tem lugar no plantel de Lopetegui, isto caso o Inter não suba a parada. Bolat, Tiago Rodrigues e Djalma têm ordens para se apresentar, mas dificilmente algo mais do que obrigações contratuais, além de Caballero, que pode tentar aproveitar o facto de Gonçalo Paciência ser o único ponta-de-lança disponível para as primeiras duas semanas.

Mangala tem sucessor. Jackson não
Lopetegui ainda espera pelos seus reforços e curiosamente hoje o jornal CM até escreve que o treinador tem «plenos poderes», a ponto da SAD decidir dar-lhe jogadores por empréstimo (para já só Oliver está confirmado) para tentar satisfazer as suas opções. Uma meia verdade: se é certo que Oliver Torres foi um pedido do treinador, os empréstimos também são uma forma da própria SAD se adaptar ao mercado e às dificuldades de tesouraria que apresenta e vai continuar a apresentar, enquanto Mangala (para quem a sucessão já está tratada, embora Indi não esteja oficializado) e Jackson Martínez (que Pinto da Costa não quer deixar sair - sobretudo porque Lopetegui, ouviu O Tribunal do Dragão, disse que Jackson seria o ponta-de-lança ideal para ele) estiverem no Brasil. Um plano que muito, muito dificilmente resistirá à lei do mercado e de um clube que depende de vendas - não só para investir como para subsistir.

A Lopetegui resta, para já, tentar tirar ao máximo proveito dos jogadores que tem à disposição, mesmo que já tenha a opinião formada sobre a generalidade. À SAD resta adotar a consciência de que quanto mais tarde as entradas e saídas forem fechadas, maiores serão as limitações para preparar a época, sobretudo num mês de agosto em que pode aparecer um tubarão no play-off da Champions.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O treinador e o homem

«No FC Porto, qualquer treinador arrisca-se a ser campeão». Quantas vezes já ouvimos isto? Demasiadas para ter chegado à conclusão que não é verdade. Preferimos outra frase, de Vítor Pereira: «Não há ninguém sem competência que resista no FC Porto».

Vítor Pereira estava a falar dos treinadores. Mas a mensagem não é apenas para treinadores e até pode ser readaptada: «O FC Porto não resiste sem competência».

Lopetegui é uma incógnita no plano técnico-táctico. Porquê? Porque ainda não deu nenhum treino, não fez nenhum jogo, não trabalhou com nenhum jogador. Tudo o que se possa dizer agora é mais uma manifestação de crença do que de conhecimento. Até porque sejamos sinceros: nunca nenhum adepto pediu o nome de Lopetegui para suceder a Luís Castro. No dia em que o seu nome foi anunciado, arrisco que 98% não sabiam quem era. Foi um risco, como seria outro qualquer. Mas foi um bom risco?

Pelo que O Tribunal do Dragão ouviu ao longo das últimas semanas, podemos contar com exigência, autoridade e dedicação acima da média. Acima das próprias expectativas de quem contratou Lopetegui. Num clube de máxima exigência e num contexto de dificuldade, limitações, quezílias e indefinições, nenhum treinador resiste só pelos conhecimentos técnico-tácticos. O treinador começa no homem. E o Homem chegou com H grande.

Temos líder, temos exigência, temos organização. Lopetegui chegou para servir o FC Porto e exige que todos os que trabalham consigo sigam a mesma causa. Uma missão que vamos apoiar. Porque o FC Porto não resiste sem competência. 

Por isso, Lopetegui chegou em boa hora. Se é o treinador de que o FC Porto precisava, não sabemos. Mas é o Homem de que o clube necessitava.

3 de julho: o primeiro dia do resto da vida do FC Porto

A torre de Lopetegui

É já amanhã, 3 de julho, que arrancam os trabalhos de pré-época do FC Porto. Mas no caso de Lopetegui e da equipa técnica, a preparação para a nova época já dura há mais de dois meses e a ligação Porto-Madrid tem sido uma constante.

O jornal JN traz na sua edição de hoje uma curiosa inovação de Lopetegui nos treinos para a próxima época: pediu que fosse instalada uma torre de 7 metros, não só para observar os treinos de um ponto de vista estratégico como também para, ouviu O Tribunal do Dragão, que possam ser colocadas câmaras num ponto alto e potenciar a parceria com a GoPro, que acabou por não ter grande proveito na última época.

Para os leitores d'O Tribunal do Dragão, uma foto da torre no Centro de Treinos.



terça-feira, 1 de julho de 2014

O Porto vai à rua no sábado

O FC Porto colocou no Facebook um curto anúncio: «Sábado, na Rua Cândido dos Reis». A acompanhar, uma foto com os equipamentos para a nova época. Uma série de adeptos questionou-se sobre qual será o propósito do evento e n'O Tribunal do Dragão antecipamos um pouco do que promete ser uma noite bem passada entre portistas.

Numa iniciativa inédita, a partir das 22h, será promovido um encontro entre jogadores, treinadores e adeptos conhecidos na praça pública, com a possibilidade de recolha de autógrafos e fotos. Como é óbvio, o propósito passa por apresentar os novos equipamentos, mas ao contrário das iniciativas fechadas com a Nike a parceria com a Warrior começa com a possibilidade dos adeptos o testemunharem ao vivo e interagirem com os profissionais do FC Porto.

E para quem não poder comparecer, poderá acompanhar o evento através do Porto Canal.


A corda não rompeu mas ninguém a largou

Terminou, oficialmente, a época 2013-14. Depois dos maus resultados desportivos, surge hoje a garantia de que a SAD poderá repetir, rondar ou até superar os números de 2011-12, quando fechou a temporada com 35,7 milhões de euros de prejuízo.

Pinto da Costa resistiu.
Mas até quando?
O FC Porto teve prejuízos de 12,4 milhões no 1º trimestre, 29,2 milhões após o segundo e 38,7 milhões no final do terceiro. As previsões apontavam para a necessidade de um encaixe com mais-valias nunca inferiores a 40 milhões de euros com transferências e Angelino Ferreira, antes de sair da SAD, confirmou ao JN que a má prestação na Champions também ia abrir um buraco de 8 milhões de euros no orçamento.

Tomemos como ponto de referência o 3º trimestre, onde se registava um prejuízo recorde de 38,7 milhões de euros. As únicas transferências incluídas até aqui foram as de Atsu, por 3 milhões (o FC Porto ficou reduzido a 75% do passe antes da transferência, que esteve a cargo de Alexandre Pinto da Costa), com mais-valia de praticamente 2 milhões, e Otamendi, vendido ao Valência por 12 milhões e a gerar uma mais-valia de 7,9 milhões de euros. O caso de Walter, pela particularidade do negócio (obrigado a renovar devido ao empréstimo ao Fluminense e às obrigações com a terceira parte), não entra na equação e não vai gerar uma mais-valia significativa pelos 25% alienados (a SAD ficou com 15%). Acrescenta-se a venda de Iturbe, por cerca de 6,75 milhões de euros, com a mais-valia ainda por calcular, e Castro, por cerca de dois milhões de euros.

Fernando foi a única venda a entrar no último trimestre e, por si só, não vai reduzir os 38,7 milhões de euros de prejuízo nos primeiros nove meses, na medida em que as actividades correntes do clube não asseguram a auto-sustentabilidade da SAD. O negócio já aqui foi tema de destaque, mas só vai ser esclarecido em outubro. O Tribunal do Dragão ouviu que a SAD iria declarar e pagar impostos sobre os 15 milhões de euros, já anunciados, mas que após o acordo revelado por Pinto da Costa com Fernando e António Araújo a parte que caberia ao FC Porto seria de apenas sensivelmente 7 milhões de euros (à partida a SAD só teria direito a 12 milhões, por ter 80% do passe). Desconhece-se como a SAD irá distribuir as parcelas (alienação antecipada do passe ou distribuição mediante o acordo para a transferência para o City) e é algo que só será esclarecido em outubro, sendo certo que tudo será melhor do que a saída a custo zero.
Venda de Fernando
de pouco valeu

A venda de Mangala não seria suficiente para tapar o buraco, enquanto para Jackson Martínez virtualmente só o pagamento da cláusula de rescisão de 40 milhões salvaria o exercício. Mas afinal Pinto da Costa não fez bluff quando afirmou que não estava com disposição imediata para vender, tal como Mangala não fez bluff quando afirmou que só quer ver propostas depois do Mundial. E falamos em Pinto da Costa por estar no topo na hierarquia, pois o mercado de transferências obedece essencialmente aos empresários e representantes destacados para cada jogador e por cada clube e o dia-a-dia da SAD está cada vez mais sob gestão da dupla Antero Henrique e Adelino Caldeira, com Pinto da Costa a limitar-se a um processo de supervisão e decisão - a última e mais importante parte.

O FC Porto vai fechar 2013-14 com um prejuízo que dificilmente não será o maior da história da SAD. Em sentido inverso, e embora as obrigações correntes se mantenham e continuem a ter que ser cumpridas, surge a possibilidade de começar a inverter o rumo em 2014-15, com as futuras vendas a entrar já na nova época. Agora sem deadline que não o do fecho de mercado de transferências, mas exactamente com o mesmo princípio: vender para comprar

Mangala firme na
sua posição
Pinto da Costa continua a insistir que entre Mangala e Jackson Martínez só sairá um (e deve ser o único a acreditar que é possível manter um), e o facto de para isso ter «sacrificado» as contas de 2013-14 mostram que não era bluff. Para Mangala já há sucessor (Martins Indi, com quem há acordo com Feyenoord e jogador, embora a oficialização só deva ser concretizada depois do Mundial - e é bom que o seja o quanto antes, pois a palavra vale cada vez menos no futebol), apesar do francês não estar convencido quanto ao convite do City (que paga 40 milhões pelo total da operação), enquanto que para o lugar de Jackson Martínez não há nenhum nome apontado pela imprensa que de facto esteja a ser negociado pelo FC Porto. Pode ser um sinal da intransigência e decisão de Pinto da Costa, mas apesar da equipa sombra ser um mito importa estar precavido para uma eventual loucura de Peter Lim.

Porque importa esclarecer: apesar de na imprensa portuguesa se ler quase todos os dias que Peter Lim é dono do Valência, isso não é verdade. Pelo contrário, as negociações com a Fundação Valência arrastam-se há semanas e têm causado grande celeuma em Espanha, basta ler a imprensa local. Jorge Mendes vai fazendo a sua parte, e entretanto até conseguiu que Carlos Carneiro, do Paços de Ferreira, assumi-se o cargo directivo do histórico Rufete (pausa para rir), mas sem acordo com a Fundação Peter Lim não pode investir na condição de dono do Valência. 

E o Atlético de Madrid, que já apresentou uma proposta concreta por Jackson, tem a seu lado o facto do colombiano preferir jogar no campeão espanhol do que num clube que não vai à UEFA. E segundo conta a imprensa espanhola, pode tentar tirar Keylor Navas do radar do Dragão. O FC Porto já tem acordo com o jogador, mas a valorização no Mundial pode levar o Levante a encaminhá-lo para quem pague mais. E hoje em dia, nenhum jogador abdica do vice-campeão europeu pela Liga ZON Sagres (ou Liga NOS Sagres?). É de uma ingenuidade que só o clubismo pode disfarçar pensar o contrário.

A transição de 30 de junho para 1 de julho faz reset na vertente contabilística das épocas, mas as obrigações continuam a ter que ser cumpridas à margem do exercício em questão. A época 2013-14 confirma-se, nos dois campos, desportivo e financeiro, a pior da história do clube desde a criação da SAD. A Pinto da Costa, Antero Henrique, Adelino Caldeira e restante SAD cabe a missão de restaurar a força do clube em todos os campos.

Equipa B arrancou
Entretanto, teve início a pré-época da equipa B do FC Porto, devidamente assinalado no site do clube, embora seja lamentável que a lista do plantel ainda tenha os nomes da época passada. Luís Castro teve bons resultados na última época, mas a articulação entre Vítor Pereira e Rui Gomes e entre Paulo Fonseca e Luís Castro foi uma desilusão. A equipa B tem que jogar com o mesmo modelo da equipa A e titularidades por «decreto» só mesmo para preparar determinado jogador para assumir determinada posição na formação principal. Algo a corrigir neste terceiro ano de equipa B.

Luís Castro deve ser
o número 2 de Lopetegui
Ao contrário do inicialmente previsto e aqui escrito, Nuno Capucho mantém-se para já na equipa técnica, depois de ter estado à beira de assinar pelo Braga B, que no final optou por Fernando Pereira. Paulinho Santos, Daniel Correia e José Tavares completam a equipa técnica, que se espera que entre em total sintonia e concordância com Lopetegui.

Um olhar aos reforços. O Tribunal do Dragão já tinha anunciado Braima Candé. Honestamente, um jogador que dificilmente interessaria se não fosse do Sporting - já agora, de elogiar o bom senso de promover Idrisa aos sub-19, apesar de oficialmente ainda ter idade juvenil. O dinamarquês Malthe Johanson e o chileno Igor Lichnovsky também já aqui tinham sido falados.

Célestin Djim, um avançado belga, é o mais recente nome a aproveitar a estrada entre Porto e Liège, sempre percorrida aos pares: Mangala e Defour em 2011, com posterior alienação de passes, Bolat e Kayembe em 2013 e agora Opare e Djim. Sempre pelas mesmas mãos.

Pité é um dos bons valores da segunda liga agarrado a tempo e horas, ao contrário do que foi feito, por exemplo, com Rafa há um ano. Elvis já era um nome conhecido, enquanto a mais recente novidade é Roniel, produto de uma referida visita neste espaço ao Brasil, até porque também esteve perto de Braga - para onde acabou por rumar Pedro Monteiro, o potencial substituto de Tiago Ferreira, que apesar de ser apresentado na lista provisória que abaixo citamos não deve ficar no FC Porto.

De fazer notar que Mikel e Tozé (que pode ser emprestado por duas épocas, o que diz tudo sobre os planos que o FC Porto tem para este jogador) não vão regressar à equipa B, mas Kayembe e Gonçalo Paciência poderão aqui rodar com regularidade, mediante o que decidir Lopetegui na pré-época da equipa A.

Eis o plantel provisório: Caio e Filipe Ferreira (guarda-redes); Braima Candé, Igor Lichnovsky, Malthe Johansen, Tiago Ferreira, Zé António e Junior (defesas); Leandro, Rúben Neves, Graça, Élvis, Rui Moreira e Pité (médios); Frederic, Célestin, Roniel, Idrisa, Ruben Alves, Sérgio Ribeiro, Ruben Macedo e Rui Pedro (avançados).