O teor do último post terá sido mal interpretado por alguns leitores. O Tribunal do Dragão não pretende mudar o seu registo na bluegosfera: o exemplo do post de ontem, no caso com André Silva como figura, é apenas um exemplo de possível complementaridade aos conteúdos do blogue. Se há uma coisa em que este espaço aposta desde o início é numa diversidade de conteúdos (sempre tendo o futebol como denominador comum), e o exemplo de ontem era apenas mais um passo nesse sentido.
Disto isto, vamos ao orçamento para 2016-17. Os números podem ser comparados ora com base naquilo que era o orçamento há um ano, ora com base nos resultados do final da época 2015-16. Vamos tomar os dois últimos orçamentos como referência - comparar plano com plano, em vez de comparar resultado com plano, embora as duas coisas possam perfeitamente ser feitas.
Orçamento proposto para 2016-17 |
Há um ano, a SAD apontava para proveitos operacionais de 85,44M€. Agora, apontam para 98,415M€. É uma previsão animadora, pois a SAD consegue orçamentar receitas fixas quase nos 100M€. É claro que entre a previsão e a execução há um passo a dar (em 2015-16, a SAD ficou cerca de 10M€ abaixo da meta), mas o caminho para a sustentabilidade começa aqui: aumentar as receitas operacionais para reduzir a necessidade de venda de jogadores.
É claro que há uma receita que não é fixa: a Liga dos Campeões. Por norma, temos 3 equipas a jogar para 2 vagas. A presença na Liga dos Campeões não pode ser dada como uma meta garantida ano após ano. As receitas na UEFA não deveriam ser encaradas como essenciais para a sustentabilidade, mas sim como o extra que permita dar algum conforto à gestão da SAD.
No entanto, aparentemente bastará garantir os 1/8 desta edição da Liga dos Campeões. A SAD orça 30M€ de receitas na UEFA. Estão já garantidos 12M€ (+2M€ pelo playoff), 2M€ na fase de grupos (no cenário mais otimista, podem ser conseguidos mais 4,5M€ com três vitórias), e o apuramento para os 1/8 vale 5,5M€. Se a equipa conseguir essa meta, mais as receitas de market-pool, os 30M€ estarão quase conseguidos, o que reduz a pressão (não desportiva, mas financeira) de ter que assegurar o apuramento para a Champions 2017-18 (os 12M€ do apuramento não são incluídos neste orçamento, portanto).
A SAD propõe-se a ultrapassar pela primeira vez os 15M€ em receitas de publicidade e as receitas de TV sobem 5M€ na previsão (não esquecendo que as receitas da PT/Altice já começaram a ser usadas na gestão de 2015-16). O aumento destas duas rúbricas é fundamental.
Quanto aos custos, não há redução por parte da SAD. Pelo contrário, a SAD prevê gastar mais em salários do que previa há um ano, com os custos salariais a terem uma estimativa de 69,5M€. Mas o pior está novamente nos Fornecimentos e Serviços Externos: uma subida de 5,6M€, para uns incomportáveis 38,5M€. Isto resulta em custos de 116,5M€.
São portanto os custos operacionais mais altos da história da SAD, superando os que estavam previstos em 2014-15 (114,2M€). É também o terceiro orçamento suicida apresentado consecutivamente. No primeiro ano, a boa Champions, a valorização em massa do plantel e as vendas de jogadores como Jackson, Danilo e Mangala permitiram à SAD cumprir um orçamento de elevado risco. No segundo ano, o desastre anunciava-se e terminou com o maior prejuízo da história do futebol português. Agora, a SAD não só volta a arriscar como eleva ainda mais o risco.
Ainda assim, como dado positivo nota-se a previsão de uma redução do défice operacional: de 22,3M€ para 18,1M€. Em 2014-15 o défice era de 25M€, por isso tem havido uma ligeira descida. Mas ainda insuficiente, sobretudo tendo em conta a extrema necessidade que continua a existir da venda de jogadores.
Vamos então ao problema... semântico. No orçamento de 2015-16, a SAD informou apenas de que precisava de um resultado com transações de passes de 72,59M€. Este ano expôs a informação de maneira diferente: necessita de proveitos de 115,781M€ e terá custos de 47,201M€. No final, aponta-se para um resultado operacional novamente na casa dos 18M€, para fazer face a juros que estão na casa dos 16M€ anuais.
Orçamento aprovado para a última época |
A imprensa anunciou em massa a necessidade de fazer proveitos de 115,781M€ com jogadores. Nasceu logo a questão: são proveitos? São mais-valias? São vendas brutas? A verdade é que a SAD apresentou um cruzamento entre proveitos e custos, enquanto há um ano especificou apenas o resultado. Ou seja, podemos estar a falar de uma necessidade de um resultado com transações de passes de 68,58M€, uma redução de 5,5% face ao ano anterior. Um decréscimo muito reduzido, sobretudo se não der sinais de ser progressivo.
O resultado com transações de passes de jogadores foi de apenas 7,1M€ na época passada, e na época anterior (na qual o FC Porto bateu o recorde de vendas) tinha sido de 51,12M€. Ou seja, o resultado esperado para esta época tem que ser maior do que o das duas últimas épocas juntas. Mas estamos a falar de resultado de transações, não de mais-valias. No que toca a mais-valias, na última época foram de 40,22M€, e em 2014-15 tinham sido de 86,4M€. Como nos orçamentos propostos pela SAD o termo mais-valias não é utilizado, temos que nos guiar pelo resultado da transação de passes. Por outras palavras, no final da época é bom que Jorge Mendes se prepare, pois é possível que tenha muito trabalhinho... E é bom que os corações dos portistas também estejam preparados, pois a ideia anunciada de manter os melhores jogadores durante mais anos não combina em nada com este orçamento.
O resultado negativo de 2015-16 transita para este exercício, tal como o resultado de 2013-14 transitou para a época 2014-15. Nada de novo neste assunto.
Quanto à última proposta da ordem de trabalhos, a entrada Eduardo de Vítor Rodrigues na SAD... Não aparenta ter grande lógica. Saiu Antero Henrique, administrador e número 2 (ou não, esse é o Maxi Pereira) da SAD, e o Conselho de Administração propõe para o seu lugar... um administrador não executivo. Portanto, tecnicamente Antero Henrique não é substituído no cargo de administrador executivo da SAD. Há várias formas de questionar isto, sendo uma delas: se não é necessário ninguém para substituir Antero Henrique nas funções executivas, então o que estava ele a fazer na SAD? Ou então, que polivalência é essa do restante Conselho de Administração que dispensa uma sucessão executiva?
É uma escolha de Pinto da Costa, que disse que não gostava de misturar política com futebol, mas o passado recente na composição do Conselho de Administração diz o contrário. Tirando o presidente, o CA passa a ter 3 administradores executivos e três não executivos. Até 2015 havia apenas, além do presidente, três executivos e um não executivo. Curiosidade para perceber em que medida a adição de dois administradores não executivos ao quadro da SAD vai ter influência.
Certamente que todos estarão na expetativa de ver os conhecimentos que Eduardo de Vítor Rodrigues tem de sociologia (área na qual fez todo o percurso académico) serem aplicados ao FC Porto. Era para isso que Auguste Comte, Montesquieu e Marx se levantavam de manhã: para que chegasse o dia em que a sociologia e o futebol se sentassem à mesa. O futuro dirá se um dia veremos o futuro administrador não executivo entregar um Dragão de Ouro a Marco António Costa. Mas é sem dúvida algo que se encaixa na realidade atual: sermos uns porreiros e uns amigalhões de quem um nos quis mal. O FC Porto perdeu o campeonato de 2014-15 por causa das arbitragens; os árbitros receberam ofertas ilícitas por parte do Benfica; mas o FC Porto não tem absolutamente nada a dizer sobre o kit Eusébio, e isso é reafirmado uma, duas, três vezes. O «Make love, not war» afinal não era uma ferramenta de combate à Guerra no Vietname, mas sim uma filosofia para o FC Porto atual.
O presente orçamento e demais propostas do Conselho de Administração vão a votos a 17 de Novembro, em AG de acionistas, e será com certeza aprovado por larga maioria. Por norma, seriam manifestados desejos de cumprir este orçamento... para nunca mais ter que o repetir. Mas isso seria muito 2014. Ou muito 2015.
Siga para o campo, pois vem aí um ciclo de jogos de máxima dificuldade e importância, nos quais o FC Porto vai jogar pelo 1º lugar e pelos 1/8 da Champions num curto espaço de tempo. Estar em crise mas ter oportunidade de estar na luta por todos os objetivos da época é uma crise que muitos desejariam ter. Há condições para inverter o rumo. Pelo menos dentro de campo.
Orçamento ridículo desproporcionado e que deveria ser chumbado na AG por maioria significativa!
ResponderEliminarÉ inqualificável que o FSE suba quase 6M quando deveria ser exatamente na direção oposta... mas o que é que isto significa ao certo? Incompetência negocial? Incapacidade de realizar o serviços contratados em casa com o pessoal existente apesar dos custo com o pessoal continuarem a disparar estupidamente? Isto deveria ser muito bem explicado e descriminado para se saber onde está a ser "desviado" o dinheiro pois não existe outra explicação... o FSE com uma boa gestão deveria estar a rondar os 20M e ultrapassando esse resultado, criaria-se dentro do próprio Porto o departamento e substituia-se o fornecedor ou em alternativa, ia-se ao mercado... agora 6M de aumento do FSE numa época é um ROUBO!
Depois os ordenados... outro sinal de completa incompetência da SAD e do Fernando Gomes... ainda agora nos foi prometido que os ordenados tinham que baixar 25% nos próximos 3 anos e o primeiro orçamento que fazem a seguir ao desastre a previsão salarial... aumenta... FANTÁSTICO!
Ah e tal são os custos dos jogadores agora sob-contrato e não podemos reduzir neste orçamento mas somente no próximo... A sério? E quando se contratou esta época ou renovou-se contratos já não se sabia disso? E a janela de Janeiro não deveria servir para vender algum refugo ou emprestar jogadores do plantel que não estão a ser muito usados desde que os recetores assumam as suas cargas salariais?
Se em Janeiro saíssem Adrian Lopez, Evandro, Sérgio Oliveira e Chidozie(a minha única opção aqui é a falta de uso) será que não se conseguia poupar entre + de 2M€ só em vencimentos para este período em orçamento?
Muito mas mesmo muito mal vai a gestão deste clube e andam a ser pagos a peso de ouro para isto... enfim...
Tem a palavra os socios. este orcamento e', como correctamente adjetivado, simplesmente suicida. alias, nem se pode chamar orcamento. eu diria que alguem aprendeu a usar a funcao "goal seek" no excel - "ora vamos la ver, quanto temos de vender/lucrar/gerar de mais valias, para a coisa ficar balanceada?"
ResponderEliminaros objectivos a atingir sao absolutamente irrealistas. o que ainda faz menos sentido depois do que foi comunicado aquando da apresentacao dos resultados
ja nao ha capital proprio para absorver desta vez, nao ha mais estadios para incorporar. e entao e se a bola nao entra em Copenhaga? entao se os saxoes se lembram de ganhar no dragao? nao serao so os premios que nao vao chegar, e' a montra que desaparece. e fazer 115m em vendas nesse cenario??
espero bem que:
1) quem costuma votar em assembleia pense muito bem no que esta a fazer. e
2) quem nunca votou, que faca um pequeno esforco e tome uma posicao.
um prejuizo como o de 15/16 nao pode ser repetido. sonhar com unicornios tambem nao!
Andre
PS: acho que a distincao entre proveitos com transacoes e o respectivo custo e' importante. ha um ano atras estavamos pasmados com um proveito orcado de 72m, quando de facto deviamos ter ficado (ainda mais) pasmados com 100m ou coisa que o valha - penso que foram 30m em comissoes e afins. portanto, serao mesmo 115m de proveitos (ou mais valias, ie, valor de venda deduzido do custo contabilistico).
...115!!! ainda faco iteracoes na cabeca, para ver as possiveis combinacoes de vendas onde poderiamos chegar a tal numero.
ilusoes...
Sem dúvida que este orçamento é vergonhoso e mostra bem as qualificações deste conselho de administração. Mas quando escreve:
Eliminarespero bem que:
1) quem costuma votar em assembleia pense muito bem no que esta a fazer. e
2) quem nunca votou, que faca um pequeno esforco e tome uma posição
Recordo, que este orçamento é o da FC Porto Sad, quem pode ou não votar este orçamento são os acionistas e não os sócios do FC Porto clube. O que os sócios podem fazer é convocar um AG do clube para dar orientação de voto aqueles que nos representam na FC Porto sad... mas sinceramente acredita nisso? para mais quando o Presidente do Clube que é também o da SAD olha para o clube, como para a sad como aquilo fosse dele.
João Santos
Acho que o fecho do post diz tudo: vamos mas é olhar para o campo, que olhando mais para cima vamos ter muitas dores de estômago e noites sem dormir!
ResponderEliminarAfinal o nosso porto do rigor não existe! é completamente igual ao país : quando se ganha, o dinheiro chega para tudo e todos, gasta-se por conta; quando se perde é um ver se te avias em empréstimos para pagar empréstimos, como se nada disto fosse previsível, e, os "men" esses continuam a engordar!
Quando votar contra só serve para se ser minoria, não dá para estar nem muito alegre, nem muito otimista!
PS: Não há ninguém que diga ao presidente que já falou que chegue, que se pode calar agora?
Divluguem isto! É escandaloso...
ResponderEliminarhttps://cdn-e1.streamable.com/video/mp4-mobile/s3b4.mp4?token=1478799133_47f00d9cc6a7d597ea43ee48454e6d4c8dbbdd91
A entrada Eduardo de Vítor Rodrigues na SAD percebe-se bem, era preciso mais um que gostasse de medalhar pessoas que criam grandes buracos para meter ao bolso.
ResponderEliminarHoje tomei a liberdade de escrever no meu espaço recém adicionado à Bluegosfera (http://fcportointeractivo.blogspot.pt/) sobre o que acho ser um conjunto de simples medidas a implementar na gestão do plantel principal. Visitem caso tenham uns minutos a "perder".
ResponderEliminarFui ler e não foi perda de tempo. Parabéns, a bluegoesfera fica mais rica.
Eliminar1 questão de lógica: se o clube quer manter jogadores no plantel nunca poderá reduzir a massa salarial de forma significativa. Quanto muito baixa com a saída de emprestados...
ResponderEliminarOu seja, a menos que haja aposta na formação, com jogadores a custos incomparavelmente inferiores aos que estamos habituados, e seja vendida meia equipa (os jogadores mais bem pagos e, teoricamente, não necessariamente, os melhores jogadores do clube), os custos não vão diminuir.
Mas há alguns que podem sair e o rendimento da equipa não seria afetado, como Adrian, por exemplo.
Um orçamento muito, muito, muito, muito optimista, para usar um grande eufemismo.
ResponderEliminarNa prática, mais parece que Fernando Gomes andou a brincar no excel, a tentar combinações que permitissem um resultado positivo, em vez de procurar colocar lá valores realistas e concretos.
Numa segunda abordagem ao valor dos 116 milhões em passes, podemos obter uma dedução simples:
Vamos acreditar que os títulos vão aparecer esta época, pois o deserto é o nosso destino.
A concretizarem o valor em questão, significará o desmantelamento da equipa principal. Ao que se adiciona a impossibilidade de aquisição de Óliver ou Jota.
Negros tempos nos esperam...
Penso que o FCP poderia obter uma boa receita ao limpar os jogadores emprestados. Ganharia pela venda ou pelo simples facto de não ter encargos. É demais termos jogadores a renovar e a serem emprestados, de forma consecutiva, quando se percebe claramente que nunca serão uma mais valia desportiva.
ResponderEliminarTdD, o que acha da polémica do Canela2010? Coincidência este tema ser lançado em vésperas de um jogo importante? Não menosprezando o Setúbal claro, que será uma dura batalha. Não há uma única reportagem do Canelas2010 sem o nome do FCPorto. Vou acompanhando algum futebol distrital e não faltam equipas "violentas" que nunca são notícia. Nunca vi anúncios de pneus com referências a uma determinada equipa.
Esta Sad revela uma incompetência sem limites e tenta fazer os sócios de parvos.O pior é que temos dado prova que o somos como se vai provar na próxima assembleia onde as contas vão ser aprovadas e os Srs incompetentes ainda vão levar como prêmio uma valente salva de palmas.
ResponderEliminarSerá que estes custos com o pessoal que teimam em não descer significam que estamos a pagar ainda os salários do Indi e do Aboubakar?
ResponderEliminarHá salários de semi-excedentários que são altos certamente, como Adrián e Varela (Herrera e Brahimi, que creio que com propostas satisfatórias teríamos vendido num piscar de olhos).
E os próprios Casillas e Maxi, que não desgosto, hão-de receber valores que não justificam o que valem. Contenção salarial?
Manel
Eu voto a favor de mais posts com dados estatísticos, como o anterior, do André Silva.
ResponderEliminarE sugeria também um post sobre o episódio dos sarrabiscos do Nuno em plena conferência de imprensa. Para mim aquilo só tem um nome: palhaçada. E por conseguinte, o Nuno agora para mim é um palhaço. E por cada ponto que perder, mais palhaço é, porque após cada desaire só me vem à cabeça os sarrabiscos do «homem com três pernas». Não tem jeito para o desenho, mas também não tem jeito para o futebol. Devia enveredar pela arte contemporânea onde a «arte é aquilo que cada um quiser», porque o futebol não é aquilo que cada um quiser.