terça-feira, 8 de setembro de 2015

Análise ao fecho de mercado: as rescisões

O que é feito de Rolando, Quiñones e Djalma? Já todos sabemos que deixaram o FC Porto, mas saíram sem que o FC Porto divulgasse uma única informação oficial nesse sentido. Mesmo sendo jogadores dispensados, estes três elementos foram campeões nacionais, tiveram textos de apresentação no site oficial, representaram o FC Porto dentro e fora de campo e não eram três sacos de batatas dos quais ninguém daria conta. Não há razão nenhuma para o FC Porto não ter avançado com uma informação oficial no seu site sobre as saídas dos jogadores. Já com Opare aconteceu o mesmo.

Sem surpresa, o FC Porto limitou um pouco a dança de empréstimos e avançou para algumas rescisões. É preferível, na maior parte dos casos, assumir a rescisão de contrato e o prejuízo do que andar a arrastar situações que não trazem nada de positivo. É certo que nem sempre é fácil rescindir, pois é raro o ser humano abdicar do seu salário em prol de algo inferior, mas são situações com as quais há que tentar lidar da melhor forma. Se havia lógica desportiva para contratar determinado jogador, é perfeitamente admissível assumir a má contratação. Quando se contratam jogadores que se sabe que vão acabar por sair, como foi feito com Sami, aí sim já é um mau ato de gestão. 

O número de rescisões, como foi antecipado aqui, aumenta exponencialmente a partir do momento em que a FIFA proíbe a partilha de passes e aplica restrições às comissões. Há formas de o contrariar, como é lógico, pois a FIFA nunca fechará uma porta sem deixar duas janelas abertas. Por exemplo, no momento da contratação de um jogador, o clube pode aumentar o prémio de assinatura e o futebolista, posteriormente, acorda o que tiver que acordar com o seu representante. Mas as dispensas e rescisões vão ser cada vez mais habituais. Opare foi dispensado logo à segunda época. E Rolando e Djalma, que já tinham sido cedidos três vezes, já não passaram deste verão. Apenas alguns exemplos. Passando a rever cada um.

2 jogos pelo FCP
Quiñones - Chegou no último dia do mercado de 2012. Vítor Pereira tinha na pré-época Alex Sandro, Emídio Rafael (ainda a recuperar de lesão) e até David Addy, todos superiores a Quiñones, para o lado esquerdo da defesa. A contratação, por si só, já não faria sentido, mas o FC Porto recebeu mais um jogador pela mão de Marcelo Simonian. Quiñones custou 1,98M€ por 80% do passe. Fez um jogo na Taça, outro no campeonato e de repente parecia que já nem contava para o totobola. Vítor Pereira não o pediu, não indicou a sua contratação, logo é natural que não lhe tenha dado grandes oportunidades. Se não contava para o treinador, como se dá logo um contrato de quatro épocas a Quiño? Como se justifica que tenha ficado na equipa B, logo ao segundo ano, a tapar o lugar a Rafa em vez de ser logo cedido a uma equipa de primeira liga? 

Até podemos salvaguardar que não havia interessados. Mas isso só torna este negócio ainda pior, com o FC Porto a avaliar em 2,5M€ um lateral, com um contrato de 4 épocas, que nem às mais modestas equipas da primeira liga interessava. À 3ª época foi para o Penafiel... para jogar a maior parte do tempo a médio-ala esquerdo. Isto diz tudo da indiferença do FC Porto em relação a Quiño, que foi contratado para ser lateral-esquerdo, mas a determinada altura já ninguém se importava que andasse a médio-ala no Penafiel. Um empréstimo deveria obedecer a uma lógica de potenciar as caraterísticas do jogador, não apenas arranjar um clube que se ocupe do atleta durante um ano. Agora Quiñones rescindiu. Tudo foi mau, desde o negócio à gestão. Quem teve a ideia de o trazer e, subitamente, não mais aparentou se preocupar com a evolução do jogador?

20 jogos, 3 golos
Djalma - Foi uma boa contratação. Já tinha 3 épocas de Marítimo na primeira liga, qualidade acima da média e quando foi contratado havia espaço para um extremo das suas caraterísticas no plantel. Mas a partir do 2º ano deixou de contar. E a partir daí, já devia ter sido assumido que Djalma não voltaria a fazer parte dos planos do FC Porto. Ao invés disso, três empréstimos consecutivos para a Turquia, que não resultaram em nada.

Agora falta saber que (ou se) prejuízo deu Djalma, pois o «custo zero» do angolano levanta algumas questões. Recordando o texto «Djalma, à espera de quê?», de julho de 2014:

Djalma chegou ao FC Porto em 2011, proveniente do Marítimo, a «custo zero». O FC Porto ficou com 90% do passe de Djalma e cedeu 10% à Pacheco e Teixeira, com sede em Matosinhos, tal como a Promosport, do empresário António Teixeira, que todos os anos faz negócios com o FC Porto e que é carinhosamente tratado como o «agente das sobras», pois raramente oferece negócios realmente rentáveis ao clube. (...) 
Então, a SAD alienou 25% de Djalma ao recém-criado fundo Soccer Invest Fund. Está registado na CMVM e é uma ramificação da MNF Gestão de Activos. O valor nunca foi oficialmente declarado, embora alguma imprensa tivesse apontado para 500 mil euros. O FC Porto disse-o assim: 
«A alienação dos direitos desportivos e económicos sobre os jogadores Rúben Micael, Djalma (25% dos direitos económicos) e Iturbe (15% dos direitos económicos), que ocorreram igualmente neste período, não geraram resultados significativos.» 
A CMVM é a única entidade que tem acesso à lista de investidores ligados à Soccer Invest Fund. Sabe-se apenas que Lino de Castro, ex-administrador do Sporting, é um dos nomes com ligação ao fundo de investimento. Certo é que o FC Porto avançou para uma série de negócios com esse fundo: 20% de Mikel, por 200 mil euros, 5% de Fucile, por 110 mil, 10% de Edú, por 100 mil, e 11% (depois passaram a 15%, pois havia a opção de comprar mais 4%) de Iturbe, por cerca de um milhão de euros. 
Desconhece-se quantos jogadores continuam ligados ao SIF (não há conhecimento de negócios com os rivais da Segunda Circular), mas Fucile, Edú e Iturbe já não estão ligados ao FC Porto. Sobra Mikel, que se lesionou com gravidade, e Djalma.

Ora, o SIF, que se saiba, não voltou a fazer negócios (exceção feita a João Moutinho, quando ainda estava no Sporting, só negociou jogadores do FC Porto). E como os fundos por norma partilham os lucros, não o risco, resta saber em que medida os 35% (10% ao empresário e 25% ao SIF) que foram cedidos/alienados pelo FC Porto podem agora ter resultado num reembolso aquando da rescisão. A rever no R&C. De Djalma, só se torna incompreensível como é que nunca houve propostas concretas por um jogador que sempre teve um valor de mercado acima de 2M€, inclusive na avaliação do SIF. Ainda não foi desta, Teixeira.

175 jogos, 17 golos
e 11 títulos
Rolando - Terminou a ligação de Rolando ao FC Porto. Como? Não se sabe. Foi capitão do FC Porto, ganhou diversos títulos, sempre foi central com bom mercado, mas sai e não se lê uma palavra sequer do clube. Rescindiu ou foi transferido? A SAD não pareceu interessada em esclarecer. O R&C poderá fazê-lo, mas foi a cereja no topo do bolo que foi a péssima gestão deste caso. Segundo uma das versões, há uma compensação de 1,5M€. Se quiserem fazer gestão à Bruno de Carvalho, ao incluir no lucro do negócio o dinheiro que se poupa em salários, poderemos falar numa verba de cerca de 3,3M€. Houve em tempos propostas superiores (sim, 15 milhões de euros - e tanto aclamaram a alegada preferência por Praet e Tielemens que os dois jovens belgas nem sequer chegaram para ser rumor na silly season), mas tudo neste caso correu mal. Há quem afirme Rolando nunca mais, pois nenhum jogador está acima do clube. Toda a razão. Mas Rolando nunca teve problemas com o FC Porto, «o clube». Sublinhe-se, como «o clube». Discutiu-se a integração há um ano, voltou-se a fazê-lo este ano e agora, por fim, Rolando muda-se para Marselha, apenas porque concordou que fosse a Doyen Sports a tratar de tudo. Há quem diga que há parcialidade quando, aqui, se fala do caso Rolando. Mas é claro que há parcialidade, pois todas as opiniões são parciais. E esta é a que se queimou um capitão, um ativo, um futebolista. Distribuam as culpas por quem quiserem, mas quem perdeu foi o FC Porto.

Melhores felicidades profissionais e desportivas a Quiñones, Djalma e Rolando, campeões pelo FC Porto.

5 comentários:

  1. Um dia gostava de perceber o que se passou, verdadeiramente, no "caso Rolando".

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  2. no comments, deixa andar. O que eu sei , e isto fora do contexto mas se calhar nem tanto, nenhuma empresa que se prese pode ter um presidente volta e meia no "estaleiro" seriamente doente ( infelizmente mas a vida é assim ), portanto temos de tirar ilaçoes incluindo o proprio, um dia tera de ser e que saia cheio de vitorias. Reconduçao como é evidente ja nao da, que fique tranquilo e que ajude nos bastidores quem lhe suceder.

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  3. No caso do Rolando, na minha ótica, perderam (muito) ambos os lados.

    O Porto perdeu um grande central, que mesmo se limitando a manter o nível das épocas em que cá jogou seria sempre superior a pelo menos 1 dos centrais (e várias vezes até superior aos 2) titulares durante as épocas em que esteve encostado/emprestado. Perdeu também um potencial encaixe financeiro de relevo, considerando as ofertas que existiram em tempos.

    O Rolando perdeu os melhores anos de uma carreira prometedora. Entre os 27 e os 30 anos, que serão talvez os anos do auge futebolístico de um central, andou a saltar de equipa em equipa, perdendo inclusivamente o lugar na seleção e foi ultrapassado nos 23 do Mundial 2014 pelo Neto, de quem hoje já ninguém se lembra.

    Continuamos a gerir muito mal os nossos ativos, com pequenas exceções. Estas rescisões são uma boa medida, mas seria mais interessante se alguns destes eternos excedentários nunca tivessem sequer chegado a assinar, ou o tivessem feito em outros moldes (contratos de vínculo mais curto, com cláusulas de extensão por objetivos, etc).

    Uma nota final apenas para o blog, uma vez que não escrevo com assiduidade, para dar os meus parabéns. Qualidade e objetividade, e presença essencial ali na lista de favoritos para vir espreitar na esperança de algum post novo. Um abraço.

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  4. Rolando: daqueles casos que toda a gente pensa saber o que se passou mas que ninguém percebe...se calhar nem PC.

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  5. Antes de mais queria dar os parabéns pelo blog apesar de ser benfiquista este é um dos poucos blogs que frequento dai pode denotar-se a qualidade do mesmo.
    Quanto ao tema em questão, o mesmo se passa no meu clube algo que deveras me deixa desagradado e espero que esta falta de comunicação com os sócios/adeptos seja corrigida pois deixa muito a desejar...

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.