quarta-feira, 30 de setembro de 2015

É o que dá «inventar»

Três pontos, 1,5 milhões de euros, 18ª vitória consecutiva no Dragão e liderança do Grupo na Champions, à frente do favorito Chelsea, com boas perspetivas de apuramento para os oitavos-de-final. Tudo isto com uma vitória daquelas que enchem os adeptos de orgulho e contentamento, mesmo aqueles que ao conhecer o 11 inicial já acusavam Lopetegui de estar a «inventar» e que ao próximo mau resultado já se vão esquecer da noite de ontem e vão voltar a cair em cima do treinador e dos ódios de estimação do clube. Porque o problema, aos olhos desses adeptos, na verdade não é o treinador, nem os jogadores. É não ganhar. 

André de pé quente
O Chelsea tem um plantel de elite, um treinador que ninguém ousará dizer que não é dos melhores e mais marcantes da história, e ainda assim está em péssima posição na Premier League e ontem foi apertado no pescoço no Dragão. O FC Porto lidera o campeonato nacional e está em boa posição para ir aos 1/8 da Champions - o apuramento decide-se na dupla jornada com o Maccabi e na receção ao Dínamo Kyev, pois não é nada boa ideia ter que ir a Stamford Bridge para garantir o apuramento. Nos próximos três jogos, dois deles no Dragão e um em Israel, estarão em jogo 4,5 milhões de euros e 9 pontos. O FC Porto sério, combativo e empenhado de ontem vai cumprir esse objetivo.

Uma palavra para Lopetegui. Sim, ele gosta de inventar. É um risco. Mas também tem uma coisa boa: não tem medo de inventar. Lopetegui não se preocupa com o que possam dizer das suas opções, antes e depois do jogo. Ele traça as suas opções mediante aquilo que acha que é o melhor para a equipa, que deixa o FC Porto mais perto de vencer. Não se preocupa com mais nada.  Quem olhasse para o 11 diria que foi um FC Porto montado para defender e jogar para o pontinho. Nada mais errado.

Mesmo desta vez tendo menos pose de bola (43%), o FC Porto criou mais situações de perigo do que o Chelsea, e mesmo depois de fazer o 2x1 continuou em cima do adversário e só por alguma falta de felicidade não chegou ao 3x1. Provavelmente, outro treinador recuaria logo e meteria a equipa à defesa. Lopetegui não. Seguiu o plano que estava traçado desde o início do jogo. Insistiu nele e o Chelsea não teve como dar a volta. 

Depois das derrotas marcantes contra Sporting (na Taça) e Benfica (no último clássico de 2014), o FC Porto não mais perdeu pontos em casa. 19 jogos, 19 vitórias. Em todos os jogos, Lopetegui apresentou perante os adeptos do FC Porto uma equipa autoritária, dominadora, que foi sempre mais forte do que os adversários e que nunca deixou de jogar para ganhar. Dirão, e bem, que também é preciso ganhar fora de casa. Nada mais verdadeiro. Fora de casa, o FC Porto de Lopetegui, em 29 jogos, ganhou 15 e empatou 11. O que faz acreditar que fora de casa as coisas correrão melhor? Vitórias como a de ontem.





Rúben Neves (+) - Qual é a cláusula de rescisão, mesmo? Se são os 40M€, já são demasiado curtos. Podemos invocar a crise e a contenção do fair-play financeiro, mas depois de termos visto no verão Sterling valer 62M€, Martial 50M€, Benteke 46M€ ou Firmino 41M€, quanto valerá este protótipo perfeito de Pirlo!? É simplesmente impossível que no verão não apareçam propostas dessa ordem por Rúben Neves. Está mais forte fisicamente, continua a fluir o jogo como poucos, já se liberta mais em progressão e tenta mais o remate, mas ainda assim continua exímio no passe e na distribuição de jogo. É provavelmente o melhor jogador da atualidade de 18 anos. 

Obrigado a Lopetegui, por ter tido a coragem de fazer o que ninguém no departamento de formação do FC Porto idealizou antes: meter Rúben Neves num patamar acima. Dito isto, e sabendo o quão difícil será manter Rúben Neves para lá de 2016, há que tentar. Nas 30 maiores vendas da história do FC Porto, Anderson foi o mais novo a sair (19 anos), de resto foram James Rodríguez e Cissokho, ambos com 21 anos. Rúben Neves, até aos 21 anos, pode e dever ficar no FC Porto. Quanto mais tempo ficar, mais qualidade acrescentará à equipa e mais perto estaremos dos títulos. E quanto mais tempo ficar, mais valorizado ficará. Há que fazer todos os esforços para manter Rúben Neves durante muito tempo. Quem joga como gente grande também deve ser valorizado, do ponto de vista financeiro, como gente grande. Mas o portismo não tem preço, e Rúben Neves é um símbolo disso mesmo.


Aboubakar (+) - Dá gosto ver a elasticidade nos seus pés no domínio, controlo e progressão. É um poço de força e empenho, inteligentíssimo a vir buscar o jogo atrás e a dar linhas de apoio, e tão depressa parece um bom rapaz que não se quer chatear com ninguém como a seguir pega na bola e começa a comer metros e a deixar adversários para trás de forma destemida. Não marcou, mas ontem, em plena Champions e contra uma boa dupla de centrais, mostrou que é o ponta-de-lança de grande categoria que temiam que o FC Porto não tivesse para 2015-16. Antes de o FC Porto pensar em comprar quem quer que seja para 2016-17, os 30% do passe que a SAD tem de Aboubakar têm que engordar. 

Brahimi (+) - O melhor jogo da época. Com André André do lado direito e um meio-campo sem um criativo para zonas adiantadas, toda a criatividade e capacidade de sair no drible teriam que advir dos seus pés. Mais, com Martins Indi no lado esquerdo da defesa, Brahimi ia estar muitas vezes desapoiado e teria que assumir sozinho os lances. Fê-lo na perfeição. Ivanovic parecia um perdido atrás dele. Guardou sempre bem a bola, descoordenou a defesa do Chelsea a partir do seu flanco, e foi mais objetivo do que nunca, não perdendo tempo com voltas de 360º que acabam e começam - logicamente - no mesmo sítio. Que seja para manter, pois massacrar Ivanovic não devia ser mais fácil do que fazê-lo contra o lateral do Moreirense.

Miolo (+) - Com o meio-campo que Lopetegui montou, sabia-se que o FC Porto não teria tanta facilidade em criar lances de perigo. André André é um apoio para jogar no lado direito, não um jogador para fazer sozinho a diferença no meio-campo adversário; jogar com Indi em vez de Layún retira a profundidade no flanco; sobrava Brahimi (e Aboubakar) para desequilibrar. Na primeira parte essas dificuldades estiveram claras (aqui um pouco de Machado), mas a verdade é que os jogadores souberam complementar-se, progredir em linhas e passes curtos, e evidenciar no coletivo o que faltaria em individualidades. Para isso muito contribuíram Danilo e Imbula. O primeiro funcionou muito bem como referência à frente da defesa, embora por vezes ainda se atrapalhe com Rúben Neves no que toca ao posicionamento; Imbula fez o melhor jogo pelo FC Porto: teve a melhor eficácia de passe do meio-campo (91%), transportou jogo e foi essencial ao dar força e músculo ao meio-campo. 

Reação de Lopetegui (+) - Sendo Evandro o único médio no banco, a entrada para o lugar de Rúben Neves foi lógica. Depois houve dedo de Lopetegui: a entrada de Layún, em detrimento de Tello ou Corona, foi uma boa solução, na medida em que é o que melhor defende, mas sem retirar profundidade e agressividade ao ataque; depois entra Osvaldo, desviando Aboubakar para a ala. Com isso garantiu-se um 9 fresquinho, para pressionar os defesas e ajudar a defender no jogo aéreo; e Aboubakar, na ala, serviu perfeitamente para guardar a bola e manter uma referência na saída para o ataque. Provavelmente todos estariam a criticar estas opções se o Chelsea chegasse ao empate nos descontos, mas é assim mesmo o futebol. Bem jogado.

Um golo de canto! (+) - Desde o calcanhar de Jackson à Académica que não se via esta coisa tão simples e tão difícil: cruzamento, desvio de primeira e golo. Muito mérito para Maicon no golo, na antecipação e no golpe de cabeça, e fica desde já aqui o destaque para o bom trabalho de todo o quarteto defensivo, que se bateu contra alguns dos melhores avançados do mundo - embora Maicon, em dois lances, tenha estado à espera que Diego Costa lhe caísse em cima para reagir. Casillas também brilhou com duas defesas, de resto tirando o remate de Diego Costa à trave o Chelsea nada mais fez. Ingrato que o braçinho de Marcano quase pudesse ter borrado a pintura no final. Levanta-se apenas uma preocupação: com Martins Indi na esquerda (solução bem interessante), ficamos sem centrais de equipa A no banco para a Champions.





Falha de comunicação (-) - Foi bom ver Casillas assumir o erro no livre do Chelsea. Mas aquele lance nem nos distritais pode acontecer: se Casillas não está a ver a bola, tem que corrigir a barreira. O árbitro espera. Que grite, que chame um jogador, mas não se pode deixar bater o livre naquelas condições. Além disso, a bola entra pelo lado que o guarda-redes tem que cobrir. Um erro a não repetir. Houve certamente outros aspetos que necessitam de correção, mas isto é a Champions e do outro lado estavam o Chelsea e Mourinho. Teria que haver erros, mas nenhum deles afastou o FC Porto da vitória. É isso que fica deste jogo.

Domingo, em dia de legislativas, vamos à 19ª no Dragão. 

15 comentários:

  1. Bom artigo, só um comentário, o San Iker não tem hipótese nenhuma naquele golo, há todo o mérito da equipa do Chelsea. O Porto fez a barreira com os quatro, cinco homens que o Casillas entendeu e o Chelsea pôs mais quatro ou cinco a tapar a visão ao guarda redes. Não tem como evitar, é praticamente impossível de defender. Mas a equipa deu uma grande resposta no segundo tempo e isso é ser Porto!

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  2. Que justificação haverá para a falta de atitude dos jogos fora do dragão para que o FCP não jogue sequer metade do que jogou ontem? Motivação do publico? Do ambiente de champions? O campeonato ganha se nos moreirenses e marítimos..vamos lá manter a atitude de ontem em todos os jogos e seremos campeões em abril

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    1. Acho k o grande problema dos jogos fora é que, por norma, os clubes pequenos antes dos jogos contra os grandes estragam um pouco o relvado (fazem buracos, põem areia, etc.), para que a não se possa jogar um futebol rápido e fluído, e como o Porto é uma equipa que circula muito a bola tem mais dificuldades do que por exemplo se jogar num relvado em perfeitas condições como o do Dragão, a juntar a isso que as outras equipas jogam quase num 4-5-1 ou num 5-4-1 (com os médios a ajudarem muito nos trabalhos defensivos), fica difícil penetrar a defesa...

      E claro que o apoio dos adeptos tb tem influência, é totalmente diferente estarem mais de 40 milhares a apoiar a equipa e estarem cerca de 2 milhares...

      Mas acho que isso se podia resolver com uma tática mais ofensiva, eu punha Danilo, André André, e Bueno no meio-campo (não ponho Rúben Neves porque estes campos não favorecem as suas características, e ponho Bueno porque pode funcionar quase como um segundo avançado a atacar para dar mais presença na area), e com Brahimi, Corona, e Aboubakar no ataque...

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  3. Realmente foi golo de canto, quem diria! Quanto ao jogo, não entendo porque quando o Porto mandou aquela bola ao poste, os comentadores do regime teimam em esquecer que o árbitro também poderia assinalar grande penalidade sobre Brahimi, só faltam da bola na mão na grande área do Porto depois dessa jogada....... Lá está, temos de começar a ser mais Unidos, porque pior do que os outros adeptos criticarem o nosso treinador, dsão os nossos adeptos, alguns deles que até insultam funcionários do nosso clube e isto é muito grave. Reflitam: se calhar temos é adeptos que eles é que não sabem o que é a mística do brasão Abençoado.

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  4. foi mesmo muito bom! para mim casillas mais uma vez foi o mvp, pos nos no jogo, nos ultimos 3 jogos tem sido assim começo a tremelicar e casillas a safar, esta la para isso? pois claro. Rui Neves se aprender a marcar livres sera tipo Pilro seria, ainda e novito para aprender, que bate bem bate. Agora foco liga que é o mais importante, nao se pode dar as "abebias" costumeiras que nos tem tirado pontos pateticos, arranjar um antiduto contra autocarros e nao travar enquanto nao estiverem 2 la dentro. GOSTAVA MUITO DE VER SERGIO OLIVEIRA TAMBEM A JOGAR, E LENTO MAS TEM POTENCIAL PARA JOGAR NA EQUIPA PELO MENOS DE VEZ ENQUANDO.

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  5. faltou me dizer que gostei do presidente depois do jogo, alegre, feliz, mostrando alguma vivacidade e sarcasmo e perspicacia que o caraterizaram.

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  6. Marcano foi com o bracinho à bola aos 90 minutos, mas Ivanovic(?) foi com o bracinho à camisola de Marcano aos 80 minutos, sendo que o lance dos 90 foi bem realçado pela nossa comunicação social. O outro ficou esquecido.., ou não.

    É só seguir o link:
    https://youtu.be/p2ZSsZuHaMI

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    1. Já para não falar na dualidade de critérios...para o Chelsea o árbitro apitava...para o Porto nem por isso.

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  7. Grande jogo espetacular...
    Jogo perfeito do Imbula estava em todo lado, Ruben Neves e André André muito bem, muito bem o treinador está vitória e o grande jogo e mérito dele está equipa só se da bem a jogar grandes jogos falta a Lotepegui saber motivar os jogador para jogos com Moreirense.

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  8. Não retiro nem acrescento uma palavra que seja à análise, do início ao fim.
    Desde Lopetegui até Casillas, passando por todos os outros intervenientes.

    Sublinho o ambiente no Dragão - para o qual os jogadores muito contribuiram - que (ao contrario de algumas outras noites) fez com que jogassemos com 12.

    Parabéns
    HF

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  9. ...tudo bem escrito, as usual, mas falta acrescentar pênalti para nós aos 82'....

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  10. TdD

    Só gostava de dizer que reactivei o meu blog com um formato diferente de tudo o que existe na Bluegosfera.

    http://fcpsempredragao.blogspot.pt/

    Nesse contexto gostaria de te pedir permissão para usar algumas frases de vez em quando, de posts que caibam no arranjo gráfico para tal.

    Por exemplo, em relação ao jogo do Chelsea, podia ser qualquer coisa do género:
    Tribunal do Dragão
    "Rúben Neves (+) - Qual é a cláusula de rescisão, mesmo? Se são os 40M€, já são demasiado curtos. "

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  11. Imaginemos que na terça-feira o Maicon se lesionava, nesse caso o Lopetegui passava o Martins Indi da lateral para a central. Imaginemos que, depois disso, o Marcano era expulso, então o Lopetegui passava o Danilo do meio campo para central. Imaginemos que depois desses azares com o Maicon e o Marcano ainda havia outro azar com um dos defesas centrais que restavam (Martins Indi ou Danilo), só a partir dessa altura é que se faria sentir a falta de um defesa central no banco. Ou seja, era preciso muito azar (três azares) na zona central da defesa para que a ausência de um defesa central no banco fosse um problema nesse jogo ou noutro jogo qualquer onde esses quatro jogadores façam parte da convocatória.
    Agora, se um deles não fizer parte da convocatória o caso muda um pouco de figura!
    A ausência de um defesa central no banco no jogo de terça-feira foi um risco, mas foi um risco relativamente reduzido e que se correu para ter um maior leque de opções no ataque.

    Ventura.

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De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.