domingo, 11 de setembro de 2016

Normalidade

Estar já descansado aos 56 minutos, com a equipa a vencer por 3x0 no Dragão e com o resultado controlado no Campeonato. Um luxo que já não acontecia há um ano e cinco meses. O problema resolveu-se com três golos no espaço de menos de 20 minutos, mesmo em lances que obedecem sempre a peripécias específicas (bola parada, remate desviado e auto-golo), com as limitações óbvias de uma equipa que jogou num novo esquema e com os malefícios provocados pela pausa para as seleções, antes da estreia na Champions.

Não foi brilhante, mas houve brilho suficiente para que todos regressassem a casa satisfeitos e com sensação de dever cumprido. Ganhar em casa ao V. Guimarães é normal (19 vitórias nos últimos 20 jogos). E ontem foi normal o FC Porto vencer. Como tem que ser em todos os jogos desta dimensão. 





Óliver Torres (+) - É um daqueles predestinados que tem o tom de, além de acrescentar qualidade por si próprio à equipa, consegue libertar a qualidade dos que o rodeiam. A forma como oferece soluções aos colegas, une os setores e faz fluir o jogo, sempre com um acerto notável no passe (91%), não deixa dúvidas sobre a valia que é tê-lo no plantel. Jogou ligeiramente mais descaído para a faixa esquerda, mas com liberdade para pisar todos os terrenos. Se Nuno não cometer o erro de querer fazer dele mais extremo do que médio, será sempre Óliver e mais 10. Libertar Óliver é libertar o FC Porto.


Iván Marcano (+) - A confirmação de um excelente início de época. Tem sido dos melhores e mais regulares jogadores do FC Porto neste arranque. Fez um golo, mas foi pelo seu papel na defesa que mostrou que Boly, por muito que tenha sido uma contratação caríssima, não tem espaço para entrar neste momento na defesa. Entre cortes e desarmes, foram 11 intervenções de Marcano na defesa. Está confiante, forte na antecipação, competente no jogo aéreo e no início de construção. A dupla com Felipe está a funcionar e, a nível interno, tem que ser mais do que suficiente para consumo. 

Danilo Pereira (+) - Com os laterais muito projetados no ataque e com André André, Óliver e Otávio sempre a pisar terrenos mais adiantados, foi o tampão que manteve o FC Porto equilibrado e seguro na retaguarda. Essencial durante a primeira meia hora, na qual o FC Porto não esteve bem e permitiu que fosse o Guimarães a equipa mais perigosa até ao momento. Acerto em 94% dos passes, 6 desarmes e 6 recuperações de bola. Uma garantia de segurança, de regresso à boa forma, não esquecendo que teve uma pré-época atribulada. 

Outros destaques (+) - Miguel Layún continua a ser o denominador comum na capacidade do FC Porto em criar perigo nas bolas paradas. Bateu o canto para o 1x0, atirou à trave e ainda fez o cruzamento para o 3x0. Jogando no lado direito pode não ser tão forte nos movimentos interiores, mas voltou a ser de uma disponibilidade imensa - incrível o sprint que faz aos 89 minutos, para tentar fazer o 4x0, depois de só ter chegado ao Porto na sexta-feira. Isto, meus senhores, é a definição pura de um jogador à Porto.

Alex Telles esteve bem na constante profundidade que deu ao flanco esquerdo e nos vários cruzamentos que tentou. André Silva teve um falhanço daqueles que ninguém perdoaria a um Marega, um Varela ou um Herrera (é a verdade, goste-se ou não), mas fez um jogo competente numa nova posição. É uma tarefa ingrata, pois até ao momento jogou sempre na posição da qual foi desviado para entrar Depoitre, mas garantiu sempre amplitude ao ataque do FC Porto e saídas rápidas na frente. Tem que melhorar o 1x1 para jogar mais vezes aqui, ainda que não haja dúvidas que a sua melhor posição é a 9. 

Palavra então para Depoitre. Em termos práticos não criou muitos lances de perigo (um bom cabeceamento na primeira parte e uma chegada atrasada a um cruzamento de Óliver), mas destacou-se pela dimensão física que deu na hora de segurar e disputar a bola (ganhou todos os lances aéreos que disputou), além de ter penteado a bola para o golo de Marcano. Depoitre é isto: uma solução diferente na hora de tentar arrombar defesas, que não tem culpa dos custos e contornos da sua contratação. Mas que a sua titularidade não signifique um abuso da tentativa de jogo direto e bola para o ponta-de-lança, como se notou em vários momentos do jogo (pontapé de saída, bola no Alex Telles e balão para a frente? Really?).





Demasiada expetativa (-) - Com Nuno Espírito Santo, o FC Porto passa a ser uma equipa que aposta mais em transições rápidas. Mas isso não pode significar alergia à posse de bola, sobretudo na hora de gerir a vantagem. Depois do 3x0, o FC Porto entrega por completo a iniciativa de jogo ao Guimarães, deixando de pressionar e de querer ter bola no meio-campo adversário. O resultado era confortável, mas o FC Porto tem que ter a capacidade de descansar com bola, de manter a posse como forma de gerir a vantagem, ao invés de deixar de pressionar. Sobretudo porque fazer isto com 3x0 no marcador não será a mesma coisa do que tentar fazê-lo com 1x0. Livrem-se.

A demora em entrar (-) - Nos primeiros 25 minutos, só uma equipa tinha rematado à baliza, e tinha sido o Guimarães. Podemos já falar do golo anulado a André Silva: Nuno Espírito Santo diz que foi bem anulado, mas o lance é no mínimo duvidoso. Tanto que 2/3 d'O Tribunal O Jogo considera que o golo foi limpo, enquanto também identificam dois penaltys por marcar a favor do FC Porto e um vermelho por mostrar ao Guimarães. Jorge Sousa é, opinião, o melhor árbitro português. E é por isso que devemos estar preocupados: todos os lances que suscitam dúvidas estão a ser assinalados contra o FC Porto. Foi assim em Alvalade, foi assim ontem; foi assim com um internacional precoce, foi assim com o melhor árbitro português. Nuno quer ser politicamente correto, quer ser elegante, mas até Rui Vitória, o homem que não falava de arbitragens, percebeu que tinha que ter uma abordagem diferente. Não queiramos ser bons rapazes em demasia.

Quanto ao jogo propriamente dito, a primeira linha de pressão não estava a funcionar. O FC Porto pressionava com os primeiros 5 homens na frente, mas recuperou poucas vezes a bola perto da grande área do Guimarães. Pressionar só com uma primeira linha não funciona: a equipa tem que subir toda, de modo a obrigar o Guimarães a recorrer ao chutão ou a errar. Colocar André Silva, Otávio ou Óliver atrás do portador da bola, mas sem com isso encurtar o campo com a subida da linha defensiva, desgasta a equipa e não asfixia o adversário. Felizmente, uma bola parada e um remate feliz a abrir a segunda parte simplificaram tudo. Saímos satisfeitos no final dos 90 minutos, mas nem sempre poderemos contar que bons 20 minutos se sobreponham aos restantes 70. E isso vale já para quarta-feira.

19 comentários:

  1. Uma pena nao terem destacado o regresso de André André às exibicoes da época passada. Grande jogo de formiguinha trabalhadora no meio campo sempre a ir buscar jogo e lancar jogo. Gostei muito. É a melhor posicao para ele

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  2. ....estava a ver que não falava do golo do André Silva, fez o quem tem sido hábito. Anularam-no miseravelmente. Ainda há pouco disse que em Portugal não há bons árbitros, mas quem fala melhor inglês e os que entregam a encomenda direitinha. Deixemo-nos de fantasias, mas a arbitragem em Portugal "stinks" e em matéria de denuncias passamos a ter Jorge Nuno em vez de Pinto da Costa. Temos de saber jogar contra 14, como ainda há pouco o demonstrou a B.
    Por ultimo, temos um treinador, finalmente, que quer dar alternativas de jogo diferentes ao plantel e tentar surpreender os adversários. Merece ter exito.

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  3. Gosto muito deste blogue, acho o único na blogosfera azul e branca pela imparcialidade, pelos factos e argumentos. No entanto, não posso deixar de reparar numa certa antipatia para com Nuno, sendo bem mais áspero com ele do que era com Lopetegui (com quem simpatizava...). A análise ao jogo em alvalade traduziu isso, e esta é também uma análise algo dura. Pela minha parte, acho que com menos instrumentos (e menos apoio em termos de construção de plantel, duma direcção anárquica neste momento), está a fazer crescer uma equipa bem estruturada, que joga um futebol atraente por muitos períodos, e que tem margem para crescer bem mais. Acho que o balneário está com ele, e jogadores como Andre Silva, Felipe, marcano, Otávio estão a ter prestações bem agradáveis e em crescendo. Dou nota positiva ao Nuno, sem dúvida, e espero que a equipa continue a crescer.
    De resto, parabéns pelo blogue, e que continue(m?) o bom trabalho!

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    1. O Nuno tem-me surpreendido, tem feito um bom trabalho mas longe de ser perfeito. Merece muito crédito pelo que já conseguiu fazer. José Marques

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  4. Pontapé de saída de Robson ? Really ?
    O Fonseca é que era.

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  5. Engraçado que o não tenha ido ver o que dizia TODO o tribubal d'O jogo acerca dos dois golos em alvalade. Agora deu jeito ;) Na minha opinião são os 3 golos limpos.

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  6. https://www.facebook.com/TribunalDasAntas/photos/a.1522622914716835.1073741830.1515912312054562/1653076301671495/?type=3&theater

    Este senhor.....

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  7. Mais uma vez continuo a axar que danilo nao é jogodador para jogar nos jogos em casa, precisamos de alguem mais roteador de jogo penso que os jogos em casa deveriam ser compostos por oliver andre andre e herrera ou oliver herrera e ruben neves

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  8. A abertura de jogo fez-me lembrar Robson...

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  9. Aqui fica uma imagem https://www.facebook.com/PortalDragoes/photos/a.381076625447.166439.252332890447/10153657499490448/?type=3&theater

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  10. A utilização deste modelo de jogo torna ainda mais incompreensível a dispensa de Bueno. Se a aposta no 442 é para manter não mereceria pelo menos o beneficio da dúvida? E ter uma oportunidade (que não chegar a ter realmente) para mostrar o seu futebol?

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  11. Boa tarde, está é uma análise muito pouco fundamentada e pouco rigorosa. Em termos tácticos nao está correcta.

    Penso que não tendo alternativas para jogar em 4x3x3 (Corona debilitado fisicamente, Jota pouco ambientado ao Dragão e Varela não sendo uma opção) o Nuno construiu bem a equipa. Claramente não tem rotinas neste sistema. Percebeu-se imensas vezes sempre que a bola entrava nos laterais que procuravam o apoio frontal que normalmente é o extremo. Não estava lá... E tinham de voltar a jogar para trás porque nem o André André, nem o Oliver estavam a procurar esses espaços. O Porto procurava o jogo exterior quando tinha de procurar o interior.

    O golo trouxe estabilidade e na segunda parte a equipa já construiu a partir do meio permitindo aos laterais explorar o espaço dos corredores (o segundo golo nasce de uma situação dessas).

    Para Copenhaga, com o Corona a 100%, vai voltar o 4x3x3.

    E sim, Oliver não garante apenas isso. Tem inteligência em distribuir o jogo não no colega mais perto, mas no colega a sentir menos pressão adversária, com mais espaço.... Basta ver o jogo é perceber que nem sempre coloca a bola onde é esperado.

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  12. Post escrito sem dar a mão à palmatoria. Análises feitas de maneira a agradar os argumentos que defendeu anteriormente. Adoro as analises financeiras e politicas. Discordo com muito do que é dino nas analises desportivas. Não se conseguem libertar de preconceitos tendenciosos (prata da casa é má, só os nomes fazem equipas, o contra-contra exagerado (se existe uma parte dos adeptos que são injustamente contra determinados jogadores e a favor de outros, o tribunal do dragão toma normalmente posição contra (esses adeptos) exageradamente em vez de se ficar pelo meio. Generalidade dos adeptos critica demasiado herreras e Maregas e defende demasiado ASilva. Verdade. Mas não é ir pelo extremo oposto que também se demonstra ser correcto, apesar de parecer muito mais "sexy e intelectual"

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  13. Já o tinha dito e repito, Marcano e Layun são jogadores à Porto e devem ficar muitos anos, é com jogadores destes que se criam estruturas fortes.

    O lance do André Silva tal como os golos do Sporting são lances válidos e aqui o Porto errou, primeiro porque tem obrigação de explicar aos adeptos as leis de jogo e dar informações correctas e depois devia—se queixar porque em lances semelhantes houve julgamentos diferentes e pedir explicações a quem de direito e estes por sua vez explicarem como é a lei de bola na mão.

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  14. Nas vitórias do porto nota se uma certa digamos "alegria" de quem escreve neste blogue..que continue assim por muito tempo..Eu não me importo. .

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  15. "pontapé de saída, bola no Alex Telles e balão para a frente? Really?"

    Não tive oportunidade de ver o jogo contra o Guimarães, mas fazemos este movimento de saída de bola desde o início da época, embora nos últimos já fosse o médio a bombear a bola...

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  16. O jogo acabou por correr bem, mas ainda há muito trabalho pela frente, Nuno vai experimentando mas sobretudo a níve defensivo é preciso cimentar rotinas e tornar a equipa mais segura.
    Bolas paradas idem.

    Neste jogo gostei sobretudo do André Silva, Oliver e Danilo.
    Não gostei muito de Felipe nem do Jota.

    O Copenhaga vai-nos trazer problemas. Têm um estilo diferente que nos vai colocar problemas.

    Herrera.
    Abençoado ver o mexicano na bancada e jogadores de futebol em campo, não é?

    Pois ele, uma vez mais, vai ser martelado para o onze.
    Um jogador de futebol, a jogar bem, terá de sair.

    Este maçarico, porta-estandarte do desnorte e desvario deste FC Porto pré-apocalíptico, é capitão de equipa.

    Para vergonha de muitos ex-capitães e de muitos adeptos.
    Onde também me incluo.

    Nuno tem aqui um dos principais capítulos da sua liderança.

    Lembrar ainda que ainda andam Varelas e Adrians pelo plantel, não convém lembrar isso apenas quando se perde.

    Era bom começar, porque não há momentos ideais e o clube precisa, discutir o futuro.

    Villas-Boas, Baía, Antero, Oliveira, Gomes.

    Villas-Boas é motivo de muitos suspiros entre boa gente.

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  17. "Jorge Sousa é, um dos melhores árbitros portugueses. E é por isso que devemos estar preocupados: todos os lances que suscitam dúvidas estão a ser assinalados contra o FC Porto. Foi assim em Alvalade, foi assim ontem; foi assim com um internacional precoce, foi assim com o actual melhor árbitro português. Nuno quer ser politicamente correto, quer ser elegante, mas até Rui Vitória, o homem que não falava de arbitragens, já percebeu que tinha que ter uma abordagem diferente. Não queiramos ser bons rapazes em demasia."

    Exacto.. este ano, esta época a Corporação APAF já decidiu. Depois de ter levado ao TRI um clube após 38 anos de fome, de seca extrema, tudo vai agora intentar e porfiar para fazer Campeão um clube que faz a sua travessia do deserto há 15 anos seguidos.. Que não haja dúvidas.

    Não me canso de repetir, a ver se alguns entendnem: Um jogo de futebol tem 3 equipas não 2. E a 3ª equipa é a que decide a maior parte dos jogos a seu belo prazer.

    São os elementos da 3ª equipa que inclinam os campos, que fazem vista grossa a uns e expulsam outros, que deixam passar os foras de jogo a uns e a outros não. E até inventam penaltis se for preciso.

    Árbitros, fiscais de linha, 4º árbitro, delegados, observadores, nomeadores, ex-árbitros na sombra, toda uma teia de interesses obscuros que se movem por trás da cortina. E depois há ainda os interesses dos Mass Media, do tal Eco de 90% dos Jornais, Sites, Rádios locais, Tvs Regionais de Lisboa.. que tudo fazem tudo tentam para empolar os seus clubes e apagar o FCP.

    Acorda Porto!!

    Dirigentes, Treinadores, Sócios, Adeptos, Seguidores...




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