segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Os 67% de Lopetegui e do plantel

Somando as mais-valias aos proveitos operacionais, o FC Porto gerou 176 milhões de euros de receita em 2014-15. Uma enormidade num contexto de clube português, sobretudo não sendo o FC Porto o clube mais saudável quando o assunto são resultados operacionais. Este mérito assenta sobretudo em dois elementos: Liga dos Campeões e venda de jogadores. 

Tomando as mais-valias e os proveitos da UEFA como referência, só aqui o FC Porto gerou 118,67 milhões de euros em 2014-15, valor que seria naturalmente maior se não estivéssemos a deduzir as amortizações do custo dos passes dos jogadores transferidos. Mas isto significa que as mais-valias e a UEFA tiveram um impacto de mais de 2/3 das receitas totais do FC Porto em 2014-15 (67%). O mérito passa, acima de tudo, por dois elementos: o primeiro o valor do plantel; o outro o treinador.

Na UCL, o treinador tem que
ser mais do que... treinador
Mais do que na capacidade de qualquer dirigente, a subsistência do FC Porto tem estado acima de tudo entregue aos jogadores e ao treinador. Porque o que permite ao FC Porto manter o seu modelo é os resultados na Liga dos Campeões e a capacidade de lapidar jogadores e canalizá-los para transferências milionárias. Provavelmente não há nenhum outro clube de Champions que esteja tão dependente de mais-valias e das provas europeias para manter a sua saúde financeira.

Isto vem a propósito da proximidade dos jogos contra o Maccabi Tel Aviv e contra o Dynamo Kiev. É nestes três jogos que o FC Porto vai decidir o seu apuramento para os 1/8 da Liga dos Campeões, um dos objetivos para 2015-16. Lopetegui só está a disputar o seu segundo ano de Champions, mas já sabe o que ela significa a todos os níveis. E mesmo na sua curta experiência, já foi tantas vezes aos 1/8 da Liga dos Campeões como o Sporting e Jorge Jesus em toda a sua história/carreira; apenas dois termos de comparação.

Lopetegui é o treinador com maior percentagem de vitórias em jogos da Liga dos Campeões em toda a história do FC Porto. E isso não advém de um calendário facilitado: advém de não facilitar seja contra quem for. A Champions é feita de Bratislavas e APOELs sempre prontos para uma surpresa. Lopetegui fez o que lhe compete: manter sempre a equipa em alerta para qualquer adversário. Daí os elogios ao Maccabi, tentando sempre enaltecer o que de bom tem o adversário. Há quem julgue que é fácil, que na Champions se ganham jogos em piloto-automático, mas não é assim. Mais, não há um único treinador na Liga dos Campeões que, antes de um jogo, diga «vamos ganhar e vai ser muito fácil». Claro que não, todos dizem que esperam um jogo difícil, que vão defrontar um adversário de qualidade. São chavões, mas também todos verdade.

De recordar, por exemplo, que não há muito tempo o Benfica, embora noutra competição e contra outro clube, saiu de Telaviv com 3x0 no saco. Nesse jogo, o melhor em campo foi um tal de Zahavi, que fez dois golos e desfez uma equipa que tinha Maxi, Luisão, David Luiz, Coentrão, Javi Garcia, Aimar, Gaitán, Salvio, Saviola... O mesmo Zahavi que é hoje a estrela do Maccabi Tel Aviv e que vai defrontar amanhã o FC Porto. Ao mínimo desrespeito e desconsideração pelo adversário a consequência será a perda de dinheiro e de pontos na Champions.

Décadas a desafiar
entraves e dificuldades
Nada é garantido. O FC Porto luta contra muito na Liga dos Campeões. Muitos adeptos não têm a exata noção do quão difícil é montar uma equipa competitiva, que assuma a luta pelos 1/8, os atinga com naturalidade e consiga bater-se com os melhores da Europa. Não podemos subscrever, de todo, a história de que os orçamentos ganham sempre, senão o FC Porto ganharia sempre acima de 95% dos jogos na liga portuguesa. Mas serve isto para ilustrar a diferença entre um clube português na Europa e os demais.

Em 2014-15, num percurso que teve 12 jogos, apenas uma derrota, que meteu o FC Porto a sonhar com as meias-finais da Champions e que motivou transferências milionárias de Danilo, Alex Sandro e Jackson (bem como a projeção de nomes como Casemiro, Óliver ou Brahimi), a SAD encaixou 4,263 milhões de euros de market pool. Sabem quanto ganhou o Anderlecht, que nem passou da fase de grupos? 4,529M€. E o Athletic de Bilbao, eliminado no grupo do FC Porto? 10,261M€. E o Malmoe, da Suécia? 7,405M€. E o Olympiacos? 14,653M€. Ninguém se atreve a afirmar que algum destes clubes é superior ao FC Porto. Mas reparem que o FC Porto teve que ir aos 1/4 para ganhar muito menos do que alguns clubes cuja simples presença na Champions vale mais do que qualquer brilhantismo português. O FC Porto precisa desta montra, mas a montra garante muito pouco quando comparado com a maioria dos clubes estrangeiros.

O próprio Benfica, uma das piores equipas da edição 2014-15 da Champions, ganhou 3,947M€, apenas menos de 316 mil euros do que o FC Porto. O Benfica teve o benefício de entrar na Champions com o estatuto de campeão português, o que garante mais receita, e o facto de o Sporting, ao contrário do que é hábito, ter estado na Champions implicou que a receita dos direitos televisivos fosse dividida por três clubes, ao invés de dois. Em 2015-16, é garantido que o FC Porto vai ganhar mais com receitas televisivas, pelo simples facto de só haver dois clubes portugueses na fase de grupos.

Mas reparem no que ganhou, por exemplo, o Mónaco em market pool: 32,395M€. A Roma, que foi eliminada na fase de grupos, ganhou 35,318M€. E quem mais faturou foi a Juventus, que ganhou 58,2M€ só às custas do market pool. Para se ter noção, a Juve ganhou mais dinheiro sozinha do que Barcelona (campeão europeu) e Real Madrid (semifinalista) juntos. É a lei da UEFA, que dita a insignificância que os clubes portugueses têm nesta balança comercial.

Ainda assim, todos os anos o FC Porto assume-se como candidato a contrariar esta norma. Sempre a jogar para os 1/8, sem subserviência perante nenhuma equipa, com treinador e jogadores a carregar mais do que responsabilidades desportivas, mas também financeiras. Amanhã não será diferente. É uma luta difícil, muito difícil, seja em Telavive ou em Munique. Uma luta que assumimos, mas sem nunca esquecer o quão dura é de travar. Lopetegui e os jogadores merecem esse reconhecimento.

7 comentários:

  1. Que prazer me da ver posts mais regulares. Comento já para deixar isso bem claro, segue a análise ao post já de seguida.

    Enorme abraço e continuação de um bom trabalho, com votos para que esse mesmo te deixe continuar a brindar-nos com conteúdo regular.

    ResponderEliminar
  2. Excelente chamada de atenção. Muito bem!

    ResponderEliminar
  3. Quando fomos campeões em 2004, quanto foi o market pool?

    Já agora o post está muito bem explicito.

    ResponderEliminar
  4. Desculpe a minha ignorância mas o que é o Market Pool?

    ResponderEliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.