Saem os Relatórios e Contas, abundam os disparates em várias publicações. Há um clássico que nunca, nunca falha: não perceberem a diferença entre lucro e mais-valias. O MaisFutebol, por exemplo, apresenta o título «quanto lucrou realmente o FC Porto com as transferências». E é obra não conseguirem acertar num único valor, nem com o R&C chapado à frente.
Insistência em mitos |
Repetindo mais uma vez, que pode ser que quando o R&C de 2076/77 sair deixem de cometer este recorrente erro: mais-valia não é lucro e lucro não é mais-valia. Nunca nos poderemos referir à mais-valia como sendo lucro pois a mais-valia inclui a dedução do valor contabilístico do passe do jogador que foi transferido.
Se o José custa 10M€ e assina por cinco épocas, o seu valor contabilístico anual ascende a 2M€ (valor investido na contratação a dividir pelo número de anos de contrato). Isso significa que se o FC Porto o vende ao fim de dois anos por 30M€, vai ter que deduzir 6M€ para calcular a mais-valia. Isso não tem absolutamente nada a ver com o lucro, pois não são 6M€ de despesa, nem de prejuízo, mas sim a subtração desse valor ao ativo.
Exceção feita a Castro, que já era um produto da formação, o FC Porto teve que deduzir a todos os jogadores uma quantia para amortizar o seus valores enquanto ativos. A partir do momento em que o FC Porto contrata um jogador, esse jogador passa a ser integrado no ativo da SAD. E se esse jogador assina por 5 épocas e é vendido passado dois anos, então a SAD tem que deduzir o valor dos três anos restantes. Simples, mas aparentemente ninguém quer compreender e os disparates continuam.
O Jogo, por exemplo, diz que o FC Porto teve «gastos de 8,4M€» no negócio da venda de Jackson Martínez (tema para um próximo post, pois há um pormenor muito interessante na sua saída). Ai o FC Porto teve gastos para deduzir o valor do próprio Jackson enquanto ativo? Para isso todos os jogadores assinavam contratos de um ano, se não a SAD ia à falência às custas de vender jogadores. A Bola também se refere aos 8,6M€ como o valor para «comissões e impostos». É quem nem um se aproveita.
O Jogo, por exemplo, diz que o FC Porto teve «gastos de 8,4M€» no negócio da venda de Jackson Martínez (tema para um próximo post, pois há um pormenor muito interessante na sua saída). Ai o FC Porto teve gastos para deduzir o valor do próprio Jackson enquanto ativo? Para isso todos os jogadores assinavam contratos de um ano, se não a SAD ia à falência às custas de vender jogadores. A Bola também se refere aos 8,6M€ como o valor para «comissões e impostos». É quem nem um se aproveita.
Lucro: saldo final após excluídas as comissões, terceiras partes e eventuais prémios de fidelidade. Mais-valia: saldo final após excluídas as comissões, terceiras partes, eventuais prémios de fidelidade E o valor contabilístico do passe à data da transferência. O mais provável é ter que repetir isto quando o R&C do primeiro semestre da nova época sair - no último já havia uma fornada de erros com Danilo, em «Mais-valias para totós».
Também se lêem disparates como este: «No que diz respeito a compras, o FC Porto gastou 53,3 milhões de euros». «Gastou?» Pelo pretérito perfeito do verbo gastar, estão a querer dizer o FC Porto já desembolsou os 53,3 milhões de euros? Novo disparate. Basta abrir a página 86 para ver que há 36,855M€ na rúbrica de fornecedores.
Por exemplo, tal como tantas vezes foi referido neste espaço, Adrián López não custou um único cêntimo ao FC Porto em 2014-15 (nem sequer teve encargos por comissão ou prémio de assinatura): os 11M€ ainda estão em dívida para com o Atlético. Logo, o FC Porto não gastou, porque ainda não teve que o fazer. Se o tiver que fazer, aí sim, gastará. Pede-se rigor acima de tudo, e não deveria ser pedir muito.
Por exemplo, o FC Porto tem uma dívida não corrente de 5,5M€ para com o Granada aquando da contratação de Brahimi. E deste dinheiro, não está previsto o pagamento de nenhum durante a época 2015-16 (apenas 500 mil euros em 2014-15, depois de 500 mil euros em 2013-14 - o pagamento foi renegociado). Praticamente só a partir de 2016-17 é que o FC Porto terá que pagar Brahimi ao Granada. Tal significa, numa perspetiva positiva, que durante dois anos podemos estar a desfrutar da magia de um grande jogador sem que quase não tenha saído dinheiro dos cofres da SAD - ainda que no momento da venda, obviamente, tudo tenha que ser liquidado.
Entre outros erros já vistos por aí: O Jogo diz que Gudiño custou 500 mil euros e Lichnovsky 612 mil euros. Falso, basta abrir a página 86: Gudiño custará, pelo menos, 2M€ (dos quais 1,5M€ a ser pagos em 2015-16) e a contratação de Lichnovsky já se conhecia do relatório anterior (1,83M€ e a SAD já só tem 55% do passe).
Burro velho não aprende línguas. Há anos que a comunicação social desportiva anda de rastos neste país. Obrigado TdD
ResponderEliminarNão é só a desportiva infelizmente. Leem-se notícias que um gajo fica a pensar se quem escreveu é mesmo jornalista.
EliminarEste é um dos muitos exemplos em que se tornou a CS, um prostibulo, onde o que interessa é vender informação, quanto pior melhor.
ResponderEliminarA opiniao pública deixou de me interessar. Tenho a sorte de ser licenciado em economia mas tendo em conta as aberrações que leio sinto que é endémico... A falta de noções de contabilidade da grande maioria é um problema que nunca será resolvido, aliás se há gestores que não sabem não vou pedir muito ao comum mortal.
ResponderEliminarTendo dito isto o que me preocupa mais são algumas questões que já foram abordadas aqui...
O documento exposto relativo a Herrera e Teodoro Fonseca deu uma resposta às fontes de financiamento alternativas que o Porto procurou quando a torneira dos bancos fechou em Portugal. Caso esporádico ou caso comum para segurar o barco quando aperta a corda? Financiamento caríssimo e pouco transparente? Não obrigado.
Este tópico faz ponte com a alienação/não compra dos 45% do passe de Lichnovsky... Com uma visível falta de centrais da formação estamos a colocar um atleta de imenso potencial a treinar com o plantel. A ganhar rotinas e estaleca para, quem sabe, render a saída de um dos consagrados (Indi>MU?) e ao mesmo tempo que fazemos este investimento de tempo e recursos temos de vender 45% do passe para que exactamente? Quando o jogador entrar no 11, corresponder e valorizar estupidamente vai valer a pena não termos o passe a 100% e termos de o recomprar sabe-se lá como?
Será que vale a pena apetrechar o plantel de maneira tão violenta para andarmos sempre de calças na mão? Que o risco é o pão nosso de cada dia da gestão da era PdC já todos sabemos mas há coisas que para e simplesmente não fazem sentido.
E podem vir com a conversa que estamos menos expostos ao risco de o atleta não singrar via menor investimento no passe... Mas se não há folga para comprar um sub-20 chileno por inteiro andamos aqui a levar o mercado à Imbulicão?
Se me disserem que a única maneira de trazer promessas cotadas para o Porto e rouba las aos colossos é dar percentagens avultadas do passe ao agente aí é outra conversa mas tudo isto começa a ganhar proporções desconfortáveis.
Gestão de risco? Sim. O futebol não é para meninos? Óbvio. Os negócios nunca o são. Mas a falta de transparência e visível desperdício de algumas formas de operar do clube são assustadoras.
Caro Ninja, ser licenciado em economia não basta. És de esquerda ou direita?
EliminarComo economista, qual é a tua opinião sobre se os jogadores se valorizam ou desvalorizam nas selecções?
Vou escrever uma carta a fazer queixa desses orgãos de CS porque estão a mentir aos seus leitores. Não é admissível publicarem valores tão desfasados da realidade
ResponderEliminarOs mass média já são assim há muito tempo, têm uma estratégia e narrativa pró-lixboa, o resto é paisagem!!! De acordo com o ninja, nem tudo parece ser transparente no nosso clube. Ricardo Gomes
ResponderEliminarExiste aqui uma grande confusão entre custos e pagamentos e são coisas muito distintas. Custo é registado no momento da compra de bens ou serviços independentemente do seu pagamento poder estar agendado para daqui a 100 anos. Que eu saiba, a contabilidade das SADs é a mesmas das restantes SAs. A mesma distinção e lógica existe entre proveito e recebimento. Existe uma diferença significativa entre conceitos económicos e financeiros.
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