sexta-feira, 18 de março de 2016

O valor da palavra

Jornal de Notícias
Pode muito bem ser entendido como uma crítica a Vítor Baía, que foi a única personalidade ligada ao FC Porto a admitir publicamente uma futura candidatura à presidência do clube, mas que se ficou pela afirmação de que «varria tudo». Ou quiçá seria mesmo uma vontade do presidente. Pinto da Costa disse que «se tivesse entrado uma candidatura credível, não seria candidato». Por mais nobres ou provocatórias (na medida em que ninguém acabou por avançar com uma candidatura) que fossem as intenções de Pinto da Costa por trás desta frase, não são as palavras mais motivadoras para avançar para o 14º mandato.

Por outras palavras, os associados do FC Porto podem votar em Pinto da Costa por acreditarem que é a melhor hipótese; mas Pinto da Costa só se apresenta a votos por não haver outra hipótese (melhor). Os sócios confiam mais em Pinto da Costa do que o próprio Pinto da Costa?

Para responder a estes últimos 3 anos de péssima memória, é preciso um excelente programa para o 14º mandato. Assim sendo, se Pinto da Costa não decidisse avançar, ia deixar de lado o seu programa para o 14º mandato? Ou não há ainda sequer programa? Pinto da Costa, aliás, disse que só na terça-feira deu luz verde a Fernando Cerqueira para avançar. 

Em 2011-12 Pinto da Costa disse ao L'Équipe que ia deixar o FC Porto num prazo máximo de 5 anos. Esse quinto ano seria a época que se avizinha. Mas como é óbvio, nenhum associado quererá votar num mandato de 4 anos para, ao fim da primeira época, haver logo mudança de presidente. Por isso só temos que assumir que Pinto da Costa quer e vai cumprir os 4 anos que tem pela frente.

Aliás, se houvesse de facto intenção de Pinto da Costa em passar a pasta, então não se teria alterado os estatutos. É muito simples: o artigo 89 dos estatutos do FC Porto previa o seguinte. «Na hipótese de os Presidentes da Direcção, Assembleia Geral e Conselho Fiscal manifestarem até ao dia 20 de Março do final do triénio, das suas disponibilidades para continuarem em exercício de funções e não surgir qualquer candidatura até 15 Abril, haver-se-à o seu mandato prolongado por mais 1 ano.»

Tendo em conta que não houve candidatos, a atual direção não precisaria de se candidatar para o 14º mandato: bastava avançar para o ano extra em causa e, quiçá, dar tempo a eventuais interessados para avançarem (se bem que provavelmente só o farão quando Pinto da Costa se retirar, pois ninguém quererá ficar sob a pressão de ter antecipado, oficialmente, o fim da era Pinto da Costa). Mas face à mudança de estatutos, então só se pode admitir um compromisso absoluto com o clube para os próximos 4 anos. Muito provavelmente será o último mandato de Pinto da Costa, mas que pelo menos seja apresentada a base para os próximos 4 anos; os associados querem saber em que estão a votar. E não querem votar num presidente que se retire ao fim 1 ou 2 anos de mandato.

Uma curta nota pelo meio, a propósito de alguns comentários que têm surgido, com uma analogia política que se fará entender: para se ter o direito a ter uma voz crítica sobre o governo, não é preciso formar um partido, nem fazer carreira de político; da mesma forma que ter algumas opiniões populares e fundamentas sobre o governo não qualifica ninguém para o substituir ou para ser político. Para bom entendedor...

Adiante, estas foram as palavras de Pinto da Costa à imprensa. Não sabemos, pode ter sido uma mera bicada aos candidatos, um toque de ironia. Mas uma coisa é o que Pinto da Costa diz à imprensa. Outra é o que diz aos associados, ou, como já disseram, entre família. Isto claro, a propósito do que disse Vítor Serpa, que confirmou que falou com Pinto da Costa durante 15 minutos na Gala dos Dragões de Ouro e que foi o próprio presidente a convidá-lo. Pedro Marques Lopes, um dos portistas mais notáveis da nossa praça, confirmou que esteve à conversa com os dois na Gala.

Ou Vítor Serpa e Pedro Marques Lopes mentiram, ou Pinto da Costa mentiu. E nenhum adepto pode ser inocente ao ponto de não reconhecer para que lado está a pender a balança. Como não há registos audiovisuais da intervenção do presidente na AG, há quem já fale em más interpretações: uns dizem que Pinto da Costa garantiu que não convidou, nem sequer viu Vítor Serpa na Gala; outros dizem que Pinto da Costa só disse desconhecer quem convidou Vítor Serpa, e que não terá falado com ele. 

Jornal A Bola, a outra «versão»
Seja como for, algo falhou aqui. Poderão dizer que isto é uma coisa insignificante - e até é, quando comparado com tantas outras coisas dos últimos anos. Mas o problema está mesmo aí: mentir numa questão tão insignificante quanto esta, não à imprensa, mas a sócios que o olharam nos olhos? Porquê? Para quê?

Nenhum erro poderá ser tão grave quanto não admiti-lo. Se aconteceu como com Suk, em que o homem lhe caiu ali nos braços, tudo bem, há que ser politicamente correto, educado, cordial. Mas mentir, nunca. Até podiam convidar Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho: nada seria tão grave quanto mentir nesta questão. E alguém mentiu. Depois, só há duas coisas piores do que a mentira: fingir que nada aconteceu ou insistir na mesma.

Na questão de Casillas, é de destacar que não foi proposta propriamente uma renovação: simplesmente o FC Porto quer ativar o ano de opção que tem no contrato. A única novidade é que, a partir de 2017, o Real Madrid deixa de contribuir no salário de Casillas. Logo, ou Casillas reduz para quase um terço o seu salário em 2017-18, ou terá que ser o FC Porto a suportá-lo (na verdade não será, pois é impossível fazê-lo, portanto só uma grande redução salarial de Casillas viabilizará a sua continuidade no FC Porto). 

Não é necessária grande pressa para renovar contrato com um jogador que terá 36 anos e não terá mercado quando o contrato com o FC Porto terminar (terá 37 no ano de opção), mas percebe-se que Pinto da Costa tenha optado por deixar uma mensagem forte depois da encomenda publicada no El Confidencial. E nisso fê-lo bem. Depois do Euro 2016, Casillas possivelmente perderá a titularidade na seleção espanhola e veremos em que medida o futebol europeu ainda o motiva, sobretudo com a MLS a chamar por ele. Nada que não se resolva à mesa para benefício de todas as partes. Com o valor da palavra presente, de preferência.

PS: A título de curiosidade...

4 comentários:

  1. Carlos Amorim propôs PdC? Só tem uma explicação. Fácil fácil. Tão fácil que nem vale a pena dizer qual é.

    ResponderEliminar
  2. http://www.ojogo.pt/Futebol/1a_liga/Porto/interior.aspx?content_id=5066676

    Criticou a direcção do Porto, e agora apoia-a.

    Mas o pior é ele assinar a candidatura de PDC, depois de, e apenas à 10 dias atrás, lhe ter sido interposto um processo pelo FC Porto...

    Em relação ao valor da palavra, já de à 3 anos para cá que Pinto da Costa fala e depois sai tudo ao contrário, por isso, não me surpreende.

    Espero para ver qual o projeto para os próximos 4 anos. Será a SAD meter mais dinheiro ao bolso? Ou será recolocar o clube a vencer?
    Aguardo pelos próximos Episódios.

    ResponderEliminar
  3. Apoio de CAA através da sua assinatura? Qual é o problema? Também lá têm a minha assinatura, também irei votar...contra. Como? Em branco. Deixei de achar que PC é o maior? Não, nunca, mas tenho que punir quem errou nestes três anos. Da mesma maneira que aplaudi e cantei "Pinto da Costa, olé" quando, mesmo não ganhando, "atirava-se" para o chão pelo FCP.

    ResponderEliminar
  4. Se fosse hoje sabendo o que agora sei não tinha assinado. Por isso é natural que muitos tenham assinado ao engano.Mas o meu voto não vai ter.Não alimento quem não quer saber dos sócios e que passando a época das eleições se vai fechar de novo num silêncio ensurdecedor que em nada dignifica nem defende o clube.

    ResponderEliminar

De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto.