«A alienação à DS liberta a venda de Mangala para o City, sendo que os valores podem vir a ser uma grande e boa surpresa
- não a verba paga pelos ingleses na totalidade do negócio, mas sim
aquela que vai caber ao FC Porto. Lembrem-se que, à partida, seriam
apenas 56,67%...», O Tribunal do Dragão, 24 de julho de 2014.
A surpresa confirmou-se. 30,5 milhões de euros por 56,67% do passe. Mangala, que não jogou um único minuto no Mundial 2014, torna-se o central mais caro da história da liga portuguesa numa venda. Rende, por exemplo, 12 vezes mais do que Garay, e sete vezes mais do que alguma vez Rojo poderá render, dois defesas dos rivais Benfica e Sporting e que fizeram um grande Mundial.
Mangala, o defesa mais caro de sempre em PT |
O Manchester City não pagou 53,8 milhões de euros por Mangala. Podia ter pago, porque as cláusulas de rescisão só são válidas quando são pagas a pronto e quando são invocadas unilateralmente por uma das partes envolvidas no contrato. Quer isto dizer que não podia ser o City a pagar a cláusula de rescisão, mas sim Mangala a solicitar a rescisão unilateral, tendo assim que ser o jogador a pagar a cláusula, com uma transferência de verbas do City à ordem do atleta. Um pormenor que importa esclarecer, mas que neste caso não tem relevância, porque não se trata de uma transferência acima da cláusula, mas sim de 40 milhões de euros.
Então, porque é que o FC Porto não recebeu apenas os 22,6 milhões de euros que estavam previstos? Recuemos até 2011, quando a Doyen Sports comprou 33,33% do passe por 2,647 milhões (a Robi Plus ficou com 10%). Quer isto dizer que com a transferência por 40 milhões, o fundo tinha a receber 13,332 milhões de euros, o que significaria cerca de 500% do investimento inicial. Melhor que os juros do BES, certamente. Não há-de ter havido muitos fundos a lucrarem tanto face ao investimento inicial - talvez só o FPFPF, que comprou 35% de Cristiano Ronaldo por 627 mil euros ao Sporting e depois recebeu 737,32% do investimento inicial.
A Doyen Sports tinha em mãos uma valorização extraordinária, mas que só aconteceria se o FC Porto deixasse Mangala ir para o City. Como a Doyen Sports é um fundo que reúne diversos investidores espalhados pelo mundo, desde empresários a ex-dirigentes de futebol, é natural que quem participou no investimento de Mangala há 3 anos salivava por uma valorização que superava todas as expectativas. Mas Pinto da Costa e a SAD mantiveram sempre a fasquia alta quanto à verba a receber por Mangala: «Se querem que ele vá para o City, têm que nos ceder parte da vossa parte». Há quem seja refém de fundos, há quem os aperte a ponto de terem que ceder 8 milhões de euros (basicamente, tanto quanto o encaixe líquido de Garay e Rojo)! É esta a diferença entre o FC Porto e os demais.
Negociação exemplar |
A Doyen Sports consegue dobrar o investimento inicial, num negócio que só o futebol oferece, e o FC Porto faz de Mangala o central mais caro de sempre. Além disso, a Doyen Sports foi decisiva para a vinda de Brahimi (alienação de 80% do passe por 5 milhões de euros, e sem esta alienação Brahimi não seria hipótese), tendo também participado nas vindas de Casemiro e José Ángel. O FC Porto saca 7,9 milhões de euros a mais do que teria a receber e ainda consegue apoio para contratar 3 jogadores que melhoram o plantel. Uma chapada de luva branca.
E porque os fundos estão envolvidos, insisto na questão: não concordo com a proibição, porque sem fundos o FC Porto nunca teria Mangala, mas defendo a regulação. O princípio é muito simples: cada alienação deveria incluir uma cláusula de recompra pré-definida e o valor deve ser declarado. Tal resolveria em grande parte o problema de falta de transparência em algumas transacções, sendo que o ideal até seria que a cláusula de recompra não permitisse que os investidores ultrapassassem determinada percentagem de valorização. De qualquer forma, este é um momento para elogiar a SAD por toda a gestão do dossiê Mangala, por saber trabalhar com a pressão dos fundos e com a necessidade de um encaixe, fechando assim uma das melhores transferências da história do FC Porto, mesmo que Jorge Mendes cobre a habitual comissão de 10%.
A Mangala, boa sorte! Será sempre recordado como um dos nossos e oxalá, no final da época, esteja com Fernando a fazer o que melhor sabe: festejar títulos de azul.
As contas do BES
Numa altura em que a ligação do BES aos clubes portugueses está na ordem do dia, um ponto de situação do FC Porto. A verba para a transferência de Mangala, segundo uma cláusula prevista no último R&C, é destinada à liquidação do maior empréstimo do FC Porto junto do BES: 30 milhões de euros. Ou liquidava 23 milhões em julho e 7 em outubro, ou pagava tudo de uma vez no momento da venda de Mangala. Ou seja, enquanto uns têm que vender meio plantel para cumprir as suas obrigações, ao FC Porto basta vender um jogador.
Ainda que no R&C conste que o FC Porto teria a pagar os 30 milhões de euros ao BES no momento da venda de Mangala ou Jackson Martínez, dificilmente terá sido o caso - certamente não o foi. Nenhum clube português abate de forma tão bruta o passivo de uma só vez. A renegociação deverá ter sido tratada em julho, mês em vencia a primeira prestação, mas é algo que só será possível de conferir no R&C do primeiro trimestre 2014-15. Certo é que a nível bancário, o FC Porto tem os seus compromissos mais do que controlados.
Com o referido empréstimo vencido, o FC Porto terá que pagar ao BES:
- 2,1 milhões de euros em abril de 2015;
- 1,75 milhões de euros até janeiro de 2016 (prestações semestrais de 437,5 mil euros).
- 17 milhões de euros até setembro de 2016 (5,5 milhões em setembro de 2014, 5,5 milhões em setembro de 2015 e 6 milhões em setembro de 2016).
São estes os últimos compromissos do FC Porto com o BES, que neste momento tem o crédito cortado junto dos clubes portugueses. São 20,85 milhões de euros, verba que o FC Porto faria facilmente vendendo um titular. Não meia dúzia, apenas um.
BEStial, FC Porto.
Sem dúvida um excelente negócio.
ResponderEliminarAgora, espero que este dinheiro fresco não resulte em compras escusadas. Acredito que já temos um excelente plantel e que apenas se justifica um médio para o lugar de Defour e ponto final.
Grande explicação!!! única dúvida que fico é mesmo em relação ao investimento feito este ano. Se o dinheiro vai para o BES, a SAD como é que vai cobrir o investimento já feito? ou o empréstimo do BES era para as contratações que foram feitas e o dinheiro do Mangala foi para fechar isso?
ResponderEliminarNenhuma das contratações já feitas tem grandes implicações de tesouraria a curto prazo, segundo o que sei. Quando sair o R&C do primeiro trimestre vai ser mais fácil responder a isso, com números e factos.
EliminarO empréstimo de 30M do BES foi feito em outubro, para as despesas de 2013-14, e de certa forma preveniu a ausência de vendas em janeiro.
Vamos fechar 2013-14 com um prejuízo que talvez chegue aos 40 milhões de euros, mas com o Mangala já incluído em 2014-15 vamos certamente regressar aos lucros na nova época e sair da situação de falência técnica.
O problema não é fechar a época com prejuízo, mas sim assegurar a sustentabilidade para as despesas correntes e da tesouraria.
thanks!
EliminarPelo que tenho acompanhado, o investimento desta época já estava coberto pelas vendas até aqui, fosse de passes de jogadores antigos ou actuais (Brahimi).
EliminarEste 30,5M€ são para pagar este tipo de gastos de tesouraria e dívida a expirarem de curto prazo.
Também não sabemos quanto é que renderam os empréstimos dos que saíram ou os custos de aquisição extraordinária dos que entraram, mas a esperança é que se equiparem (apesar de estar na expectativa de serem mais altos para o lado da despesa).
Com as saídas, em definitivo espero, de Varela e Deffour devemos arrecadar qualquer coisa como 12M€-15M€ e que já nos deixa em terreno financeiro estável e com entradas regulares de capital na altura de pagar as nossas dívidas também elas regulares (por fragmentação de investimento).
Excelente negócio e excelente artigo.
ResponderEliminarExcelente negócio. Não foi totalmente uma surpresa uma vez que tal já havia sido avançado aqui.
ResponderEliminarEste post está muito rigoroso quanto às contas da FCP SAD.
Por falar em contas, o TdD não consegue facultar as contas do Clube ou terei de esperar pela próxima Assembleia Geral?
Eu já possuo as contas da Porto Serviços Partilhados, Euroantas e FCP SAD.
Só me faltam mesmo as contas do clube ainda que o Angelino Ferreira já tenha afiançado o valor do passivo financeiro do Clube em Novembro do ano passado.
Teremos mesmo que esperar pela AG.
EliminarO meio receio é termos tido que ceder o Brahimi para irmos buscar mais uns milhõezitos no negócio do Mangala..ou pior que nem tenha sequer existido essa contrapartido e o objectivo foi mesmo encher os bolsos aos buitres..e assim continuamos neste ciclo vicioso de negócios que poderiam e deveriam ser mais vantajosos para o clube e não são (não sabemos se por desleixo incompetência ou mesmo corrupção). Mas alguém tem dúvidas que o Brahimi vale bem mais do que os 6 milhões que pagamos por ele??Eu não tenho. Da mesma forma que toda a gente sabia só pelos primeiros jogos do Mangala que ele iria valer muito dinheiro no futuro. Daqui a uns anos os clubes vão ser obrigados a comprar os passes aos fundos dos jogadores mais desvalorizados (Defour) para os empresários não perderem dinheiro...e ceder os passes dos jogadores mais promissores (Brahimi) tal como acontece nas economias das republicas das bananas..Portugal Grecia Argentina. A minha preocupação é mesmo essa..terá o FC Porto dirigentes implacáveis que façam vergar os empresários ou existiram aqui outras contrapartidas que os adeptos portistas desconhecem. Já tinha dito aqui o ano passado...o FC Porto é a galinha dos ovos de outro da Doyen Sports..meterem o Ola Jon no benfica...o labyad no sporting... e o Mangala no Porto. para além deste e do Brahimi ainda têm o Casemiro. Também posso investir nesse fundo? Ou é só reservado a alguns ilustres?
ResponderEliminarSó perguntando ao Nélio Lucas.
EliminarO meio receio é termos tido que ceder o Brahimi para irmos buscar mais uns milhõezitos no negócio do Mangala..ou pior que nem tenha sequer existido essa contrapartido e o objectivo foi mesmo encher os bolsos aos buitres..e assim continuamos neste ciclo vicioso de negócios que poderiam e deveriam ser mais vantajosos para o clube e não são (não sabemos se por desleixo incompetência ou mesmo corrupção). Mas alguém tem dúvidas que o Brahimi vale bem mais do que os 6 milhões que pagamos por ele??Eu não tenho. Da mesma forma que toda a gente sabia só pelos primeiros jogos do Mangala que ele iria valer muito dinheiro no futuro. Daqui a uns anos os clubes vão ser obrigados a comprar os passes aos fundos dos jogadores mais desvalorizados (Defour) para os empresários não perderem dinheiro...e ceder os passes dos jogadores mais promissores (Brahimi) tal como acontece nas economias das republicas das bananas..Portugal Grecia Argentina. A minha preocupação é mesmo essa..terá o FC Porto dirigentes implacáveis que façam vergar os empresários ou existiram aqui outras contrapartidas que os adeptos portistas desconhecem. Já tinha dito aqui o ano passado...o FC Porto é a galinha dos ovos de outro da Doyen Sports..meterem o Ola Jon no benfica...o labyad no sporting... e o Mangala no Porto. para além deste e do Brahimi ainda têm o Casemiro. Também posso investir nesse fundo? Ou é só reservado a alguns ilustres?
ResponderEliminarTdD, constatei agora que, a acrescer a esses montantes a liquidar ao BES, há ainda que liquidar cerca 10M€ de uma conta caucionada, salvo se a mesma foi renovada, o que não creio ser o caso.
ResponderEliminarCaro Tribunal do Dragão, hoje havia algumas notícias sobre Mitrovic, ser colocado lá em baixo, por esse mesmo fundo, Doyen.
ResponderEliminarVisto que, há interesse em Defour, a Doyen não podia colocá-lo aqui e sendo assim alternativa a Jiménez ?
Lá em baixo, a sangria já terminou ? Ou o Pilim ainda vai continuar a comprar ? Isto porque, acho que a banca não vai deixar os de Carnide cair....
Obrigado
La esta, o principio da continuidade. O clube é reconhecido como um bom clube de formação. As vezes faz brilharetes e este ano ate pode fazer, mas acima de tudo os agentes sabem que normalmente os jogadores se formam com eficácia no FCP. Para isso tambem é importante que todos os outros clubes estejam na maxima força, nomeadamente os rivais diretos, para que haja uma competição que seja salutar e exigente que forcem os jogadores a darem o seu melhor. Neste caso o fundo ao ter flexibilizado foi saber de antemao que tera mais oportunidades de negócios lucrativos com o FCP, que tera a sua continuidade de ser reconhecido a dar formação aos melhores jogadores.
ResponderEliminarNão percebo o porquê de tanta incredulidade com este negócio. se por um lado não partilho do mesmo entusiasmo dos adeptos do Porto (pela possível existência de contrapartidas neste negócio) também não percebo a confusão que paira na cabeça dos adeptos mouros..será da azia? porquê tanta estranheza? não foi um negócio semelhante ao do Hulk? Era mais que sabido que o FC Porto estava indeciso entre vender Jackson ou Mangala. o mais lógico (e a opção preferida entre a maior parte dos portistas) parecia ser a venda do Jackson. É o jogador mais velho..e portanto com menos potencial de valorização...tinhamos 100% do seu passe ao contrário do Mangala (apenas detinhamos 50%). Se tivessemos vendido o Jackson e mantido o Mangala por muitos anos (algo que não parecia ser um grande problema) os fundos ficavam a ver navios. Era óbvio que iriam ter que ceder alguma coisa. Mas se ainda existisse algum tipo de resistência ás pretensões do Porto..lembram-se do negócio James + Moutinho e da forma como passamos a perna ao sporting? Podiamos ter feito um negócio semelhante com o Mangala e a Doyen mais uma vez ficava a arder. Os clubes têm todo o poder nas mãos. Só espero mesmo que tenha sido assegurada a opção de recompra do passe do Brahimi...senão é a confirmação que estas negociatas são sempre empurradas para a frente e no final quem fica com o prejuizo são os clubes.
ResponderEliminarse nao bajular o post, nao tenho direito a ver a minha resposta postada? ai liberdade de expressao, que é feita de ti?!
ResponderEliminarHá quem confunda liberdade de expressão com o direito à injúria, à mentira e à difamação.
EliminarQuem confunde, não tem espaço neste blogue. Já agora, o lápis é azul, da cor do blogue.
A não ser que seja daltónico, não sei como veio aqui parar.
curto e grosso.
EliminarO negócio do Mangala está mal explicado neste blog. A Doyen nunca teve direito a receber 33.3% do valor da venda porque isto nunca foi um caso clássico de partilha de direitos económicos, com partilha de risco e benefícios na mesma proporção.
ResponderEliminarIsto foi explicado na assembleia geral de accionistas de Novembro de 2011 pelo CFO da altura depois de uma pergunta sobre o recurso a fundos e os diferentes tipos de financiamento que estes proporcionavam e vem plasmado no R&C de 11/12 - onde se explicita que os 33.3% não são desreconhecidos da conta de activos intangíveis.
Ou seja, se o Mangala tem sido vendido por um valor menor ou semelhante ao de compra, a Doyen teria o capital investido assegurado (se vendermos o Defour por 5 milhões, eles receberão uns 45% da venda apesar de só terem 33.3% dos direitos económicos). Há medida que as mais-valias aumentassem, a percentagem delas que receberiam diminuiria. Ou seja, relativamente a um negócio de partilha de passe total, implica menos risco para a Doyen, logo menor potencial de remuneração. E obviamente o inverso para o Porto.
Não tem a ver com Brahimis ou outros negócios. Os contratos do Mangala e do Defour sempre estiveram estruturados assim (como outros) e isto veio da boca do cavalo, num acto público.