sábado, 29 de novembro de 2014

O essencial do primeiro Relatório e Contas da época

O Tribunal do Dragão apresenta os principais dados do R&C do primeiro trimestre da época 2014-15, que contempla os meses de Julho, Agosto e Setembro, com análises e reflexões nos diversos tópicos. 

- Resultados. Mesmo com a receita extraordinária da Champions, sem transação de passes o FC Porto tem um prejuízo operacional de 1,9M€ nos primeiros 3 meses. Com a transação de passes, o resultado líquido é de 13,469M€. A necessidade de gerar mais-valias já é sabida e vão ser necessários à partida mais 40 milhões até 30 de Junho.

Fernando Gomes
- Passivo vs Activo. O passivo total subiu 35,687M€ para 269,15M€, ainda que o passivo remunerado tenha baixado 14,952M€. Em contrapartida o activo disparou 49,161M€ para 249,557M€, basicamente graças às contratações para esta época. Assim os capitais próprios negativos reduziram para 19,59M€, o que é sempre importante, mas a SAD continua em situação de falência técnica (a operação Euroantas só entra no 1º semestre). Sobre a Euroantas, ler aqui e aqui.

Preocupante e nada de novo (o Braga tem a única SAD que não está em falência técnica, que tem um activo que cubra o passivo), mas com a operação Euroantas no segundo trimestre os capitais próprios já serão os maiores do futebol português (12,5M€), não esquecendo que tal só foi possível recorrendo ao Estádio - quem quiser a perspectiva positiva, o Sporting já usou todo o estádio e está afundado em falência técnica há anos e para os próximos (são mais de 100 milhões), e o Benfica vai continuar nessa situação, embora em menor grau (resta saber como ou se Gaitán, Enzo, Salvio e etc. resolvem a situação que tende a agravar a curto e médio prazo). Nada que nos interesse, mas há sempre quem goste de um ponto de referência. Como ponto negativo e já habitual, o grande défice entre o passivo e o activo correntes, que é de 95,133M€. Tal implica dependência da banca e de créditos para fazer face às despesas mensais e muita ginástica na tesouraria da SAD, uma situação que se repete ano após ano.

- Proveitos operacionais. Crescem de 17,5M€ para 26,65M€ graças à Liga dos Campeões, essencialmente. No primeiro trimestre já entraram 11,6M€ da Champions. As receitas de bilheteira subiram (mais jogos em casa), houve uma receita extraordinária no jogo do Deco e num concerto, de resto nada significativo. Como gerar mais receitas operacionais é o desafio.

- Custos operacionais. Um total de 28,56M€ nos primeiros 3 meses da época, sem contar com transferências. O custo do plantel já se reflecte: de 10,9M€ para 15,5M€, essencialmente a única rubrica com grande aumento, apesar dos FSE terem aumentado 1,3M€ (uma rubrica que tem sido consideravelmente e cada vez mais dispendiosa - mais informação aqui).

- Comissões. Mudou o responsável pela pasta financeira, mudou também a forma de prestar a informação. Neste caso, não prestar a informação. O FC Porto pagou 6M€ em comissões a empresários este trimestre. De recordar que só estão apresentadas 7 contratações no R&C, além de um bolo de «outros jogadores» de 1,175M€ (Andrés?). Ora para 7 contratações vemos... pagamentos a 15 empresas/empresários em comissões ou serviços de intermediação. Isto de tratar de uma transferência é extremamente trabalhoso, tanto que até é necessário dividir a tarefa por uma média de dois empresários para cada jogador. A maioria das empresas não tem informação significativa na internet, logo não há muito por onde explorar. De realçar aqui que o FC Porto não só deu 5% de Jackson Martínez a Henrique Pompeo como ainda lhe pagou um serviço de intermediação (de quanto? Não se sabe), isto ignorando a hipótese de ele estar associado a outro jogador do plantel (o que seria ainda mais preocupante).

Otávio: 32,5%
- Contratações. Marcano custou 2,65M€ por 100% do passe, valor dentro do noticiado. Evandro foi mais caro do que o inicialmente noticiado: 2,35M€ por 100%, havendo ainda o empréstimo do Tozé e a partilha de direitos económicos com o Estoril. Quanto a Otávio. A avaliação está relativamente dentro do noticiado (7,5M€, um milhão a mais do que o que saiu na imprensa), mas neste caso o preço foi 2,5M€ por 33% do passe, comprados a um clube à Rentistas, fundado há poucos anos (curiosamente em... Minais Gerais, terra do Banco que deu nome ao Museu), e não ao Internacional. 12% já terão ficado noutras mãos. É também sabido que Otávio foi uma aposta da SAD, não de Lopetegui, apesar de ser um miúdo de talento. Resta saber quando o veremos, e com isto é mais um jogador caro que praticamente só vai jogar na B. Apostas que só se justificam se forem integradas no plantel principal a médio prazo.

- Faseamento de pagamento. Outra das informações que não é disponibilizada. Havia expectativa sobretudo para conhecer quanto já custou efectivamente Ádrian até ao momento (relacionados aqui e aqui), mas a SAD não detalha nenhuma informação sobre isso. Dos 42,9M€ investidos na contratação de reforços, há um efeito de atualização de 2,2M€, a propósito de uma parcela que vence de 5 jogadores: Indi, Ádrian, Brahimi, Evandro e Otávio. 

- Mangala e Defour. Confirmado que geraram uma mais-valia de 25,48M€. Negócios positivos, sobretudo o de Mangala. Teria sido interessante ver a intermediação, mas mais uma vez essa informação agora deixou de aparecer.

45% de «Lich» vendidos
- Empréstimos dão prejuízo. Nos primeiros 3 meses da época, os jogadores emprestados pelo FC Porto custaram 831 mil euros, e em contrapartida renderam 230 mil euros. Ou seja, o FC Porto mantém jogadores emprestados que só dão prejuízo e muito provavelmente dificilmente voltarão a vestir a camisola do FC Porto. Olhando para esta tabela do sempre atento Reflexão Portista, quantos teriam/terão lugar no plantel? No final da época é importante varrer a casa. Se agora temos equipa B, não faz sentido continuar a ter um plantel de emprestados pela Europa fora.

- Percentagens alienadas. O FC Porto pagou 1,837M€ por Lichnovsky, mas já só tem 55%. O FC Porto começa por informar que comprou 33% de Otávio, mas na listagem dos activos depois só aparece 32,5%. De Andrés Fernández temos 90% do passe (não há informação sobre os outros 10%, mas o Osasuna vendeu tudo o que tinha). Entre os jogadores que a SAD considera activos valiosos na perspectiva do mercado, não há nenhum em final de contrato e há 5 com vínculos que terminam em 2016: Danilo, Alex Sandro, Quiñones, Kléber e Kelvin. Kayembé, Brahimi, Ádrian e Otávio são os jogadores com os maiores contratos (até 2019).

- Excedentários. O FC Porto ainda tem 50% de Prediger, 70% de Soares e 25% de Souza. São os únicos 3 ex-jogadores dos quais o FC Porto ainda tem uma percentagem declarada.

A qualidade paga-se...
e bem paga
- Clientes. O Atlético de Madrid deve 344 mil euros ao FC Porto. O Man. City deve 11,3M€ por Fernando e Mangala. O Fluminense deve 2,125M€ por Walter. O Lyon ainda está a pagar Cissokho e Lisandro (deve 750 mil euros). O Kasimpasa deve 1,05 por Castro. E há outros clubes não discriminados que devem 1,59. Além disso, o Anderlecht deve 1,5 por Defour + 3 não correntes. Por fim, a Doyen deve ao FC Porto 2,5M€ + 2,5M€ não correntes (em causa o dinheiro de Brahimi, que deverá ser usado para efeitos de liquidez a curto prazo). O Chelsea, o Zenit e o Valência já acabaram de pagar Atsu, Hulk e Otamendi. Tirando Defour e a Doyen, o dinheiro em falta vai entrar todo no decorrer do exercício.

- Recuperar Brahimi. Como foi dito na altura, a história de que era possível recuperar os 80% de Brahimi por 8M€ estava muito mal contada. O FC Porto pode recuperar até 55% até 2017, enquanto a Doyen pode vender os seus 80% até essa data. Por quanto? Não se sabe. É o que falta às operações com os fundos, transparência. Se não é possível saber quem, pelo menos que se saiba quanto. Disse que Brahimi iria ser como Hulk: vai tornar o caro barato na altura de recuperar o passe. Mas se de facto a Doyen pediu 20M€ ao Sporting por Brahimi, é bom preparar o estômago para quanto pode custar recuperar o passe deste mago da bola, que é bom lembrar, só chegou ao FC Porto por via da Doyen. E uma qualidade destas paga-se... E bem.

6 comentários:

  1. "...capitais próprios já serão os maiores do futebol português (12,5M€)"

    Esta afirmação, sendo factual, parece-me que relativiza demasiado o problema, pois o que aqui está em jogo é mais a tendência para os próximos anos que o valor actual.

    Se 50% (ou quase isso) do estádio permite ter apenas 12.5M€ positivos (num contexto onde o activo subiu bastante fruto do investimento no plantel) isto indica que em breve (2015? 16?) os CP vão voltar ao negativo e vai ter que se recorrer aos restantes 50% para cumprir o FFP. Além de não passar de um penso, é um penso muito pequeno para o tamanho da ferida.

    Confirma-se uma massa salarial megalómana, 70M€, observando o aumento de 50% (!!!) nos gastos salariais. Que resultados desportivos são necessários para rentabilizar este valor? Não faço ideia.

    Termino com uma questão: quais são os capitais próprios do clube e como se espera que fiquem depois da transferência de 50% do estádio para a SAD?

    Cumprimentos

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  2. Bom dia. Ponto Prévio. Sou Benfiquista, mas gosto muito do vosso blog e da maneira como escrevem. Bem hajam.
    Pergunta: Segundo o RC, ou o vosso conhecimento, por quanto saiu o Fernando para o Man City? Depois como fala, o Porto precisa de 40 milhões em venda de jogadores. como Espera que isso aconteça se os passes dos melhores jogadores estão alienados?

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    1. Saiu por 15 milhões, 80% do passe. A informação sobre a distribuição da receita (a existente) está no R&C de 2013-14.

      O FC Porto tem 95% de um dos melhores pontas-de-lança do mundo, 100% de dois laterais de Selecção Brasileira e 80% de um dos melhores médios do Mundial 2014, só para dar 4 exemplos. Se vai haver problema devido às alienações não será a curto prazo.

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  3. Na sua interpretação, temos acordado com a Doyen um preço para 55% do passe do Brahimi (20% que temos +35% no futuro) ou 75% (20% que temos +55% no futuro)?

    Esta parte não me parece muito clara e tendo em conta o nível que o jogador mostra pode ser relevante.

    Cumprimentos.

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    1. Não há espaço para interpretação nenhuma, só a factual. Há uma opção de recompra até 55%. Ou seja, 55% de direitos económicos para recuperar. Como o FC Porto não pode recomprar o que já tem (20%), os 55% em questão são dos que foram alienados à Doyen Sports.

      O nível que o jogador mostra indica bem que vamos acabar por ter 75%. A base do negócio é simples: correndo bem, o FC Porto acabava por recuperar os 55% e ficar com 75%. Correndo mal, a Doyen devolvia os 80% ao FC Porto que teria que indemnizar o fundo.

      Apenas um exemplo dos mitos da partilha de risco. O risco esteve sempre do lado do FC Porto. Felizmente está a correr bem.

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  4. TdD não sei se já foi publicado alguma vez, mas há ideia de quanto ficou o FCP a ganhar com a troca entre NIKE e WARRIOR??

    Continuação de grande trabalho

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