quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Muito com pouco e passes, muitos passes

Não foi preciso ser particularmente brilhante para vencer, somar mais três pontos, mais 1,5 milhões de euros e ascender à liderança isolada do grupo, com o objetivo 1/8 à distância de duas vitórias. A primeira parte foi das menos boas do FC Porto esta época, mas também foi a primeira em que a equipa chegou ao intervalo a vencer por 2-0. Basta quatro minutos para mudar toda a perspetiva de um jogo. A eficácia e o talento individual fazem a diferença.

A vitória sobre o Maccabi diz, para começar, que o FC Porto terá que se apresentar a um nível altíssimo em Israel para vencer. A primeira meia hora do FC Porto não foi boa. E na segunda parte a equipa não sentiu necessidade de mostrar a sua melhor face, pois o 2-0 já oferecia a tranquilidade necessária. O Maccabi rematou 12 vezes, mas Casillas só aqueceu as mãos num livre já perto do fim. 

Casillas até disse que foi uma das vitórias mais tranquilas de Champions que já teve. Mas isso não significa que o FC Porto fez 90 minutos de grande classe: significa sim que o que fez em 4 minutos, entre os 37 e os 41, dispensou a equipa de fazer muito mais ao longo do jogo. Foi o suficiente, sem ser brilhante. E não foi preciso ser brilhante para garantir o objetivo. Para o que resta da fase de grupos, ainda assim, fica a garantia de que será preciso fazer um pouco mais. E domingo também - sobretudo domingo.





Aboubakar (+) - Lopetegui não gosta de estatística, mas eu sim: Aboubakar já é um dos 12 melhores marcadores da história do FC Porto na Champions. Só para citar o nome de avançados, marcou mais do que Juary, Domingos, Falcao ou Derlei. Marca num lance onde o que de menos bom fez até foi o remate (se bem que mau remate é o que não dá golo), mas depois descobre Brahimi entre uma auto-estrada que ele próprio abriu na defesa do Maccabi. Arrancou faltas, pressionou sempre bem sem cometer nenhuma, abriu espaços, soube ser a referência de apoio no ataque. Boa exibição, mais uma.

Terceiro prémio MVP da época para Aboubakar
Eficácia do meio-campo (+/-) - Rúben Neves: 94%. André André: 98%. Imbula: 93%. Danilo: 91%. Herrera: 100%. Esta foi a eficácia de passe dos nossos médios, num jogo em que o FC Porto fez mais de 600 passes. Notável que tenhamos todos os jogadores com acerto de passe acima dos 90% na Champions. É meio caminho andado para manter um jogo sob controlo. Por outro lado, há que reconhecer que o FC Porto, não raras vezes, lateraliza em demasia o seu jogo e hesita em procurar um jogo mais vertical. É certo que o modelo de Lopetegui assenta numa transição mais lenta, apoiada, à procura de dominar mantendo o controlo, ao invés de atacar de forma avassaladora mas descontrolada. Por outro lado, não foram assim tantas as vezes em que uma sequência de passes no meio-campo, em construção, deu ocasiões de golo.

Outros destaques (+) - Jogo positivo, embora algo atípico para Brahimi. Não conseguiu arrancar uma única falta, mas esteve melhor e mais seguro no passe (86%), marcou no único remate que fez, arrastou bem marcações e abriu espaços, procurando solicitar o lateral mais vezes do que é costume. Curiosamente, num dos jogos em que nem foi do mais virtuoso que já se viu foi onde apresentou maior evolução. Está mais equilibrado. E por falar em equilíbrio, Maxi Pereira foi o mais constante e regular ao longo de todo o jogo. Limpo a defender, muito bem a atacar. Destaque para Rúben Neves quando recebeu licença para avançar no meio-campo e distribuir jogo mais à frente - dos 5 médios que estiveram em campo, curiosamente até é o que decide melhor sozinho na segunda linha do meio-campo.





Construção com o fator Imbula (-) - Sem Maicon, os centrais arriscaram muito pouco no início de construção. Jogaram sempre curto, tanto que Indi, em 67 passes, teve 100% de eficácia, e Marcano teve 95%. Os centrais deixaram sempre a construção para a primeira linha do meio-campo. Só houve um grande problema: Imbula estava sempre a baixar para a linha de Rúben Neves. Não faz sentido. Para começar, isso encurta o raio de ação de Rúben Neves. Depois, ficamos sem um jogador para a segunda linha do meio-campo, logo aquele que deveria ser o médio de transporte. Depois, fica André André, que por mais interventivo que seja não é o ideal para este papel, sozinho entre um duplo pivô e a linha de avançados, entalado no meio-campo adversário. Baixar Imbula para se juntar da Rúben Neves deixa o FC Porto a construir demasiado atrás. E quanto mais atrás o FC Porto tiver, mais gente o adversário terá a preencher o meio-campo. Há que clarificar o papel do 2º médio. O mesmo é dizer, o papel de Imbula... Curiosamente, a equipa até funcionou melhor com Danilo atrás e Rúben mais solto. Rúben Neves ou joga sozinho atrás ou solto para uma linha adiantada. Ter que dividir o início de construção não favorece alguém com tão boa capacidade de variação de flancos - Rúben Neves sabe teleguiar as bolas e é excelente no passe longo, não precisa de ninguém ao lado para o toque curto.

Menor agressividade (-) - Nos últimos jogos, o FC Porto de Lopetegui tem cometido menos faltas. Foram apenas 9 em todo o jogo. Não queremos uma equipa a dar pau, mas é necessário ter uma equipa muita forte na reação à perda da bola, como foi a principal imagem de marca do FC Porto em 2014-15. Caso contrário, a equipa vai recuando, o adversário vai avançando e não tarda aparecem problemas - há um lance, nos 80s minutos, em que o Maccabi consegue obrigar, num lance de bola corrida, o FC Porto a defender com 10 jogadores dentro da sua grande área. Isto não aconteceria com uma equipa que não baixasse a linha de pressão e que continuasse a ser agressiva. Acreditem, contra o SC Braga vão precisar de dobrar estes índices.

Deslocamento (-) - Os tremeliques iniciais da linha defensiva tiveram muito a ver com a falta de clarificação do meio-campo no início de construção. Mas nada justifica tamanha hesitação e desconcentração nos minutos iniciais, sobretudo por Marcano e Layún. Uma vez mais regressamos a esta questão, até porque Marcano disse que é estranho um canhoto jogar pela direita (Indi, bastante bem): não tem nada de estranho. Se uma dupla de destros joga junta, uma de canhotos também pode jogar. E se um destro joga pela esquerda, um canhoto pode jogar pela direita. Tudo tem a ver com rotinas. Afinar a ligação entre linhas é um dos desafios para Lopetegui e para a equipa nos próximos jogos. Por fim, Corona continua a ser um corpo completamente estranho para o resto da equipa. Quando não consegue aparecer individualmente, não aparece de todo. Está a fazer-lhe falta uma pré-época. Ainda está a integrar-se, e o contexto não é o mais favorável para isso - cabe a Tello e Varela obrigarem-lhe a ser melhor.

Crónica já um pouco fora de horas, pois não foi possível publicá-la mais cedo. Regressaremos à análise ao R&C ainda antes do grande jogo contra o SC Braga. Objetivo: 21ª vitória consecutiva no Dragão. 

5 comentários:

  1. a unica coisa boa foi termos ganho, voltaram as indefeniçoes e aos espasmos. As estatistas sao importantissimas mesmo num jogo e sao as estatisticas que por acaso suportam o treinador que nao gosta delas. Precisamos claramente de um central acima do bonsinho. Imbula continua um aranhiço para 20M. Passamos por calafrios nos primeiros 20 minutos pelas linhas estarem demasiado afastadas, a equipa continua a ter pouca dinamica. Ganhamos pela força de bakar e a capacidade de andre, brahimi continua a agarrar se muito a bola e fisicamente nao tem cabedal para isso. Sergio oliveira tem lugar a espaços nesta equipa é possivelmente o nosso melhor 6 tecnicamente. O braga nao sera nada facil se a equipa deixar jogar como esta a deixar.

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  2. Em termos ofensivos pode até ter o efeito contrário, mas no aspecto de construção de jogo e saída com bola, não seria melhor no jogo contra o Braga utilizar o Danilo a central, formando dupla com Marcano, saltando o Indi para a esquerda?

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  3. Ruben Neves foi na minha opiniao o pior em campo e quando diz que Imbula baixou demais foi exactamente para proteger mais a zona central sendo que o ruben estava constantemente mal posicionado e a permitir passes entre a linha media e defensiva do Porto.
    No lance que os jogadores do macabi pedem penalti o ruben deixou que o adversario passasse entre ele e o lateral sem fazer falta e deixa-o entrar na area sem oposição.
    Se analisarmos as estatisticas dos 12 remates veja quantos foram em jogadas que começam com um jogador do macabi a receber a bola completamente solto entre a linha media e defensiva.

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    1. nao concordo os centrais sao so bonsitos, muito estaticos nao sabem sair a jogar e imbula para 20M parece um aranhiço nao sabendo muitas vezes o que anda a fazer em campo e onde se posicionar, rui neves nao jogou ao seu nivel ( muito alto ) mas sera um exagero quase maldoso dizer que foi o pior em campo. continua a faltar dinamica a equipa que algumas unidades individuais disfarçam.

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  4. É impressão minha ou o Porto neste jogo voltou ao 4-3-3? Porque não insistir no 4-2-3-1 como já fez esta época com resultados positivos e com melhores exibições?

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