Não há adepto - adepto, não os populares cidadãos que se revelam em certames que envolvem a seleção nacional - que não sinta um vazio neste momento. A ânsia de que comece a pré-época e que o plantel comece a ganhar forma é superior a tudo.
Não há Europeu que possa preencher um adepto. Nós vivemos o dia a dia de um clube. Todas as semanas sofremos com esse clube. Temos rivais identificados e eternos. Uns são sócios desse clube, outros assumidos treinadores e/ou dirigentes de bancada que não passam sem debater a atualidade desse clube. Defendem, criticam, analisam. Já vibrámos com as conquistas desse clube e ultrapassámos as muitas derrotas.
Não há comparação possível com uma seleção, seja ela qual for. Vemos essa seleção disputar uma grande competição de 2 em 2 anos. Não acompanhamos a atualidade da mesma, que só joga de meses a meses. Não há um rival claramente definido na luta por uma competição. Não há um estádio que possamos dizer que é a nossa casa. E a discussão mais recorrente parece ser sempre se deve jogar o jogador do clube A em vez do jogador do clube B. Não há paixão quando joga uma seleção. Nada que se pareça com a paixão de acompanhar um clube desde a infância.
Dizer «tenho orgulho em ser zimbabweano» é uma das coisas mais intrigantes da humanidade. É a mesma coisa que afirmar que tenho orgulho em ter nascido no Santa Maria. Que tenho orgulho em que me tenham cortado o cordão umbilical com uma tesoura Schumacher. Que tenho orgulho em que me tenham embrulhado num cobertor branco. Que tenho orgulho em ter nascido já com cabelo: nenhuma dessas escolhas foi feita por mim. Estava assim, pré-definido, desde o início. O orgulho deveria estar reservado para os feitos, as conquistas, as escolhas e o percurso que fazemos. Não pelo que é decidido sem a nossa intervenção.
Não ter orgulho em ser-se zimbabweano não é um atentado à pátria: é normal. Ninguém escolheu ser de determinada nacionalidade, por mais que se goste de determinado país ou cultura. Nasceu assim, pronto. E isso não diz nada da pessoa. E a partir daí, salvo alguma radicalização, estamos destinados a apoiar sempre o mesmo país.
Com os clubes isso não é assim. Ninguém está condenado, ao berço, a ter que apoiar o mesmo clube. Reparem que todos os bebés choram quando nascem. Há quem diga que, de facto, as mães dão à Luz, que dá nome ao estádio do Benfica. Pois, é essa a causa de tanto choro: a ofensa por as nossas mães terem dado à Luz, em vez de terem dado ao Dragão. A escolha começa aí.
Seja por influência de um pai, um avô, amigos, a paixão por um clube constrói-se. Não são raros os casos de quem é adepto de um clube durante a infância, mas depois muda. Ou cresce. Escolhemos acompanhar um clube para toda a vida. Viver com ele o dia a dia, a pensar nele, a sofrer com ele. É algo que nunca existirá com uma seleção. Por mais que possamos ter orgulho quando entoamos Kalibusiswe Ilizwe leZimbabwe.
Quem se entusiasma, de facto, com o futebol de seleções talvez mate um pouco o bichinho. Para outros, é um defeso parado. Poucas mexidas no mercado de transferências, pois está tudo concentrado no Euro 2016 e na Copa América. O habitual.
Quando Lopetegui deu o primeiro treino, a 3 de julho de 2014, só tinha como jogadores novos Sami, Evandro e Óliver Torres. Era ano de Mundial 2014. Em ano de Euro 2012, Vítor Pereira começou a pré-época sem qualquer contratação, e só a 7 de julho recebeu a confirmação de que ia ter Jackson Martínez. E com Villas-Boas, em ano de Mundial 2010, no arranque de julho só havia Souza e Sereno.
Nuno Espírito Santo, para já, tem Felipe, João Carlos Teixeira e Zé Manel (o único que a SAD ainda não confirmou) contratados. E falta uma semana para o final de julho. Ou seja, Nuno não tem menos caras novas do que tiveram Villas-Boas, Vítor Pereira e Lopetegui. E o facto de, a 24 de junho, ainda não haver muitos reforços confirmados não significa que a SAD não esteja a trabalhar nessa questão: simplesmente, em anos de Europeus ou Mundiais, é sempre assim. As coisas são tratadas mais lentamente, a pré-época arranca com poucos reforços e muitas dúvidas. Estranho era que 2016 fosse diferente.
Além disso, neste momento a maior preocupação é outra. Falta uma semana para o final do mês e da época contabilística 2015-16. Ou seja, a SAD terá forçosamente que vender jogadores nos próximos dias, de modo a cumprir o orçamento. Ainda que as provas na UEFA tenham deixado um buraco de cerca de 15M€, a maior preocupação é o resultado com transação de jogadores.
Orçamento para a época 2015-16 |
Estavam orçamentos 72,591M€ e, no final do terceiro trimestre, a SAD tinha apenas 29,989M€. Ou seja, só para cumprir esta rúbrica, são necessários 42,6M€ nos próximos dias. O que está em causa não é apenas cumprir o orçamento, caso contrário não surpreenderia que o prejuízo transitasse para a próxima época, como foi feito com os buracões de 2011-12 e 2013-14. Neste caso, o que importa é o fair-play financeiro, pois a SAD não pode apresentar resultados negativos de mais de 8,6M€.
Ontem vimos que a UEFA manteve o Galatasaray fora das competições europeias, devido a irregularidades no fair-play financeiro. O facto de o Sporting não ter sido excluído da Champions (antes disso há outras punições mais leves) provocou algum relaxamento na maneira como o fair-play financeiro é encarado, mas não devia.
A UEFA monitoriza as contas do Sporting, penhorou os prémios da Champions e há um limite de 22 jogadores inscritos na lista A, ao invés dos habituais 25. Além disso, o Sporting fez uma grande reestruturação financeira, algo que não aparece no horizonte da SAD do FC Porto. Basta dizer que o Sporting, no final do 3º trimestre, gastou menos 17,7M€ em salários do que o FC Porto e gasta metade nos Serviços e Fornecimentos Externos (14,4M€). Isto entre duas SAD que geraram quase as mesmas receitas operacionais (57,4M€ para o FC Porto, 54,8M€ para o Sporting).
A operação Euroantas, ao contrário do que alguns ainda temem, já não vai ser repetida, pois não há tempo de o fazer até ao final de junho. Logo, o que tem que assegurar a concretização das mais-valias necessárias será mesmo a venda de jogadores. E ainda que a SAD já tenha começado a recorrer às receitas do patrocínio da MEO/PT (hipotecadas até 2017), o contrato de direito televisivos só entra em vigor a partir de julho de 2018.
Como quando o orçamento foi elaborado a Altice e a NOS ainda não estavam decididas a apostar no futebol português, e como não haveria justificação para ir buscar receitas de 2018 para pagar o buraco de 2015-16, a SAD não iria nunca pensar nas receitas televisivas para pagar o orçamento esta época. Nas palavras de Fernando Gomes, o «contrato com a PT permite gerir o FC Porto de outra forma». Isso foi entendido com um passo rumo à sustentabilidade, não como forma de hipotecar o futuro para tapar buracos do presente.
Uma semana de decisões para o presente e futuro do FC Porto. Nos próximos dias, não é tempo de pensar na porta de entrada, mas sim na de saída. Nem que seja para o Zimbabwe. It's the final countdown. E vá, que Portugal ganhe à Croácia. Celebrarei quase com a mesma satisfação como quando Sonkaya, Ibson e Ivanildo fizeram uma triangulação no Bessa antes de Hugo Almeida cruzar para a cabeça de Sokota, na última jornada de 2005-06. Foi um grande momento.
Como é que vocês continuam a dar o Zé Manel como reforço garantido se nunca se viu alguma confirmação dessa contratação?
ResponderEliminarCumprimentos, e desta vez espero resposta!
Conforme é lido no texto: «Zé Manel (o único que a SAD ainda não confirmou)».
EliminarDe facto, a SAD não confirmou. O que não significa que o contrato não esteja assinado, algo já antecipado por toda a imprensa desportiva.
e ele já está a treinar com o restante plantel...
EliminarO golo nessa última jornada foi de Lisandro, não de Sokota.
ResponderEliminarNinguém disse que Sokota fez golo. Até porque a jogada descrita não corresponde ao golo do Lisandro.
EliminarTouché 😁
Eliminarquando chegar ao refrão o que acontecerá? será o fim da Europa como a conhecemos?
ResponderEliminarÉ impossível fazer mais de 40 M ate a próxima semana.
ResponderEliminar40 M vamos ver se fazemos ate ao fecho do mercado todo. Se calhar nem isso.
Excelente texto mais uma vez TdD. É bom saber criticar o que tem de ser criticado (contas) mas também acalmar o público com a parte das contratações, porque já há muita gente a desesperar. No fundo este desespero é normal depois de 3 épocas más e como foi dito no texto, a selecção não nos satisfaz. Como eu costumo dizer nunca mais é Agosto para ver o meu FCP!
ResponderEliminarAguardo ansioso a nova época com o NES (apesar de não ser a minha 1ª escolha) que achei interessante e os reforços/saídas que vão acontecer.
http://www.record.xl.pt/internacional/competicoes-de-selecoes/europeu/euro-2016/grupos/grupo-d/croacia/detalhe/antigo-selecionador-croata-diz-que-portugal-e-sporting-comparam-arbitros.html
ResponderEliminarBom, nem sou TOC, nem tão pouco tenho formação académica na area da economia, complicado para quem faz contas com o "lápis atras da orelha" como eu, rebater o que quer que seja. Talvez falte à SAD do FC Porto um excelso e sublime Dr Angelino Ferreira´, ex-administrador da empresa municipal Gaianima onde deixou um legado extraordinário. Ou porque não resgatar à FPF o seu presidente, Dr Fernando Gomes da Silva, recentemente convertido ao benfiquismo!
ResponderEliminarRelativamente à temporada que fazem alusão de V Pereira, o FC Porto nesse defeso do verão de 2012, contratou Jackson (foi oficializado e contratado, como referem e bem, uma semana após o começo dos trabalhos de pré-época), Fabiano, tinha sido contratado em Maio ("Em ano de Euro 2012, Vítor Pereira começou a pré-época sem qualquer contratação..."), Atsu e Kelvin regressaram do Rio Ave, tal como Abdoulaye que tinha estado em Coimbra, ou o Castro que esteve no Gijon também emprestado.
Para sermos rigorosos, V Pereira em 2012/13 (Julho/Agosto 2012), recebeu 2 reforços : Fabiano, e Jackson, e contou com 4 regressos : Atsu, Kelvin, Castro e Abdoulaye. Todos começaram a pré-epoca desde o seu inicio, excepto Jackson que perdeu apenas uma semana de pré temporada. A 31 de Agosto de 2012, foi contratado o lateral Quinonez, opção sobretudo na equipa B!
PT
Portanto, o «PT» prefere analisar Angelino Ferreira e Fernando Gomes pelos trabalhos que desempenharam fora do FC Porto.
EliminarÉ legítimo, mas esperemos que no futuro, na hora de avaliar a obra de Jorge Nuno Pinto da Costa, tenha o bom senso de o julgar pelo que fez no FC Porto, e não, por exemplo, no ramo imobiliário na Cedofeita.
Em relação a 2012, a informação está correta, pois Fabiano não integrou os trabalhos de pré-época no primeiro dia, apesar de ter sido contratado atempadamente. Fabiano juntou-se ao grupo de trabalho mais tarde. No primeiro treino da pré-época, Helton, Bracalli, Kadu e Stefanovic foram os guarda-redes à disposição de Vítor Pereira.
Uma duvida: A Sad não tem que tapar esse buraco de 15M da Champions com vendas de jogadores?
ResponderEliminarEsses 15M não entram no prejuízo se não forem 'compensados' com vendas?
Texto muito, muito bem escrito.
ResponderEliminarMais um excelente texto TdD. Claro como a água e objetivo como sempre! que o euro 2016 passe o mais depressa possível, porque apesar de ser portugues a minha seleção é o meu porto e o meu clube é o porto! Como já alguem dizia,apoia te no que te deixa feliz... #VistodeAzuleBranco
ResponderEliminarFaltam 3 dias. Vamos atirar-nos de um precipício e esperar para ver o que nos calha em sorte quando cairmos.
ResponderEliminarNa minha opinião, será o fim da Europa durante 2 épocas e tudo o que isso significa.
Mas ninguém fala, ninguém discute. Não percebo. Ninguém percebe o problema Gigante que aí vem (este é o único local onde este tema é abordado)
Eu queria acreditar num milagre, mas não vejo qual possa ser para que cumpramos o fair-play financeiro. Estamos nas mãos da UEFA. É rezar.
Pedro
Caro TdD, não posso deixar de discordar da visão "ya" que atribui à selecção.
ResponderEliminarEu nasci Homem e poderia ter nascido mulher. Eu nasci saudável e poderia ter nascido com trissomia 21. Muita coisa nos pode estar predestinada à nascença. Mas somos nós que fazemos aquilo que somos. Somos nós que fazemos as coisas com que nos podemos orgulhar, ou não. Algo a que chamamos livre-arbítrio, como poderá decerto aprofundar numa leitura de Savater.
A questão da selecção é uma visão demasiado claustrofóbica. Mesmo que abordassemos o próprio desporto nacional, continuavamos muito fechados em nós mesmos. A verdade verdadinha, é que nós como Portugueses deixamos muito a desejar em relação a outros povos. Temos uma falta de brio crónica em relação ao escudo da nossa bandeira. Como poderemos crescer como país, quando a maioria está de costas voltadas ao mesmo, muito mais preocupados com os próprios umbigos do que com a nação em geral.
Politiquices àparte, estaria a ser hipócrita se não assumisse que o FCP me angustia, me tira mais o sono nos maus momentos, como me enche de felicidade e orgulho nos bons, quando comparado com a seleção nacional.
Mas não será isso causa de termos um clube conquistador e vencedor, ao passo que a selecção não será mais um Paços de Ferreira? Na melhor das hipóteses, um Braga?
A tal orfandade que refere, não se deverá mais ao facto de sermos uns eternos outsiders, do que propriamente ao treinador ou jogador a, b ou c?
A selecção representa o país onde nascemos, e não é o folclore à volta do vaidoso de sempre, ou do maior barrete do Bayern, que me fará mudar a opinião.
A mesquinhez com que a nação portista está a abordar esta campanha europeia, não me traz particular orgulho.
Cumprimentos.