Perceber 150 milhões |
O que é orçamento? Esta é a grande questão. O que é que se entende por orçamento numa SAD? Por norma, numa empresa, orçamento é uma previsão detalhada dos custos e das receitas para um determinado período. Se o saldo final for positivo há lucro, se for negativo há prejuízo. É simples. Mas no futebol isso não faz sentido.
FC Porto, e também Benfica e Sporting, não existem para gerar lucros. Seguem uma política em que as suas receitas servem para financiar, em ciclo, a sua própria atividade. A receita é investimento aplicado no imediato. Logo, não faz sentido pensar num orçamento para uma SAD no saldo entre receitas e despesas.
O que é que se deve entender por orçamento? Por exemplo, quando o carro avariou, fui à oficina e pedi o orçamento da reparação. Ora o orçamento é, simplesmente, a despesa que vou ter. Não há cá lucros a considerar. O mecânico dá-me um preço, depois pago-o. Por orçamento no futebol o mais correto será considerar todas as despesas que se vai ter ao longo de um ano. Simples. Depois cabe à SAD, com as suas próprias receitas, correntes ou mais-valias, cobrir as despesas.
Assim se compreende como é possível afirmar que o orçamento do FC Porto para 2015-16 será de 150 milhões de euros. A surpresa? Nenhuma, pois está em linha com o que foi gasto na última época. De recordar:
Estas eram as despesas orçamentadas pelo FC Porto para 2014-15. Podíamos falar de um orçamento de 114 milhões para o último ano? Até podíamos. Mas importa sempre considerar aquilo que são os gastos com transferências. No caso, em 2014-15 o FC Porto teve gastos (em termos de contabilização, não de dinheiro investido durante o exercício) com aquisições de passes de 45,8M€. Assim, quase que se falaria de um investimento global de 160 milhões de euros, que foi superior ao que está a ser projetado para 2014-15.
Mas depois entramos no campo semântico. Por exemplo, como contabilizar as transferências? Temos o caso de Imbula, de quem tomemos por referência os 20M€. É uma operação de 20M€, mas não necessariamente uma despesa de 20M€ em 2015-16. Há dois aspetos a considerar: o momento em que as tranches são pagas e o método de amortização do investimento. Neste caso, tendo Imbula assinado por 5 épocas, são deduzidos 4M€ por ano. A fórmula é sempre a mesma: preço total da contratação a dividir pelo número de anos (ou meses) de contrato. Logo, se em 2014-15 o FC Porto tivesse contratado apenas Imbula, também se poderia falar de 114 + 4 milhões. É tudo uma questão de interpretação.
Agora, a propósito dos 150 milhões. Seguindo a mesma fórmula, porque é que ninguém se escandalizou com o que o Benfica gastou para ser campeão e evitar o tetra do FC Porto em 2013-14? Talvez fiquem surpreendidos com o que foi o orçamento do Benfica para essa época: 109 milhões de euros de gastos operacionais + 49,3 milhões em reforços. Se fizermos as continhas e seguirmos a mesma lógica semântica aplicada ao FC Porto, concluímos que o Benfica teve um orçamento de 158,3M€ para ser campeão. Ou seja, quase idêntico ao que o FC Porto de Lopetegui, que diziam ser o mais caro de sempre, teve para 2014-15.
E os 25 milhões do Sporting? Bruno de Carvalho engana quem quer. 25 milhões foi exatamente aquilo que o Sporting gastou, só em custos operacionais (ou seja, sem contratações), durante os primeiros 6 meses da época 2014-15. Então, no segundo semestre joga tudo de graça e ninguém paga a ninguém em Alvalade? Aparentemente, o presidente do Sporting quis associar a palavra orçamento àquilo que são os salários a pagar ao pessoal, pois foram gastos 12,1M€ em salários no primeiro semestre. Assumindo que no segundo a folha de vencimentos dobra, aí têm os 25M€. Lá está, semântica. Pode enganar quem quiser e quem quiser que se deixe enganar, mesmo com os números chapados à distância de uns clicks.
Semântica à parte, há a considerar a receita. O FC Porto já não terá, em 2015-16, a desvantagem de ter um prejuízo gigantesco a transitar do exercício anterior (cerca de 38M€ de 2013-14). Em 2014-15 estavam previstas receitas de 90M€, mas a SAD superou essa marca. Possivelmente a Champions não dará tanto dinheiro em 2015-16 (mesmo com o aumento de prémios, a não ser que se chegue aos 1/4), mas é difícil crer que as receitas do FC Porto sejam inferiores a 85/90M€ na próxima época.
O resto, já se sabe, tem que ser colmatado com a gestão de mais-valias. Ainda não se sabe quanto será necessário, pois o orçamento ainda não foi apresentado, mas podemos sempre contar com a já clássica necessidade de vender dois titulares. O que se deseja é que a SAD não pense que todas as épocas teremos capacidade para fazer cerca de 70M€ em mais-valias. Isso é exigir ao plantel e à equipa técnica aquilo que a própria SAD tem que alcançar: conseguir gerar mais receitas operacionais e reduzir a dependência de mais-valias, sobretudo se vamos continuar neste modelo orçamental de risco.
Fernando Gomes, não esquecer, disse em Maio que o orçamento para 2015-16 será inferior ao desta época. Mas reparem no que ele afirmou. «No entanto isso não significa que haja menor investimento na equipa de futebol». E não significa mesmo. Seja qual for o caminho semântico que a SAD deseja tomar, o que se pede é um orçamento exequível, que reduza a necessidade de mais-valias face a 2014-15, que permita manter todos os compromissos financeiros em dia, que não agrave o passivo e que o défice operacional seja coberto pela receita de transação de passes, sem que isso sacrifique 3 titulares de uma assentada. Parece fácil? Não é. É por isso que precisamos de (continuar a) ter uma gestão de excelência.
Fernando Gomes, não esquecer, disse em Maio que o orçamento para 2015-16 será inferior ao desta época. Mas reparem no que ele afirmou. «No entanto isso não significa que haja menor investimento na equipa de futebol». E não significa mesmo. Seja qual for o caminho semântico que a SAD deseja tomar, o que se pede é um orçamento exequível, que reduza a necessidade de mais-valias face a 2014-15, que permita manter todos os compromissos financeiros em dia, que não agrave o passivo e que o défice operacional seja coberto pela receita de transação de passes, sem que isso sacrifique 3 titulares de uma assentada. Parece fácil? Não é. É por isso que precisamos de (continuar a) ter uma gestão de excelência.
Agradecemos a explicação.
ResponderEliminarE que consequências para as outras modalidades? Vamos ter mais um ANO DESASTRADO NESSE ASPETO? Lá vamos nós de ter de ver mais uma vez a vitória do andebol na Porto Canal?
ResponderEliminarArtigo fantástico. Devia ser lido por todos os jornalistas desportivos que escrevem por este país para ver se a sua ileteracia se reduzia de alguma forma.
ResponderEliminarParabéns ao TD!
Esperemos que a venda de Jackson se concretize, para não baralhar isto tudo...
ResponderEliminarGostei de tudo, muito claro como habitualmente, mas destaco a nota de humor final "(continuar a) ter uma gestão de excelência". Muito bom!
Do Porto com Amor,
LAeB
TdD, corremos o risco de, a continuar a neste caminho, entrar numa situação financeira complicada? Tal como teve o Sporting há uns anos, a beira de falência? Ou o que se lê por aí é pura e simplesmente desejos dos nossos rivais?
ResponderEliminarClaro que é desejo dos nossos rivais, o Porto é, dos 3 grandes, o clube com maior estabilidade financeira, não é por um investimento falhado que iremos entrar na bancarrota...
EliminarContinuem a pensar assim...quando acordarem ja sera tarde!!
EliminarPeço desculpa, mas um texto que espremido não dá nada.
ResponderEliminarUm orçamento não é uma questão de semântica, é um instrumento de gestão muito importante, tão importante como um mapa numa viagem por caminhos desconhecidos.
O orçamento do FCP para 2014/15 é esclarecedor e não tem nada a ver com Sportings, Benficas ou com resultados de anos anteriores.
Assim como um mapa de uma região não tem nada a ver com mapas de outras regiões.
Numa coisa concordo, temos de continuar com uma gestão de excelência. O problema que eu vejo é se isso é uma realidade ou apenas um desejo.
Considero que no FCPORTO há uma boa gestão mas não é de excelência.
ResponderEliminarOs jogadores continuam a brincar nas selecções e assim podemos notar mais facilmente as consequências: a equipa vai para estágio sem Herrera e Reyes (que estarão na selecção), Gonçalo, Ruben Neves, Sérgio Oliveira e Ricardo Pereira ainda estão de férias porque estiveram nos sub21, Quaresma também ainda está de férias porque esteve na selecção principal.
Isto simplesmente quer dizer que a direcção não consegue dar as melhores condições ao treinador, porque simplesmente vários jogadores não estão onde deveriam estar que é no estágio na Holanda.
Solução: fazer 2 estágios. Boa...?
EliminarPior: abdicar de jogadores internacionais na equipa.
Isso acontece em todos os grandes clubes e não ah nada que estes possam fazer.
EliminarAcontece em todos os grandes clubes porque os seus dirigentes andam a dormir.
Eliminar" Quaresma também ainda está de férias porque esteve na selecção principal ". Ainda acreditas nisso? Sendo assim porque o Andre Andre ou o Danilo Pereira que tambem jogaram contra a Italia vieram mais cedo? Espero bem que o Quaresma vá para a turquia , já que este ano o Brahimi e o Tello vao ser os titulares e ja sabemos que o Quaresma nao aceita o banco.
EliminarNa época passada não estavam no FCPORTO, as férias não contam, além disso, têm que dar o litro para ficarem no plantel.
Eliminar....Luís Miguel, explica, como se fôssemos todos uma turma de pré-escolar, o que é uma gestão de excelencia, P.F.......
ResponderEliminarOra essa, ega, então, gestão de excelência têm as federações que utilizam a seu bel prazer os jogadores dos clubes.
EliminarOh Luís Miguel, esta é só a minha opinião, mas isso não tem a ver com gestão, tem a ver com estatutos federativos que, suportadas por politicas impostas pelos sucessivos governos, têm, desde há muitos anos, a ser combatidas por JNPC.
ResponderEliminarIndependentemente dos estatutos federativos, é essencialmente uma questão de gestão.
EliminarHelton, Maicon, Marcano, Evandro, e muitos outros no FCPORTO e noutros clubes jogam só nos seus clubes.
De e para portistas, O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto. Quem confundir liberdade de expressão com injúria, insulto, mentira ou difamação não passará pelo lápis azul. Todo o «spam» será apagado. Comentários anónimos são susceptíveis de não serem publicados
ResponderEliminarGostaria de ressalvar a parte:
"O Tribunal do Dragão é um espaço de opinião, defesa, crítica e análise ao FC Porto"
Um gajo já nem pode criticar a gestão que de excelência vai tendo cada vez menos e de prejuízos cada vez mais.
Custos de 160M ? e as receitas ordinárias de 90M ?
é o descalabro total e este blogue ajuda a esconder as contas !
Apenas um blogue apresentou o Orçamento do FC Porto para a época 2014-15, em Outubro (coisa que nem sequer a imprensa fez).
EliminarAdivinhe qual foi antes de escrever disparates.