quinta-feira, 26 de março de 2015

Impressões gerais dos novos estatutos

Noite de Assembleia Geral, destinada à alteração dos estatutos do FC Porto. Que alterações? Através de uma tripinha do jornal O Jogo tivemos acesso à informação dos pontos em «discussão». A divulgação feita pelo FC Porto às Assembleias Gerais continua a ser manifestamente curta. Foi anunciada no site do clube, mas porque não publicitá-la nas redes sociais? E porque não criar uma newsletter que fosse encaminhada para todos os associados? Tão simples, tão útil. Seria interessante que estas alterações pudessem ter sido debatidas antes da Assembleia Geral, à qual a esmagadora maioria dos associados não comparece/não pode comparecer, de forma calma e ponderada, sem a agitação típica que possa causar constrangimentos e que iniba quem lá esteja com as melhores intenções clístenianas. Dictum et factum, mas se até a Platão desagradou.

Uma das novidades é a passagem dos mandatos para quatro anos. Nos anteriores estatutos, estavam previstos 3+1 (triénio normal, mais a possibilidade de exercer um ano complementar se a direcção assim o entender e se não houver novas listas). Uma alteração que não provoca grande diferença, sobretudo pela realidade que o clube viverá no pós-Pinto da Costa.

Pinto da Costa é o único presidente do futebol mundial que não precisa de programa eleitoral. É reeleito sistematicamente pelo seu currículo, pela sua obra. Assume algumas apostas, como é exemplo mais recente o Museu e o Porto Canal, mas os objectivos e modelo do FC Porto já estão tão enraizados (valorizar jogadores, conquistar títulos, subsistir por uma mão para bater com a outra, repetir) que Pinto da Costa nem precisa de programas eleitorais. Ora isso vai mudar.

Se as coisas estão a correr mal, culpa-se o treinador, os jogadores, o árbitro, e por aí fora. Só por último se culpa o presidente (e é preciso muito para chegar aqui). Quando Pinto da Costa sair, vai nascer no FC Porto uma coisa que quase não existiu nos últimos 30 anos: oposição. No pós-Pinto da Costa, se as coisas correrem mal, não há-de faltar quem questione o novo presidente. Por isso, o aumento de três para quatro anos pouco muda, porque o sucessor estará sob máxima pressão a partir do primeiro ano. Ninguém ousa questionar a obra de Pinto da Costa. Quando sair, o FC Porto vai ganhar facções críticas como nunca antes visto.

Outro dos destaques passa a ser a necessidade de maior tempo de filiação para exercer diretos de associado e cargos no FC Porto. Doravante, é preciso ter 12 meses enquanto associado para votar, enquanto até aqui eram necessários apenas 3. Para integrar os órgãos sociais, passam a ser necessários 5 anos, em vez de apenas um. E para ser candidato à presidência do FC Porto, passa a ser necessário 10 anos de filiação ininterrupta, em vez de 5. São medidas, portanto, que não beneficiam nenhum eventual candidato à presidência do FC Porto. No máximo, poderiam é afastar alguém. Passa ainda a ser obrigatório apresentar uma lista com 300 assinaturas, e não 50, para apresentar uma candidatura aos órgãos sociais.

Um assunto que causou celeuma durante a tarde era a possibilidade de grupos organizados (claques) passarem a usufruir de quotas mais baixas em relação aos outros sócios - e com isso a eventualidade dos grupos associados ao mesmo sentido de voto crescerem rapidamente e influenciarem futuras eleições. No artigo 27 dos novos estatutos passa a constar: 


Ou seja, pertencer a grupos organizados faculta a facilidade de ser associado do FC Porto, quando o mais «normal» seria o contrário. Afinal, primeiro somos adeptos do clube, não da claque. Mas que haja a possibilidade de criar uma vantagem, é admissível. Afinal são as claques que viajam quilómetros para o todo o lado, para acompanhar a equipa ao frio e à chuva, e que impedem que o Estádio do Dragão quase pareça um cinema, onde se fica sentado a comer pipoquinhas e no final logo se decide se é para aplaudir ou assobiar. Quem mais grita e puxa pela equipa merece ser reconhecido, resta saber a que valor (a quota é fixada pela AG, mas partindo de proposta da direcção). Para os adeptos que não pertençam a claques, também há hipóteses de serem premiados: os aposentados com 30 anos de filiação podem ficar isentos de quotas. Mas nos anteriores estatutos esta possibilidade existia a partir de 25 anos de associado. De destacar ainda que passam a existir 5 classes de associado, menos 3 do que anteriormente 

Na questão das quotas, há a relevante notícia de defender futuras eleições. Nos estatutos anteriores, era possível um camião de pessoas tornar-se associado do FC Porto e passado 3 meses já poderia votar. Com estas alterações, passa a ser necessário 12 meses. Além disso, nada leva a crer que a quota para membros de grupos organizados seja de 25% do valor habitual. Por isso, a questão de surgirem novos associados com as mesmas intenções de voto é falsa, pois estes novos estatutos combatem essa possibilidade mais do que os anteriores. Na relação tempo de filiação vs. quota especial, a quota não se tornará um atalho nesse sentido. Uma vez mais, não é por estas alterações que algum nome surge lançado - ou para usar a expressão do presidente, «encaminhado».

Por fim a questão dos equipamentos. Eis a alteração dos anteriores para os actuais estatutos.


Nota: o artigo 8 especifica que as «cores tradicionais» são o azul e branco
PS: Texto aberto a reparos/opiniões adicionais, até pela hora tardia em que acaba de ser escrito. Posteriormente o tema poderá ser aprofundado mais amplamente.

PS1: De louvar a decisão de ver o malogrado Sardoeira Pinto dar nome ao auditório do Museu. E terminamos como ele: VIVA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO!

22 comentários:

  1. Percebo que as claques viajam com o clube para todo o lado etc etc. Passarem a pagar cotas mais baixas do que os restantes sócios do clube não posso compreender.
    Chega a ser ridiculo que se consigam obter bilhetes mais baratos para acompanhar a equipa nas deslocações fora através das claques do que nas bilheteiras do clube. Ou por exemplo que sejam fornecidos bilhetes de borla às claques em jogos das modalidades em que os bilhetes esgotam no próprio dia em que são postos à venda para depois os ditos elementos os vendam ao dobro do preço no dia do jogo...
    Julgo que já seria altura do clube valorizar os seus sócios e não apenas as claques.

    João Branco

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  2. alteram-se os estatutos, a direcção tem de se demitir ainda que volte a apresentar candidatura logo a seguir.

    Eu sei que é uma formalidade mas como dimensão democrática, fica mal.

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  3. Inacreditável como uma medida como esta passou : "Um assunto que causou celeuma durante a tarde era a possibilidade de grupos organizados (claques) passarem a usufruir de quotas mais baixas em relação aos outros sócios". É inaceitável! Os benefícios para quem acompanha a equipa já existem... Seja na forma de bilhetes mais baratos, seja na forma de prioridade sobre TODOS OS OUTROS SÓCIOS DO CLUBE quando existe venda pública... Não compreendo. Só porque um grupo de vândalos ama o FCP isso serve de desculpa para tudo o que fazem? Agredir adeptos adversários dentro do próprio estádio, coagir sócios do FCP que não agem como vândalos, destruir cadeiras nos estádios por onde passam, etc... É isto que o FCP está a tentar premiar???

    Nojo, é nojo que sinto por esta medida.

    É um dia triste para o clube.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Joao...Esquerdinha? Um abraço... FCP777

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    3. Não sei quem é o Esquerdinha (só o cabeludo defesa)

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  4. Não me parece que a questão das quotas mais baixas para membros das claques seja algo de bom.
    São elas que têm bilhetes a custo zero no Dragão Caixa (Vendendo ao preço que querem à porta da bilheteira), e que por exemplo, vendem bilhetes para o SCBraga - FC Porto a 10,00€, quando o associado "normal" tinha que comprar a 20,00€.
    Mas o Clube lá terá as suas razões...
    Cumps.
    Hugo Ferreira

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    1. Há uma diferença entre ingenuidade e ter o cuidado de escrever uma análise pós-AG recorrendo apenas a factos e/ou informações auto-comprováveis. Face às críticas, daí o primeiro parágrafo.

      E já agora, relembrar que não há nenhuma alteração vinculativa nos estatutos.

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  6. Desde já avanço com a iniciativa de criar um "grupo de organizado de adeptos" e mais tarde pedir o pagamento de quotas mais baixo.

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  7. Eu diria que nestes novos estatutos já se sente o Porto a preparar-se para o pós Pinto da Costa, sente-se o clube a defender-se de potenciais candidatos oportunistas, alguns até potencialmente mal intencionados, outros apenas com o intuito de se servir do clube. Defende-se também de eleitores de animo leve. Quem garante que um sócio com 3 meses de cotas é realmente Portista? Quem garante que um candidato mal intencionado não arrasta com ele uma multidão de sócios eleitores com 3 meses de cotas? Para bom entendedor...

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  8. A questão dos equipamentos não foi como o texto refere, houve alterações a essa frase das cores tradicionais. Tema que quanto a mim era o mais importante e apenas ficou indefenido, porque da forma como foi aprovado às riscas verticais, não especificando quantas riscas são, se as tradicionais duas ou muitas risquinhas, dá para tudo.

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  9. O texto não refere nada, limita-se a citar os estatutos.

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  10. ""sem a agitação típica que possa causar constrangimentos e que iniba quem lá esteja com as melhores intenções clístenianas. Dictum et factum, mas se até a Platão desagradou." ----- É isto que distingue este blog do resto. Tanta classe e tão bem mandada que provavelmente a maioria não vai perceber.

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  11. Rato deves ter o complexo com o teu nome, andas pelos cantos, escreves no condicional, levas pontapé dacolá, apareces aqui, enfim....também tens direito á vida e opinião, be good johnny.
    Sou sócio desde o dia em que nasci, nunca pertenci a claque alguma embora já estivesse entre eles, fui muito bem tratado e, vejam lá, até conheci um médico. Deixem-se de complexos bacocos pois, como em todo o lado, há boa e má gente, educados e mal educados e não vejo problemas nenhuns no tratamento especial que, parece, lhes querem dar, por isso dou razão ao TD, na maioria das vezes o Dragão é composto por uma assistência que parece estar na ópera, sendo no seu epilogo a altura de se saber se há pateada (assobios) ou palmas ou até encore. E claro, VIVA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO!

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  12. off topic

    Hoje os Sub 21 jogaram, e da equipa titular 5 eram portistas (Ricardo, Rafa, Neves, Oliveira, Paciencia) e na segunda parte ainda jogou o Toze.

    A titulo de comparaçao, o benfica tinha apenas o Cavaleiro e o Cancelo na segunda parte (se é que esses ainda pertençem ao benfica... parece que o craque do cancelo vai ser vendido por 15 milhoes... cheira-me que o cavaleiro sai por 30)...
    O sporting tinha o Paulo Oliveira e o Mane que jogou na segunda parte, Mas no caso do sporting é justo dizer que faltavam o William e o Joao Mario.

    Devemos estar confiantes relativamente ao nosso futuro...

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    1. A matéria prima não faz a obra. Mas é um bom começo.

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    2. Estou confiante relativamente ao nosso futuro e ainda estaria mais se os jogadores do FCPORTO renunciassem às selecções e se concentrassem no futebol profissional.

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  13. Se se chegar a concretizar, se passar a haver descontos nas quotas a determinados socios so porque são das claques, então eu digo desde já que é uma autentica vergonha.

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  14. Realmente, tendo em conta as benesses de que já usufruem, haver a hipótese de anualmente ser facultado um preço de quota mais baixo aos componentes da claque, parece-me um acto de má gestão.
    Mas, como não sabia da realização da Assembleia Geral, não estive presente e portanto tenho que assumir a decisão de quem lá esteve. Aqui comungo da sua opinião sobre a divulgação destes actos da vida do Clube.

    Permita-me só uma correcção no texto onde refere os "outros premiados":
    "os aposentados com 30 anos de filiação podem ficar isentos de quotas"
    Para lá do pequeno pormenor que com o termo "aposentados" (que, confesso, não gosto) serem normalmente conotados os trabalhadores da função pública acho que seria mais correcto mencionar reformados, mas adiante!
    Aliás, neste capítulo, a SAD e o Clube, usam uma designação (reformados ou aposentados) comum a outras entidades, para alardearem alguns benefícios que não correspondem à realidade.
    Eis aqui portanto razão deste meu comentário! Eu sou reformado e não beneficio de "prémio" algum.

    A forma mais correcta e transparente de nomear aqueles "premiados", seria a seguinte:
    Sócios que atingiram a idade oficial da reforma (actualmente 66 anos)
    Porque, esses sim, beneficiam de isenção da quota.

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