O jornal Record é por estes dias uma espécie de pronto-socorro
para algumas instâncias do futebol português. Foi por exemplo o único jornal a avançar com a notícia de que a Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga abriu um inquérito para investigar a Liga Aliança (alguns posts sobre o tema aqui). Duas semanas depois, alguém voltou a ouvir algo sobre isso? E se não fosse o Record, ouvir-se-ia algo sobre isso? E vai voltar-se a ouvir algo até ao fim do Campeonato, altura em que devem anunciar a brilhante decisão de arquivar o processo?
Lavar as mãos |
E agora o Record até serve para o presidente do Conselho de Arbitragem, que tanto tempo andou calado, ter duas páginas inteirinhas para escrever o que quiser. Repare-se que não foi sequer uma entrevista. Será que foi para fazer um balanço das arbitragens do campeonato? Ah não, isso só foi feito uma vez. Em 2010-11, época em que o Benfica ficou a 21 pontos do campeão, mas à 5ª jornada estava repleto de queixas. O responsável pela arbitragem prometia fazer um balanço a cada 5 jornadas. Tendo em conta que na 10ª jornada o Benfica levou 5 no Dragão e ficou a 10 pontos da liderança, subitamente todos acharam que não valia a pena dar mais conferências.
Então para que aproveitou Vítor Pereira o seu espacinho no Record? Para sacudir culpas. Para responder indirectamente ao presidente do FC Porto. Para dar provas de que o próprio Vítor Pereira, querendo justificar que o sistema de nomeações de árbitros tem lógica, acaba por dar um argumento que diz precisamente o contrário.
Atentos ao sistema de nomeações já aqui analisado. Diz o sr. Vítor Pereira que as nomeações têm em consideração a «graduação de Normal, Médio e Difícil» quanto à dificuldade de cada jogo, tendo sempre em conta «a classificação, a rivalidade e factores recentemente ocorridos». E diz que para os jogos de «dificuldade acrescida» devem ser nomeados «árbitros internacionais ou classificados até ao 12º lugar da época anterior».
Meus senhores, que tipo de dificuldade devemos atribuir a um jogo entre: 1) os líderes do campeonato, invictos; 2) dois históricos da primeira liga; 3) num estádio reconhecidamente como um dos mais hostis do campeonato português e com uma das massas adeptas mais fervorosas; 4) numa jornada seguinte a um derby onde 2 dos 3 grandes do futebol português perderam pontos? Normal, médio ou difícil? Muito simples: o Guimarães x FC Porto da 4ª jornada era um jogo de alta dificuldade.
Então o que faz o Conselho de Arbitragem? Nomeia o 15º árbitro do ranking da época anterior. Onde está o critério e lógica nisto, sr. Vítor Pereira? Pinto da Costa só teve razão nas suas declarações e o presidente do CA mostrou a incapacidade de responder à altura e encontrar uma justificação. Duas páginas completas e nem uma linha serve de argumentação.
Mais, Vítor Pereira realça que os clássicos foram todos apitados por árbitros interacionais. Isto é a mesma coisa que uma companhia aérea se gabar por os seus aviões voarem: não é algo que mereça destaque porque é mais que lógico e obrigatório que assim o seja. Os árbitros internacionais têm que apitar os clássicos, porque os internacionais são os melhores (e vai ser esse o argumento quando Duarte Gomes for chamado)... Ah, esperem, já não é assim. Não é assim a partir do momento que árbitros que nunca apitaram os 3 grandes são, com 1 ou 2 jogos de primeira liga, promovidos a internacionais. Ora o que é que o sr. Vítor Pereira diz sobre esta questão? Nada. Duas páginas inteirinhas no Record, só para ele, e nem uma palavra sobre isto.
O incendiário a queixar-se do escaldão |
Os critérios e a legitimidade do Conselho de Arbitragem estão feridos de morte. Não há coerência, rigor ou lógica em várias nomeações e nas promoções a árbitros internacionais. Vítor Pereira preocupou-se não em avaliar e identificar o que de mal tem sido feito, mas sim em lavar as mãos, escudando-se em regulamentos que nem sequer segue. Um exemplo de uma personagem do futebol que está mais preocupado em defender o seu cargo do que a integridade e transparência da competição pela qual devia lutar. A vergonha não se vende nas farmácias, mas é um sentimento que muitos não deviam hesitar em abraçar.
Dito isto, vamos às palavras de João Gabriel Jorge Jesus, que com a ironia dos pobres preocupou-se que pudessem achar que o Benfica foi beneficiado por ter jogado contra 10 em Arouca. Esta estratégia de querer tapar o sol com a peneira tem a sua piada, mas acima de tudo dá pena.
O Benfica até podia acabar todos os jogos a jogar contra 7. Isso não significa que foi beneficiado. Por isso insiste-se que andar a contar todas as expulsões só faz com que se perca a razão na hora de argumentar. O que interessa não é o número de expulsões, mas sim se os lances foram bem ou mal ajuizados.
O jornal As seguiu a sua linha editorial e voltou a dizer que o campeonato português está comprometido pelas arbitragens (se calhar agora o director de comunicação do Benfica vai tentar escrever na Marca). É bom ver a imprensa estrangeira retratar aquilo que é abafado em Portugal. Mas o As dá o mais disparatado dos argumentos: «O dado mais evidente é que o Benfica já recebeu 9 expulsões a favor em 23 jogos». Mas o que interessa se foram 9, 19 ou 90? Isso não quer dizer nada. Importante é perceber quantas expulsões foram bem ou mal mostradas, e ver se há um critério que seja seguido em Portugal. E o que se vê? Discrepância de critério. O árbitro Vasco Santos expulsa (no meu entender bem) Hugo Basto quando Lima se ia isolar, ainda fora da grande área. E num recente FC Porto x Paços, num lance já dentro da grande área, Hélder Lopes só vê amarelo. Cada árbitro tem o seu critério, certo, mas as diretrizes do CA são iguais para todos. Se não são, é apenas mais um falhanço no consulado de Vítor Pereira.
Hoje o Benfica até foi prejudicado, e em mais do que um lance, e teve o mérito de evitar que pela primeira vez perdesse pontos por erros de arbitragens (contra este Arouca não era de esperar outra coisa). Mas foi a história de um jogo. Uma história que não muda nada em relação às 23 jornadas restantes.
Por muito que Jorge Jesus queira queixar-se que lhe romperam o casaco, a verdade é que o Benfica e agentes desportivos como o sr. Vítor Pereira já despiram a verdade desportiva desta época. E depois disto tudo, nós, FC Porto, continuamos na luta, de pé, e terça-feira voltaremos a mostrar porque é que continuamos na Liga dos Campeões. É que na Champions não há quem nos fure os pneus, nem quem leve outros a reboque. Uma brisa de 87 no ar.
Não sei até que ponto vale a pena continuar com esta discussão das arbitragens o mal está feito e está visto que andamos a pregar aos peixes.
ResponderEliminarEdit: Era o Lima que se ia a isolar e não o Gaitán.
É bom que se esclareça que não andamos a dormir nem comemos gelados com a testa!
ResponderEliminarEles assim fica m a saber que ainda estão a vir e nós já estamos a ir.....
Muito bom "post"
Há mais exemplos que contradizem o Vítor Pereira.
ResponderEliminarO porto vai a Moreira de Cónegos e tem um internacional (xistra), o benfica vai lá e leva com um badocha de fafe (jorge ferreira). O mesmo em Penafiel, Arouca... Mesmo não sendo, à priori, jogos de dificuldade acrescida, nós levamos com árbitros com a carreira consolidada, outros com árbitros que lutam para a não descer. E mais: o historial dos nomeados, por exemplo, o Paixão, sabendo no que dá sempre que arbitra o seu clube, esteve em dois jogos fora complicados (nacional e paços).
Não vale a pena o chefe dos apitos refugiar-se nos regulamentos e estatísticas, quando as nomeações que faz traduzem um proteccionismo evidente ao clube que lidera o campeonato.
Esqueci-me... Levar com o Duarte Gomes no clássico é o mesmo que lá porem um paixão mais soft...
ResponderEliminarUma brisa de 87? Lol
ResponderEliminarEra bom era. Mas praticamente impossível..
Caro tribunal do dragão, sou um leitor assíduo do teu blogue e partilho de muitas das tuas opiniões. Seria interessante fazeres uma análise ao facto de tanto o Benfica como o Sporting esta temporada já terem jogado aos fins de semana à tarde e o FC Porto nunca. Afinal será assim tão má a Olivedesportos para o Benfica e Sporting? É que sinceramente nunca entendi o ataque feroz do Benfica à Olivedesportos quando sempre tivera excelentes relações com Joaquim Oliveira, pareceu-me sempre que se tratou de um "bode expiatório" para desvalorizar as vitórias do FC Porto, afinal de contas, a SportTV permite que o Benfica encha o estádio do Arouca às 16h00 de Domingo, não sei se com o jogo às 20h15 tal seria possível.
ResponderEliminarPenso que Vítor Pereira já deve sentir o seu lugar em risco.
ResponderEliminarAfastou gradualmente Proença numa fase em que sentia que este pudesse estar algo queimado perante os grandes, mas afinal findada a carreira do árbitro, todos lhe reconheceram competência, receberam-no em suas casas e até houve direito a homenagens.
Depois de mais uma época desastrosa do CA e com uma alternativa viável em campo, o que quer que aconteça até ao final da época, é necessário pressionar a FPF de forma a limpar aquela corja.
Não sou contra o sorteio de árbitros, desde que este cumpra com algumas restrições e não seja, como foi anteriormente, uma selva onde os piores árbitros podiam ser sorteados para os jogos mais díficeis. Que sejam respeitadas as categorias e os graus de dificuldade.
Entretanto, mais uma capelada ontem.
AA
Caro Td, o que sabe sobre uma conversa "especial" ao intervalo dum dirigente benfiquista com o Gr do Arouca?
ResponderEliminarDepois da reunião com o Presidente do Belenenses devido a Deyverson e Miguel Rosa...
Estão a fazer tudo mas tudo para garantirem o Bi...
O silêncio da Sad do Fcp...é que me entristece!
Clássico do futebol português: se um guarda-redes comete erros na segunda parte, é porque foi comprado ao intervalo.
EliminarO Goicoechea dar frangos não é assim tão anormal. Se fosse não tinha saído da Roma. Ou saindo da Roma não vinha para o Arouca (com todo o respeito). É como anunciarem em Setúbal que contrataram o GR do Bayern de Munique e o jovem alemão afinal vê-se grego (lol) para sequer ser titular. Não há almoços grátis :)
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